domingo, 19 de julho de 2015

Corpo de Dor e Presença

Corpo de dor e Presença
“As coisas são como são até que a gente comece a transformá-las.” Autor desconheciedo
“Quando perdes contato com tua quietude, perde contato contigo mesmo, Quando perdes contato contigo mesmo, tu te perdes do mundo.” Eckart Tolle
            Presença tem sido uma coisa rara de se alcançar no mundo de hoje. Não basta estar presente fisicamente, cumprindo um compromisso, batendo um ponto. Presença é muito mais do que isso. É estar de corpo e alma sentindo o momento presente, sem preocupações futuras ou pesos do passado. É um estado de ser, um ponto zero sem contaminações emocionais que nos leva a um estado de paz.
            Crianças são mestres em nos ensinar este estado de ser fluido assim como pessoas que trabalham seu auto-conhecimento, tem consciência de si, estão despertas e plenas. Difícil mas não impossível de se encontrar. Essas pessoas inspiram outras a estarem em sua verdadeira essência, a serem essencialmente verdade.
Mas o que mais encontramos são pessoas estressadas, irritadas, com pressa, insatisfeitas, que reclamam o tempo todo, negativas, distantes de sua verdadeira essência. Tenho visto nas redes sociais conselhos para se afastarem de pessoas negativas, como se estas fossem o capeta capazes de fazer o mal só porque não estão bem consigo mesmas.
Então teremos que nos afastar e nos isolar de muita gente e viveremos assim cada vez mais distantes uns dos outros. Não poderemos desabafar, pois estaremos falando coisas negativas. Conheço pessoas espiritualizadas que temem estar perto de pessoas negativas. Que espiritualidade é essa que dá as costas a quem mais precisa de ajuda?
Como se julgasse ser melhor do que o outro, e nunca tivesse um momento difícil em sua vida. Como se só o belo e o agradável fossem dignos de atenção. O dia em que pararmos para estarmos presentes para o outro que necessita de ajuda, viveremos muito melhor.
Às vezes tudo o que uma pessoa que reclama precisa é de amor e atenção. A reclamação acontece porque a pessoa está lotada de pensamentos e sentimentos negativos. É uma depressão disfarçada. Situações mal resolvidas no passado, frustrações e muitas vezes uma auto-cobrança e auto-crítica que não a permitem estar satisfeitas consigo mesmas.
Eckart Tolle, autor do Poder do Agora, chama de corpo de dor ao campo energético que existe em volta das pessoas fruto do acúmulo de dores emocionais antigas. Então é como um ímã, esse corpo de dor atrai somente pensamentos e sentimentos que estão em sua vibração. Por baixo dele existe o medo de sofrer novamente e uma vontade de controlar os acontecimentos. Uma pessoa que não consegue relaxar, fica doente emocionalmente, além de ter seu corpo contraído e emoções somatizadas causando dores e doenças.
O stress muitas vezes vem de um estado psíquico, não somente pelo acúmulo de tarefas e a corrida contra o tempo. Mas de uma pressão interna em fazer a coisa certa, em se sentir aceito, em evitar problemas, em se proteger. Pais de primeira viagem com filhos recém nascidos passam por um momento de paranóia, tentando pensar em tudo de ruim que pode acontecer com sua cria, para poder protegê-la. Depois com o tempo essa paranoia vai passando e os pais relaxando. Mas tem gente que passa a vida toda criando em sua mente tudo o de ruim que pode acontecer para proteger seus entes queridos, faz parte de seu corpo de dor.
Pessoas assim estressam não somente a si próprias como quem está em volta e precisam de ajuda para sair disso. O primeiro passo é tomar consciência que estão mal. Aquelas pessoas que estão mal, mas se consideram ótimas estão fechadas a receber a ajuda necessária. São pessoas que não se responsabilizam por seus estados emocionais. Estão sempre culpando outras pessoas ou acontecimentos, colocando-se como vítimas.
Há uma negação tão grande, seu corpo de dor está tão profundamente arraigado que realmente é muito difícil ou quase impossível uma mudança. Pessoas com mais idade que passaram a vida toda dentro dessa estrutura, quando fazem terapia, vão mais para desabafar. Psicoterapeutas por mais que percebam essa dinâmica precisam respeitar os limites de cada um. Por mais frustrante que possa parecer, acompanhar seus pequenos avanços é o melhor a ser feito. O respeito e o amor pelos limites de cada um, dando uma atenção que talvez a pessoa nunca tenha tido.
Um caminho de auto-conhecimento pode ser impulsionado por um amigo, por uma leitura, uma palestra, um filme. Quem já está realmente disposto a ter um avanço, um salto de consciência, a quebrar padrões enrijecidos, e acredita que a felicidade é uma possibilidade real, precisa entrar na humildade. Focar não na perfeição, pois esse é um ideal impossível, mas na integração. Um caminho de auto-conhecimento e cura é para a vida toda. Expandir a consciência é sempre uma possibilidade quando existe essa intenção genuína.  Reconhecer seu corpo de dor é o primeiro passo para se separar dele e não deixá-lo mais dominar sua vida. Enquanto está inconsciente, ele fica autônomo, fazendo o que quer, quase como um outro ser dominando sua vida. Trazer para a consciência é começar a dominá-lo e transformá-lo num corpo de maior presença.
Quando estamos presentes plenamente a vida flui. E não é estar equilibrado o tempo todo, sempre em paz, porque  se pararmos, enrijecemos e morremos. Momentos bons e difíceis todos temos, estar atento às emoções vindas dos pensamentos é que faz a diferença. Também podemos observar e escolher  alguns pensamentos que vem em nossas cabeças pois podem ser repetições dos pais, dos avós, da sociedade, como uma programação. Escolher o que pensar e sentir é estar desperto e presente independente  da situação vivida. É estar livre para viver o que a vida nos traz.
PS : Dedico este artigo a Kelly Van Raalte pela sua presença inspiradora em minha vida, pelas experiências que transcendem as palavras, pelos compartilhares mútuos que nos movem a sermos pessoas melhores e divinamente humanas!
Sílvia –psicóloga transpessoal formada pela UERJ (crp:05/21756), especialista em Psicologia junguiana, Arteterapeuta e Cosnteladora Familiar Sistêmica