sábado, 14 de fevereiro de 2015

Valores Vitais


Valores Vitais

“Somente após a última árvore ser cortada, o último rio ser envenenado, o último peixe ser pescado...Somente então o homem descobrirá que o dinheiro não pode ser comido.”- Provérbio Cree.

Estamos vivendo uma das maiores crises de falta de abastecimento de água no Brasil, um país com um dos maiores recursos hídricos do mundo. Não era para faltar. O ser humano tem criado sua própria rede de não sustentabilidade no planeta por sua visão obtusa da realidade e falta de pensamento sistêmico. Poluímos as águas, alimentos são envenenados ou alterados em seu DNA (transgênicos) sem considerar o impacto ambiental ou as consequências em nosso organismo, visando a alta produtividade. Estamos nos poluindo, nos envenenando e adoecendo.

Remédios são receitados a rodo sem considerar seus efeitos colaterais a longo prazo, de dependência, quando poderia se conseguir uma cura através de uma boa alimentação e mudança no estilo de vida. Dinheiro público é desviado descaradamente deixando o povo sem assistência causando mortes, famílias sem moradia, sem dignidade. Corrupção é crime hediondo já que deixa o povo morrer de fome, aumenta a violência e não assiste à saúde.

O ser humano civilizado se retirou do ciclo natural da vida. Sua relação com a vida não tem sido de amor e carece de sentido. A ganância por poder e dinheiro, o Ter em detrimento do Ser é o que tem mais se manifestado. O que guia esses comportamentos são os valores que aprendemos desde cedo em família e na escola. Ainda assim podemos escolher o que queremos e por isso precisamos sempre refletir a cerca do que nos move, mesmo que seja diferente da maioria.

Mudando um pouco o cenário. Aldeias indígenas, floresta amazônica, fui recebida com festa, com dança, com som de taboca, com fartura de alimentos. Uma indígena me puxou pelo braço depois de eu comer aqueles alimentos fresquinhos e me levou pra rede. Tava cansada da viagem de canoa. Fiquei bastante agradecida com tanta hospitalidade e generosidade. Ganhei muitos presentes. Quis retribuir, então deixei tudo o que tinha levado de comida na roda do almoço. “Bora dividir?” falou um deles, “Bora dividir”, respondi. Troquei meu relógio por artesanato. Quem precisa ver hora na floresta? Fiquei vendo a posição do sol e sentindo meu estômago para saber mais ou menos a hora. Desapegar-me do relógio me fez relaxar bastante, e aquela pressão da pressa que vivemos se foi. Quanto mais ia adentrando a floresta, mais ia deixando a cidade e seus valores para trás.

 Segui viagem de canoa, a aldeia que ia parar ficava ainda dois dias de viagem. E agora?  Tinha dado todo meu estoque de biscoitos, frutas secas, não tinha mais comida. Ia passar fome! O pajé do meu lado falou: sentir um pouco de fome, fortalece! Não foi o que aconteceu, quando ia começar a sentir, uma árvore carregada de goiabas apareceu. Saltamos e devoramos as goiabas, mais pra frente, bananeiras, amendoim, mais casas com fartura de alimentos, água límpida dos igarapés. Quando a natureza está intacta, ela provê. Na próxima aldeia que paramos, tinha pego bastante sol na viagem, então um pajé cantou e chamou a chuva, num instante o céu se encheu de nuvens e fez chover.  Refrescou. Eu vi com os meus próprios olhos e não foi só uma vez.

Fui apresentada à farmácia indígena, vários canteiros de ervas cuidados pelos pajés. Testemunhei a vida em comunidade e a consciência ambiental. Quando alguém pescava muito, dividia com outros e assim ninguém ficava sem. Conversei com um caçador que me contou que não podia caçar sempre no mesmo lugar, pois era preciso deixar os animais procriarem e ainda era preciso sentir qual animal estava se oferecendo em sacrifício para ser caçado e alimentar o povo. Cantos diversos eram entoados em vários momentos. Os cantos são as orações indígenas. Cantavam em agradecimento ao alimento, ao algodão quando iam colher para fazer linha e tecer. Cantavam para água, para o sol e toda a natureza e ser vivente. Cantavam para o que é vivo, para a vida. Numa postura de humildade e reverência, com a consciência de fazer parte de um Todo Maior. A espiritualidade aí como consciência da totalidade e da interconexão.

