sexta-feira, 30 de maio de 2014

A Força da Gratidão


A Força da Gratidão

Diário de Teresópolis, 29 de maio de 2014
 

“Reconhecer as coisas boas que você já tem em sua vida é a fundação para toda Abundância.” Eckhart Tolle,

                Já parou para prestar atenção se você se sente realmente grato? É costume agradecer quando alguém presta um favor, é gentil, dá um presente ou ajuda de alguma forma, isso é algo que é ensinado pelos pais e professores na infância e que se tornou uma convenção. Mas será que é realmente sentido? Será que se percebe o bem que faz a si mesmo e ao outro, quando se é grato? Existe o agradecer por educação e o sentir realmente grato. Esse sentimento é passageiro, dura apenas aquele momento em que algo foi bom? Ou ele é um constante fluxo em sua vida?

Talvez estejamos acostumados a olhar para as faltas, para o que não deu certo, e reclamar seja o mais comum. Como disse no artigo da semana passada, o papel de vítima nos toma às vezes exigindo reparações, culpando o outro pelas insatisfações, trazendo lamúrias e lamentações.

Quantas pessoas felizes, encontramos no decorrer de nosso dia? Hoje mesmo conversando no trabalho me perguntaram num tom de questionamento, porque quis vir morar aqui em Teresópolis, como se viver aqui não fosse bom. E engraçado que quando vou ao Rio de Janeiro encontro pessoas que estão loucas para sair de lá e vir pra cá. Ser grato é estar em estado de graça, é ser feliz. Costumo perceber esse estado em pessoas espiritualizadas. A entrega a algo maior o leva a se conectar com o seu mais profundo ser, que sabe, que flui, que confia, o ser espiritual. E não importa onde morem, com os problemas que cada cidade possui, estão bem, porque seus mundos internos estão em paz. O caos pode estar reinando do lado de fora, mas dentro delas está tudo bem.

Aqui me refiro à espiritualidade que pode ser vivida com ou sem religião. Algumas religiões inclusive, perderam o real significado de seu nome “religare” que significa, religar-se com o espírito, e estão tão cheias de julgamentos que mais se afastam de uma consciência do Sagrado.  

Por outro lado, já ouvi julgamentos a respeito de pessoas espiritualizadas: “São alienadas”. “Como ser feliz quando o mundo está cheio de problemas, com as contradições, desigualdades, injustiças?” Realmente só um ser iluminado consegue não se abalar com tantas coisas difíceis de engolir. A espiritualidade leva a perceber o mundo com menos julgamentos, de uma condição mais ampla de realidade, percebendo mais conexões entre as partes de um Todo do que focar num acontecimento pontual. Como por exemplo, agradecer por situações não tão boas, mas que trouxeram bastante aprendizado, a ponto dessas lições trazerem mais felicidade no futuro. Por isso este pensamento mais amplo e sistêmico advindo da espiritualidade, permite a não resistência aos acontecimentos.

Não estou dizendo que seja fácil e que também não devemos nos indignar perante injustiças ou reclamar por algum direito. Importante pensar: “Há alguma coisa que eu possa fazer para mudar essa situação?” Se tiver, faça-o. E depois libera sua mente para outros assuntos. Lotar a mente de pensamentos e preocupações só vai trazer ansiedade e gastar sua energia. Em alguns momentos quem reclama e fica preso a este estado, acaba aumentando os problemas. A gratidão traz um estado de concordância com a vida que acaba por fazê-la fluir e as portas se abrirem.

Algumas pessoas agradecem por coisas que ainda não aconteceram, essa é a maior prova de fé que já encontrei. E porque acreditam acabam criando. Viver em gratidão também traz um sentimento de pertença ao presente, que é o momento poderoso em que podemos realmente criar. Viver no passado, traz nostalgia e às vezes depressão. Viver no futuro, ansiedade. Na dimensão do presente, a vida fica cooperativa. No aqui e agora ficamos inteiros de corpo e alma, manifestando todo nosso potencial criativo. Não tem nenhuma parte nossa que fica de fora ou dividida, como quando o corpo fica aqui e a cabeça no futuro ou no passado ou em outro lugar.

Normalmente se espera que tudo esteja bem para aí sim agradecer e ficar feliz. Quando eu me casar, quando eu acabar a faculdade, quando eu passar no concurso, quando eu trocar de emprego, quando a corrupção acabar e assim a felicidade fica protelada. Agradecer requer humildade para receber, honrar as conquistas, reconhecer o bem que o outro ou você mesmo fez e assim torna-lo digno de um merecimento. Ficar feliz com o que se tem pode  trazer mais paz,  prosperidade e caminhos abertos. Não custa experimentar!