É claro que não só de amor e alegria vivem quem vive na natureza. Testemunhei uma morte de uma mulher grávida que não teve como levá-la rio a baixo para o hospital do município mais próximo. Hoje temos muitos recursos na medicina mas também quando esta é acessível ao povo. Na floresta, quando o rio está baixo é difícil navegar. Na cidade o acesso é difícil por outros motivos.

O indígena é ser humano como todos e tem seus desafios de vida como qualquer um, erros e dificuldades. A cultura indígena quando preservada pode nos ensinar a retornar a esse valor humano e ecológico cuja dimensão nada mais é do que estar vivo.

O que eu quis trazer aqui foi o que faz um indígena ter essa capacidade de dialogar com a natureza, por exemplo chamando a chuva? O que percebi é que ele não se coloca separado da natureza, ele é natureza. Como nós também, mas nos esquecemos disso. O alimento natural que ele ingere, o poder confiar que o irmão não vai deixá-lo na mão e que ele não está sozinho, isso faz com que  a qualidade de vida que ele tem seja superior e dinheiro nenhum compra.

Isso pode ser ensinado nas escolas desde cedo para nossas crianças. Enquanto valores como competitividade, poder, materialismo estiver sendo incentivado, continuaremos nos afundando. Não adianta as crianças se prepararem para terem uma profissão de sucesso se não saberemos por mais quanto tempo teremos um planeta para viver.

O que faz escolhermos os melhores valores, se chama consciência. E quando junto a ela se soma a capacidade de agir, podemos mudar.

Sílvia Rocha

 

 

 

 

 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Roda de Cura, roda da vida


Roda de cura, roda da vida

A roda roda, o mundo gira...

 

                A Psicologia transpessoal faz associações do que há de mais atual na ciência com o que há de mais antigo na humanidade em termos de tradições de conhecimento. No estudo e prática do Xamanismo, primeiro sistema de cura da Humanidade realizada por Xamãs ( Pajés aqui no Brasil) ao redor de todo o mundo,  encontramos associações com a Psicologia. Alguns dizem, segundo Robin Grass que o Xamanismo “é a mais antiga forma de cura do planeta, datando de aproximadamente 3000 anos. Tem sido encontrada em muitas culturas indígenas na América do norte e do sul, Austrália, Nova Zelândia, Noroeste e sul da Ásia, leste e norte da Europa e África. As técnicas usadas ultrapassaram o teste do tempo e são incrivelmente similares ao redor do mundo, apesar das diferenças culturais e geográficas dentre aqueles que praticam esta modalidade de cura.”

 Um dos exemplos desse encontro de práticas antigas com a psicologia moderna, é o do Mito da Roda de Cura dos povos nativos norte americanos. Para Mircea Eliade, o mito é real, é uma história sagrada portanto, verdadeira pois aponta para realidades. O mito é uma narrativa que concerne a um povo, um grupo cultural e que norteia e transforma a condição humana. Diferente de contos e fábulas que servem para entreter, os mitos ensinam as histórias primordiais e organizam uma sociedade. Os simbolismos contidos no mito nos dão pistas de como enxergar uma saída para desafios da vida.

Na roda de cura, podemos visualizar um “X” separando em 4 quadrantes iguais o círculo. Cada parte deste “X” corresponde a um ponto cardeal. A parte Leste da roda está relacionada a novos começos, o sol nasce no leste e com ele a iluminação de um novo dia. A estação do ano correspondente é a primavera e o simbolismo do florescimento e nascimento. É como se tivéssemos nascendo nessa direção da roda, ainda crianças desvelando o mundo com o olhar da novidade. A cor é a amarela que nos lembra a luz dourada do sol e o fogo criador. Segundo a anciã do Povo Ojibwe Lilian Pitawanakwat, “cada um de nós carrega um fogo dentro. Seja através do conhecimento que temos, ou através de nossas experiências ou associações, somos responsáveis por manter esse fogo aceso. E como uma criança, quando meu pai ou mãe  diriam, no final do dia – minha filha como está queimando seu fogo hoje?   Isso me faz pensar em como passei meu dia – Se fui ofensiva com alguém, ou se alguém me ofendeu. Essa reflexão tem muito a ver em como nutro meu fogo interior. Então somos ensinados desde muito novos em deixar qualquer distração do dia e fazer as pazes conosco, então podemos nutrir e manter nosso fogo.”

Esse fogo também nos lembra de nossa parte espiritual, a centelha divina que somos. O animal correspondente é a águia que voa mais alto e possui visão de cima. Ela nos ensina a nos distanciar das questões para ver de outro ângulo, menos envolvido e emocionado e com mais intuição. Podemos intuir uma visão e missão de vida e traçar um “plano de vôo.”

Na direção sul da roda de cura, encontramos o jovem guerreiro cujo desafio são suas próprias águas de suas emoções. Ter auto-domínio, saber fazer suas escolhas, reconhecer sua identidade e individualidade. Em pleno verão, o sol a pino, o vigor e capacidades do jovem podem ficar obscurecidos se ele não se atentar a equilibrar suas polaridades. O coiote, trapaceiro e brincalhão é o animal desta direção, que vem dar uma rasteira a quem está sério demais. Aprender a rir de si mesmo e de suas quedas é a maior lição. Desenvolver projetos de vida, sustentar os sonhos. A cor dessa direção é a vermelha da realização.

Na direção oeste é a meia idade e seus conflitos, alternando entre maturidade e crise. É o sol se pondo, é a caverna do urso. Em oposição a luz do leste, o oeste nos convida a um mergulho em nosso interior, a uma introvisão. Nessa fase podemos refletir sobre tudo o que realizamos e o que não foi realizado. É possível abraçar as sombras e lamber as feridas. A cor é o preto e o elemento é a terra que nos convida ao silêncio e à meditação. A estação o outono, tempo de liberar as folhas secas, o que está velho e desgastado, de cuidar do corpo.

Na direção norte, encontramos não só a sabedoria da velhice, mas as heranças dos ancestrais.  Em oposição ao sul, o norte nos lembra do coletivo e da importância da comunidade em nossas vidas. O animal é o búfalo, símbolo da abundância e prosperidade.  E a cor é o branco do inverno. É o tempo de nos lembrar das bênçãos e presentes que recebemos ao longo da vida, de contar histórias e compartilhar memórias, ventos e pensamentos. E sobretudo, agradecer.

A roda de cura nos lembra em viver em harmonia com os quatro tempos, os quatro elementos. Importante é pensar em nossas vidas sob os aspectos espiritual, emocional, físico e mental.  Podemos estar em qualquer ponto da roda em qualquer idade. Por mais que estejamos no verão podemos estar na caverna, hibernando como o urso, meditando a espera de um novo momento. Podemos viver as quatro direções num mesmo dia. Pode ser  um guia psicológico útil para nossa jornada na vida.
Sílvia Rocha

Vínculos Invisiveis


Vínculos Invisíveis

“Enquanto trabalhava em minha árvore genealógica, compreendi a estranha comunhão de destinos que me ligava aos meus antepassados. Tenho a forte impressão de estar sob a influência de coisas e problemas que foram deixados incompletos e sem resposta por parte de meus pais, meus avós e outros antepassados.” C. G. Jung

 

                Um casal já havia se casado há anos, mas não moravam juntos. O homem só arrumava trabalho em outro estado, o que o tirava de sua convivência familiar. Sempre que era questionado sobre procurar um trabalho na mesma cidade que sua mulher, este dizia que não existia e que não adiantava procurar. Aconteceu na infância desse homem, uma doença na família. Seu pai teve uma tuberculose grave fazendo-o ficar internado e sem possibilidade de contato com sua mulher e filhos sob risco de contágios. 