Gratidão!

Sílvia Rocha – silviaayani@gmail.com

Blog: www.silvia.renata.rocha@blogspot.com.br

 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Poder das Vítimas




O Poder das Vítimas

Diário de Teresópolis, 22 de maio de 2014



“Onde reina o amor, não há vontade de poder, e onde domina o poder, falta o amor.



Um é a sombra do outro.”
Carl Gustav Jung



Aqui eu me refiro ao papel de vítima. Não necessariamente são vítimas, as pessoas que entram nestes papéis. Mas de tanto acreditarem no papel encenado acabam se sentindo como uma. Isso normalmente se desenrola inconscientemente e serve como uma forma de manipulação para atrair a atenção do outro para si, para receber ajuda, para ser poupado de trabalho, para ser perdoado de algum comportamento. O problema é que o papel de vítima pode acabar realmente atraindo tragédias, pois quem se vitimiza acaba encontrando um tirano ou uma situação perigosa.



“Coitadinho de mim” também poderia ser outro nome para esse papel. Como num teatro a pessoa atua até que o outro sinta pena dela. Normalmente são pessoas que estão sempre reclamando, contando dramas, choramingando, pedindo ajuda e se justificando como se elas não fossem capazes. O outro acaba por se sentir mal em não ajudar, culpado de não aliviar seu sofrimento. “As vítimas” são mestres em manipular pela culpa, pois o outro se sente tão mal que acaba cedendo para não se sentir culpado. Ninguém quer ser tirano então melhor ajudar a vítima coitadinha. Mas o que precisamos perceber é que essa máscara de vítima está encobrindo um verdadeiro tirano e o suposto tirano acaba por ser a vítima por cair na manipulação. Os papéis são trocados e se alternam. A vítima fica tão poderosa de conseguir o que quer, às custas do outro fazer o que não quer, que quando o outro a encontra, se puder, troca de calçada na rua para não ter que encará-la. A pessoa que se vitimiza o tempo todo, acaba por se tornar desagradável.



As “vítimas” possuem “mantras” que gostam de repetir. Mantras são como orações e em sânscrito quer dizer, controle da mente. São usados mais no oriente para concentração e gerar um estado desejado. Os mantras das vítimas são geralmente: “Estou tão sem dinheiro”, “São tantos problemas”, “Eu não tenho sorte”, “Estou passando mal”, “ninguém me ajuda”, etc. Sentem-se mal e parecem querer continuar sentindo.



“Vítimas”, “tiranos” também atraem “o salvador”, um terceiro papel nesta novela, e a triangulação está formada. Tem sempre aquele que quer salvar, ajudar, sem saber que estará dando mais força ainda para o coitadinho continuar coitadinho. Porque quando você ajuda quem não precisa, na verdade você estará colaborando para o não desenvolvimento do outro. “Vítimas” se boicotam e estão sempre aquém de sua real capacidade. Precisam amadurecer, deixar de ser “café com leite”, como as crianças pequenas em jogos. Assumir responsabilidade é a chave para sair desse papel e reconhecer seu próprio potencial e capacidade.



As “vítimas” acreditaram em determinado momento, que não receberam o suficiente de seus pais, foram injustiçadas pela vida, ou que o mundo os deve alguma coisa. Estão na falta e escassez e cultivam uma auto-piedade que os impede de ver o outro lado: o da abundância. Porque quando recursos externos faltam, os recursos internos podem ser ativados. A criatividade é uma habilidade humana que transforma a passividade em ação e as pessoas se tornam mais autoras de suas vidas e circunstâncias.



Esses papéis manipulativos não estão muito longe, eles estão dentro de casa, nas famílias, nos casais, nos pais, nos amigos ou colegas de trabalho, estão dentro de nós. E não importa a idade, se eles acontecem, é hora de crescer. Só não dá para querer mudar o outro. O único trabalho possível é mergulhar em si mesmo e encontrar sua própria “vítima” interior e cuidar dela. O que no fundo se quer alcançar, é o amor. Ser olhado, amado, bem recebido. As “vítimas” percorrem um caminho tortuoso já que o resultado de suas atuações tem curta duração, e podem gerar um efeito oposto do esperado: a rejeição.



Tragédias acontecem, mas que elas não sejam atraídas e criadas por carência e dramas de controle. O que precisa ser compreendido é que para se conseguir atenção, pessoas inteligentes, capazes, criativas e amorosas são muito mais atraentes do que as controladoras. Se você se centrar, conseguirá entrar numa conexão amorosa e sem esforço começará a se sentir melhor. Comportamentos são aprendidos, modelados e transformados desde que haja um trabalho consciente. A começar pelos mantras, qual deles você quer passar a entoar?