                Uma mulher talentosa por mais que trabalhasse, não conseguia ver a cor do dinheiro. Se estivesse próxima ao sucesso arrumava um jeito de se boicotar e perdia tudo que conquistara. Num exame de sua ancestralidade contou que duas avós haviam sido escravizadas, com perda de sua liberdade, sem receber qualquer remuneração ou reconhecimento por seu trabalho.

                Um homem com dificuldades de falar em público, perdeu seu avô que era militar, quando este ensinava seus alunos a desarmar uma bomba. Teve seu pescoço destroçado.

                Uma moça que não conseguia se aproximar de sua filha que morava com o pai, em sua infância passou anos morando em outro estado na casa dos avós, longe de sua mãe devido a problemas financeiros de sua mãe.

                Um rapaz que sempre se metia em confusão e brigas, sentia-se indignado com desejos de vingança e sem saber o porquê, teve em sua ancestralidade, parentes mortos em campos de concentração nazista.

                Uma mulher que queria se casar, mas não conseguia, levantou em sua pesquisa biográfica 3 tias que morreram solteiras.

                Vínculos invisíveis são exemplificados nessas historias acima.  Comportamentos e até sentimentos que se repetem inconscientemente como forma de lealdade ao sistema familiar a que pertence. Assuntos pendentes, questões que não foram resolvidas, pessoas que foram excluídas ou não foram homenageadas ou honradas devidamente acabam influenciando as gerações seguintes.

                Os povos nativos já sabiam disso e acrescentam que sete gerações antecessoras nos influenciam e nós iremos influenciar sete seguintes. O biólogo inglês Rupert Sheldrake, estudou esse campo dotado de saber e o nomeou campos mórficos. Trata-se de uma totalidade abrangente, um campo perceptual disponível, mas muitas vezes inconsciente. “Toda estrutura, seja uma organização, um organismo ou um sistema vive num campo mórfico que atua como uma memória onde estão armazenadas todas as informações importantes do sistema. Portanto, todos os elementos individuais como partes do todo estão em ressonância com o todo. Cada parte dessa estrutura, portanto, cada membro desse sistema ou cada indivíduo de uma organização participa do conhecimento sobre o todo e de todos os acontecimentos importantes. Nesse sentido, a memória não é observada como uma função ou uma conquista pessoal de nosso cérebro, mas como um “campo de memória”, no qual nos movimentamos como um rádio, no meio das ondas radiofônicas. (FRANKE)

                Sheldrake diz que é mais fácil perceber a existência desse campo, quando sentimos que alguém está nos olhando por trás e então nos viramos para olhar na mesma hora. Estamos mergulhados em campos de energia que se comunicam através de ressonância, a que ele chamou de ressonância mórfica, assim informações podem ser veiculadas entre campos para além do espaço e do tempo como ondas de um celular.

                                Na terapia familiar sistêmica, pode-se acessar esses campos através de técnicas terapêuticas como a constelação familiar sistêmica criada pelo alemão Bert Hellinger. Num trabalho de grupo colocam-se pessoas para representar os parentes do cliente. “É surpreendente como os representantes conectam-se com este campo de força trazendo o conhecimento e a realidade da família sem nem ao menos terem algum conhecimento prévio da família. Alguns representantes chegam a sentir sintomas físicos da pessoa que está representando.” (Hellinger)

                Quando esses vínculos invisíveis tornam-se claros, é possível transformar a homenagem inconsciente feita através da repetição de padrão comportamental em homenagem mais consciente, sendo assim desnecessário continuar com aquele comportamento, libertando e possibilitando novas escolhas de vida. É interessante como pessoas que possuem valores éticos acabam por serem impelidas a cometerem ações contra esses valores, movidas por uma carga energética de seus antepassados. Hellinger costuma falar que “em família de ladrão, quem não rouba se sente culpado”. E para se sentir pertencendo ao sistema familiar precisa repetí-lo. Outras pessoas acabam por trair seus parceiros para homenagear ancestrais que fizeram o mesmo.  É muito forte o magnetismo do campo familiar. Nas culturas nativas e também na cultura oriental é comum fazer reverência e homenagens aos ancestrais. São deles que vem a força de vida.

Para reestruturar um sistema que está com esses emaranhamentos e repetições, Hellinger criou frases e gestos-rituais para poder a pessoa “se soltar” desses vínculos invisíveis. Todas elas em síntese remetem à gratidão pela vida dada pelos ancestrais e em gestos como se curvar com muito respeito e em homenagem.

                Pequenos gestos que promovem uma cura, uma reconciliação entre pessoas da família e libertam descendentes de repetirem destinos difíceis. Reverenciar ancestrais nos permite perceber que a vida vem de muito longe e o quanto ela é querida e sagrada, merece ser bem vivida e se fazer algo de bom, enquanto estiver em nossas mãos.

Sílvia Rocha – Psicóloga Transpessoal Junguiana, crp:05/21756

Arteterapeuta e consteladora familiar sistêmica



 

               

Para que seja realmente novo!


Para que seja realmente novo!

“O fruto já está dentro da semente”- Sabedoria Kahuna

                Um ano começa e junto dele um frescor de novidade. Quem não quer mudanças positivas? Que tudo que está difícil se conserte e tudo que está velho se renove?  O novo só vem se você realmente se abrir para ele. Se você está pesado com bagagens do passado não vai ter espaço para receber o novo, você não vai nem conseguir enxergar o novo quando ele aparecer.

                Ano novo tem essa magia, nos faz acreditar, renova a fé, tão essencial para movermos nossas vidas em direção ao que queremos. A fé, cria, a crença promove.  E a melhor crença que podemos ter é a do merecimento.  Esta abre o caminho para recebermos exatamente o que queremos, mas que algumas vezes nos boicotamos. Esse auto-boicote normalmente vem de culpas de “erros” do passado. A vida proporciona uma série de lições a serem aprendidas. Julgamos o tempo todo, as situações vividas, mas podemos sempre ampliar nossas percepções. Um relacionamento difícil e sofrido pode ter sido necessário para se valorizar o próximo mais sereno e pacífico. Perder dinheiro num negócio pode gerar o conhecimento necessário para outro excelente no futuro. E daí por diante.

Se você plantar maçã vai colher maçã, não vai colher abacaxi. Importante saber plantar bem seu sonho. Plantar e cuidar. Existe um caminho a ser trilhado. No dia de hoje, ano começando, você pode apenas visualizar o caminho a ser percorrido rumo a um resultado desejado. Você é o guardião deste caminho, o mantenedor do seu propósito. Você e mais ninguém. Esse caminho não é linear, a vida não vem em linhas retas. Podemos pensar numa espiral ascendente onde cada queda, tropeço pode servir de novo recomeço para seguir avante. Livre-se de sentimentos de injustiça. Você está exatamente onde tem que estar, onde precisa aprender, caso contrário já teria saído dessa situação. Esse sentimento de vítima não combina bem com quem quer criar uma vida nova.

O sofrimento é muitas vezes causado pelos pensamentos. Mudando pensamentos, você se livra de boa parte do sofrimento. Dificuldades no caminho acontecem para testar mais ainda sua vontade de vencer. As dificuldades podem aumentar muito de tamanho se você der poder a elas. Ou você pode fortalecer seus pensamentos de fé e nutrir bons sentimentos em função disso. O Ser Humano é feito de idéias que guiam a vida, e de escolhas sobre o que pensar e sentir.