Amor e Luz para todos!

Sílvia Rocha

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Homenagem às Mães

Homenagem às Mães
Diário de Teresópolis, 16 de maio de 2014

O Dia das Mães passou e inundou as redes sociais com homenagens afetivas, cada um a seu modo, com fotos e dedicatórias, emocionante de ver. Falar de mãe mexe com uma experiência primordial de vida. É com ela que aprendemos a amar, é o primeiro amor. Desta primeira experiência de vida é que vai depender o sucesso nas relações, no profissional e financeiro, pois é com ela que aprendemos a receber. E para receber precisamos estar pequenos, humildes diante da grandeza da Mãe.

No início somos simbióticos com ela, na barriga, já fomos Um só, pulsando, sentindo suas emoções. No parto, a dor não é só da mãe, mas do bebê que se separa daquele lugar seguro e confortável. Aí vem o colo, a nutrição, o toque, os cuidados, o amparo necessário à sobrevivência. Até um ano é uma gestação externa até o bebê estar preparado para andar. A criança agora explora “o mundo” de sua casa sob os olhares atentos de sua incansável mãe.

Mãe é tida como uma super humana que ultrapassa seus limites. Que deixa de lado suas vontades, que não pensa mais em si para dar tudo para seu filho. Quantas mães reconhecem seus limites? É esperado que ao se tornar mãe, vire uma santa. E como isso é impossível, as que reclamam de noites mal dormidas, da amamentação, da sobrecarga que é o acúmulo de tarefas são, às vezes julgadas. A mulher passa pela maternidade neste mundo patriarcal não sem se ressentir com tamanha cobrança.

Se possuem maridos maduros, vão ser apoiadas, massageadas, e por vezes rendidas para que tenham um descanso. Se o marido for imaturo, ele vai se magoar com tanta doação que ela dedica ao nenén, com a perda de atenção que antes era exclusivamente dele e vai desampará-la no momento que ela mais precisa. É hora de recorrer à sua própria mãe, uma aliada experiente e a todo círculo de mulheres que puder dar suporte: Sogra, irmãs, tias, amigas. Quando um casal vai ter um filho é organicamente desigual. A mulher vai ter seu corpo, sua saúde e sua vida investida na gestação, parto e amamentação. O que o marido pode fazer para equilibrar é dar todo apoio que puder para sua mulher.

É um momento belo, delicado e complexo. Tudo muda: corpo, psique, as relações. Uma crise pode se dar até que com o tempo tudo se ajuste. Algumas mães até deprimem e precisam de mais suporte ainda. Comparações feitas machucam. Se querem um momento para si, ficam culpadas. Isso tudo se atenua quando as mães olham para suas crias e o amor que elas sentem é tão grande que gera força para superação. Há relatos de mães que se sentem enganadas: “Ninguém me contou que era esse trabalho todo.”

Antes de ser mãe, a mulher pode se igualar aos homens no mercado de trabalho, depois que é mãe, não tem mais toda disponibilidade, a menos que deixe seu filho. Por isso uma experiência grandiosa que é dar a vida vem acompanhada muitas vezes de um sentimento de menos valia. Desses sentimentos contraditórios, nasce a mãe, que pode herdar por sua vez sentimentos de sua própria mãe. Cuidar de uma vida deveria ser o trabalho mais valorizado, mas em nossa sociedade não é.

Segundo a escritora Bethany Webster, em seu artigo: "A ferida da mãe", esta dor pode ser passada de geração a geração até que alguém ganhe consciência e possa convidar à cura. Uma filha pode internalizar uma crença da mãe de não ser boa o suficiente, fazendo com que ela própria não queira inconscientemente se realizar na vida para não magoar sua mãe e ganhar o seu amor e apreciação, ao invés de sua inveja. É uma felicidade que traz solidão por isso a filha se boicota para não ser mais do que a mãe conseguiu ser. O que ela precisa enxergar é que essa lealdade é à sua ferida, e não à sua mãe.

É preciso dar espaço e suporte para as mães expressarem suas raivas, tristezas, medos e perdas. Muitas vezes esses sentimentos estão guardados na sombra, mas uma hora vem à tona. Apenas ouvir sem julgar, com presença e apoio já é uma cura e tanto, pois uma vez expresso, qualquer sentimento se despotencializa e se esgota. Esta liberação possibilita viver o lado mais belo da maternidade com mais segurança e compreensão.