Idéias são sementes que precisam ser nutridas e cuidadas para que cresçam saudavelmente. Se você tem um plano grandioso, o silêncio torna-se imprescindível. Como a semente cresce silenciosa e invisível embaixo da terra. Uma hora vai começar a aparecer, mas já vai ter raízes plantadas no solo. Não é o medo da inveja, essa também só vai ser nociva se você permitir dando força para ela. Uma idéia precisa se fortalecer dentro de cada um, criando um corpo de energia. E se você fala, essa energia vaza e se perde. O silêncio nutre o seu interior. O compartilhar é bem vindo na hora da colheita e durante o processo se a quem você compartilha te dará forças.

Sentimentos negativos podem ser ervas daninhas nesse jardim. É bom fazer essa limpeza sempre, buscando transformar raivas, tristezas e medos em amor, alegria, harmonia. Não é negar as emoções, mas não deixá-las que assumam as rédeas da vida. Expressá-las na medida em que acontecem e retomar o centro. Existe um centro em cada um de nós, estar nele nos traz equilíbrio.

Dúvidas também enfraquecem seu desejo. A dúvida divide a energia, consome boa parte dela retirando-a do sonho. Viver intensamente a dúvida a faz diluí-la e dar lugar a certeza. É preciso legitimizá-la e resolvê-la. Dúvidas acontecem, o fingir que não existem é que é perigoso pois quando se menos esperar elas podem aparecer e enfraquecer.

Para criar o novo este ano, é preciso pintar um quadro novo, imagens com as cores que você deseja.  Essas cores expressam as emoções que você vai sentir quando tiver realizado e talvez você já possa convidar essas emoções a preencher você nesse instante pelo simples fato de você já ter visualizado a sua realização. Isso dá força para a sua concretização.

Tem gente que vive a vida apenas para sobrevivência. É possível pensar a vida em termos de realizações. Não se pode escapar do resultado de suas ações. Tudo o que se fizer terá uma consequência e isso depende unicamente de você.

Boa Semeadura! E Feliz 2015!

Sílvia Rocha – Psicóloga Transpessoal Junguiana, crp:05/21756

Arteterapeuta e consteladora familiar sistêmica


Espírito de Natal


Espírito de Natal

“A medida do amor é amar sem medida”- Santo Agostinho

“Amai uns aos outros.”- João 15:17

“Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” Lucas 12:34


                A palavra Natal significa nascimento, assim como falamos cidade-natal, para identificar onde uma pessoa nasceu. Natal passou a ser a celebração do nascimento de Jesus, este grande mestre do amor, que surgiu numa época em que matanças eram bastante comuns e a barbaridade tomava conta dos seres humanos.  Católicos ou não, hoje celebram esta data confraternizando com familiares, ceias, presentes. Algumas vezes pessoas que não se veem o ano todo acabam se encontrando para celebrar a união da família. Presentes são comprados para mostrar status. Pessoas se endividam para dar o que não podem a seus filhos. Consumismo, falsidade e arrogância podem tomar conta. Nem em todos os lares, mas pode acontecer em maior ou menor grau que esse espírito natalino seja confundido e situações contraditórias aconteçam.

                Vivemos numa sociedade ocidental cristã. Celebramos o nascimento de Jesus e com ele o renascimento de valores e para isso cabe relembrar o que ele veio nos trazer:

                Sempre humilde, Jesus chegava sem pompa e transmitia sabedoria. Sabedoria e humildade são irmãs. Aquele que fala muito e diz saber, é para se desconfiar. Porque quanto mais sabemos, mais sabemos que não sabemos. Arrogância traz uma falsa sensação de poder, e encobre na verdade uma insegurança. Como diz Leonardo Da Vinci: “A simplicidade é o último grau de sofisticação.” Eleva o espírito e nos desembaraça das complicações.