É preciso antes de mais nada, romper com esse tabu de que as mães são só doação, beleza e santidade. A mãe humana é forte, dedica-se, ama, supera mas também sofre e requer cuidados. Talvez integrados esses aspectos não tão belos, possamos reverenciar o feminino divino em cada mulher e honrar a mãe em toda sua plenitude.

Que as mães sejam homenageadas por todo ano!

*Dedico esse artigo à minha Mãe Ana Maria que sempre me apoiou. Gratidão pela vida. Eu nunca vou poder retribuir tudo o que você me deu. Homenageio você na minha maternidade, por toda a minha vida."

Sílvia Rocha

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Saúde e Doença - Dois Polos do Ser


Saúde e doença - Dois polos do Ser
Diário de Teresópolis, 08 de maio de 2014
“Você não pode curar o que não pode sentir”- C.G. Jung

                A maioria das pessoas quando fica doente luta para exterminar a doença como se ela fosse um mal a ser combatido. É o pensamento cartesiano que separa sujeito do objeto e o corpo da mente. Daí o corpo vira uma máquina que precisa de conserto a cada vez que dá defeito. É claro que ninguém quer ficar doente e ao ficarmos, queremos retornar à saúde o mais breve possível. Mas sem compreendermos o que a doença veio trazer é possível que nova doença aconteça no futuro. Cada doença, dor ou mal estar é um correio do corpo. Compreender isso é a chave para a Saúde Integral. Então que tal parar para refletir o que precisa ser integrado quando uma doença acontece?

                Doenças e mal estares são somatizações, isto é, a manifestação de algo psicológico no corpo.  O sistema imunológico produz uma queda em suas imuno-defesas devido a estress, conflitos, tristezas, auto-estima baixa. Dependendo do órgão ou parte do corpo pode estar relacionado a um tipo específico de emoção que não fora expressa.  É comum surgir dor de garganta quando engolimos sapo, dor de cabeça quando há excesso de preocupação, gripe ou rinite alérgica quando a tristeza não foi expressa - é um choro pelo nariz já que o olho se negou a chorar. Doenças de pele aparecem quando há irritações nas relações.  Há variações, as somatizações são pessoais e cada um tem uma forma bem única de manifestar.

Em culturas mais ligadas à natureza, os ciclos do corpo são mais respeitados. As pausas, os descansos são bem usufruídos, assim como a terra precisa descansar entre uma colheita e outra. Em nossa cultura ocidental os resultados são cobrados, atropelando o ritmo natural e orgânico, fazendo com que um pé seja torcido ou quebrado para se dar o tempo e ter uma desculpa de ficar parado. Esses processos ocorrem de forma inconsciente, e se pode observar a sabedoria do Ser em criar uma doença para que auto-regulação se dê.

Nessa visão mais holística, a doença pode ser um caminho para o auto-conhecimento e iluminação.  Antes vista como inimiga, pode ser vista agora como parceira, amiga que tem sempre uma razão de existir. Ao meditarmos podemos descobrir suas intenções positivas, dando voz ao que fora silenciado. Qual mensagem que chega através dessa dor? Uma vez que ficamos de acordo com essa mensagem podemos mudar nosso comportamento para que não precisemos mais da doença para seguirmos em harmonia.

Ficar atento às emoções é muito indicado. Raiva, tristeza, medo quando não expressos adequadamente causam desequilíbrio. Doenças ligados ao estômago também falam de raivas não expressas. O que a boca não pôde morder, contraiu-se no estômago. Também fala-se do aspecto somático do câncer, ser ressentimento guardado durante anos. Até mesmo a alegria exacerbada pode virar doença se os limites corporais não foram respeitados. Assim como o dia e a noite, o coração na sístole e diástole, nosso corpo e mente precisam de ação e repouso. É uma boa perguntar-se, o que está demais em sua vida ou de menos. Como estão as medidas das áreas de sua vida: trabalho – lazer – família – finanças – saúde – relacionamento - amigos

No olhar sistêmico, a doença pode aparecer como uma homenagem inconsciente à família que sempre adoeceu. Como, por exemplo, manter-se são numa família onde todos morrem de câncer? Existe um sentimento de lealdade, um amor cego que faz repetir padrões doentios. O amor que liberta olha para os destinos familiares com respeito, homenageando os ancestrais e sentindo-se pertencendo de forma mais madura, e não com um vínculo infantil de repetição. 

Doenças são algo que criamos e assim sendo também podemos “descriá-las”. Uma vez já sabido seu motivo de aparecimento, podemos negociar com o próprio corpo, que teremos mais descanso por exemplo, para a doença ir embora. Algumas vezes é o caso de perdoar ou se perdoar,  chorar uma perda ou se tratar com mais respeito. Tem pessoas que preferem morrer de orgulho do que perdoar e se humildar como todo humano.