                Jesus sabia escutar e por isso conseguia compreender e ser próximo de qualquer um. Sabia se relacionar e construir pontes entre as pessoas. A cura começa quando uma pessoa se sente compreendida em suas dores. E ela começa a melhorar só de ser ouvida, pois se sente amparada. Vencer uma discussão, querer estar sempre certo, pode nos custar relacionamentos. Alcançar o outro significa compreendê-lo, abrir mão de suas próprias convicções para sentir o que o outro sente. É um exercício de empatia, despojar-se de si para deixar o outro entrar. Orgulho e egoísmo só distanciam.

                Servir ao outro é uma capacidade dos humildes e elevados de espírito. Segundo Mark Baker em seu livro: “Jesus o maior psicólogo que já existiu”: “a humildade é a força sob controle”. Não devemos confundir humildade com humilhação. Pois humilhação é se sentir por baixo, ser pisado, ser desconsiderado ou maltratado. Servir alguém é estar disponível para fazer um bem ao outro. Ajudar naquilo que o outro não pode fazer.  Servir vem de dentro, se for imposto já não é tão serviço assim.

Jesus veio para nos lembrar de uma conexão com Deus. Ele era a ponte que fazia esta ligação com Deus. O que as religiões deveriam fazer, pois a palavra religião significa “religare”. Até chegarmos ao ponto de sermos essa própria ligação com Deus. Pois não precisamos de nada entre nós e Deus. Essa conexão está aí em cada um, só precisamos nos lembrar disso. O papel das religiões é de facilitar essa conexão através de valores, ensinamentos, rituais. É um caminho e não a meta a ser alcançada. Quando regras e dogmas passam a ser mais importantes que as pessoas, esse caminho deixa de fazer sentido. Segundo Baker, “A imagem de Deus em nós é a nossa capacidade de nos relacionarmos.” Em outras palavras, a capacidade de nos amarmos tanto a si mesmos quanto aos outros. A moralidade só entra quando nos falta o amor. Só precisamos de regras quando não temos o amor para nos guiar, ele nos conduz à paz, à saúde, à bem aventurança.

Jesus também nos mostrou que para crescermos precisamos mudar crenças, pontos de vistas, abrir para novos pensamentos. Estamos sempre evoluindo. E para isso podemos aprender com o passado para não precisar repetí-lo. O arrependimento nada mais é do que uma mudança de idéia, um cair em si, uma ampliação da consciência. Desenvolvimento requer coragem e mesmo com medo podemos seguir de mãos dadas com ele, pois ele quando não fantasioso, nos cuida. Jesus também nos ensinou que precisamos de outras pessoas para alcançar uma conexão com Deus. O outro sempre nos revela coisas sobre nós mesmos que não conseguimos ver sozinhos.

“Pecado é afastar-se de Deus e dos outros”, segundo Baker.  Existe a culpa boa e a culpa ruim. A boa culpa nos motiva a reparar danos tanto em nós quanto nos relacionamentos e a má, a buscarmos auto-flagelação, quando vivemos nos boicotando por não nos acharmos merecedores. Precisamos perdoar, mas também aprender a nos perdoar. Isso nos engrandece e nos torna mais dignos. Talvez seja a ação mais difícil, porém muito necessária ao desenvolvimento espiritual e a paz de espírito. Não perdoar é uma cruz muito pesada para se carregar na vida.

Jesus veio antes de mais nada, nos ensinar a nos abrir ao amor.  Esse é o verdadeiro canal que nos liga a Deus e a todos os seres humanos. Uma vez escutei de um monge budista que religião é comunidade. Ou seja, é relacionamento, é saber viver junto. E o sentimento que nos une verdadeiramente é o amor. 

Que possamos nos lembrar o ano todo deste espírito natalino. A criança divina está em cada um de nós e ela pode renascer sempre! Feliz Natal!

Sílvia Rocha – Psicóloga Transpessoal junguiana (crp: 05/21756), Arteterapeuta, consteladora familiar sistêmica

Contato: silviaayani@gmail.com e blog: www.silviarenatarocha.blogspot.com.br