Identificada a intenção positiva da doença, feita a negociação do comportamento, o último passo pode ser técnicas de visualização que fortalecem a cura. Imagens e palavras são responsáveis por processos criativos. Toda doença tem uma imagem, transformar essa imagem convida à cura. Métodos como os dos Simonton e de Gerald Epstein são comprovados cientificamente dentro de uma visão mais quântica de mundo.

A concepção de doença para a Medicina Chinesa é de bloqueio de energia, uma resistência perante o fluxo natural da vida. Tudo o que possa fazer retomar este estado natural de amor e harmonia é bem vindo. Lembrando que a harmonia é fruto de um equilíbrio dinâmico sempre em  movimento.
Sílvia Rocha

 

terça-feira, 6 de maio de 2014

Humanização nos Atendimentos


Humanização nos atendimentos

porque pessoas não são coisas.
Diário de Teresópolis, 24 de abril de 2014. 

“A falta de amor é a pior de todas as pobrezas.” - Madre Tereza de Calcutá

Na semana passada escrevi sobre atendimento, enfocando mais os comerciais. Essas demandas por mais cuidado e humanização perpassam a todas as relações de atendimento principalmente nas áreas de saúde. Apesar do próprio sistema público não oferecer as condições  adequadas para os profissionais trabalharem, isso não pode justificar a falta de cuidado nas relações. Sim às vezes parece muito difícil pois o ser humano costuma tratar o outro da mesma forma como foi ou é tratado. Em algum momento alguém tem que quebrar o ciclo vicioso. Ou melhor, pode, se quiser.

O que vivemos hoje, é que ao ficarmos doentes o hospital contribui ainda mais para esse adoecimento.  Falta de profissionais, muita demora ou má vontade, seja no público ou no privado, com ou sem plano de saúde. Mas não são todos. Ouvi de uma recepcionista do hospital São José: “se as pessoas já chegam com mal estar ou para visitar um parente doente, o melhor que podemos dar a elas é um sorriso e não uma cara feia”. Alguns profissionais de CTI por exemplo precisam ter cuidado pois por lidarem cotidianamente com a morte, o sofrimento e a doença podem se tornar insensíveis, até como forma de defesa.  

Um momento difícil requer acolhimento, amor, humanidade. E para isso não importa classe social ou dinheiro. Encontramos tratamentos humanos mas nem sempre. Pesquisa divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo mostra que uma em cada quatro mulheres já sofreram alguma violência no parto, física ou verbal. Pesquisa divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo mostra que uma em cada quatro mulheres já sofreram alguma violência no parto, física ou verbal. Humilhações verbais, também são violências, como no caso de adolescentes grávidas ouvirem na hora da dor do parto: “É na hora de fazer você gostou.” Uma denúncia pode ser feita no Ministério Público ou em delegacias e o profissional ter sua devida sanção. Marcação de uma cesária sem necessidade e contra a vontade da mulher, exames de toques contínuos para acelerar a dilatação, proibição de acompanhante ou de massagens, terror psicológico induzindo a mulher à cesária, dentre outros procedimentos também são violência obstétrica. A mulher tem o direito de escolher e merece todo o respeito e apoio nesse momento. Ela precisa estar muito empoderada e conhecendo seus direitos para lutar numa hora dessas contra a corrente de um sistema que não quer respeitar o tempo natural de seu corpo.

É importante também reconhecer e divulgar quando o oposto ocorre, e tratamentos mais dignos se dão. Geralmente são profissionais que não tratam pessoas como coisas, escutam, são guiados por um código de ética. Possuem valores intrínsecos que escolheram para suas vidas e além disso também fizeram um juramento profissional de honrar um compromisso para com outro ser humano.

Alguns profissionais de relações de ajuda como médicos e psicólogos podem cair numa armadilha que é a ilusão do poder devido a seu conhecimento. Arrogância médica distancia médico do paciente e parece que a cura está com o médico e seus remédios preescritos. A começar pela confiança e transferência de poder que o paciente deposita no médico, é tentador cair nesse lugar egóico de detenção do saber e do poder. Aprendi com os indígenas nas aldeias que cada um tem sua força de cura e deve aprender a se curar, tornando-se seu próprio médico interior.  Quando necessitamos de ajuda é para resgatar esse próprio poder interno. O outro, serve de estímulo, de guia, nos devolvendo a confiança e a fé.  O remédio vai sanar sintomas mas é a imunidade que vai manter o corpo sadio. E esta pode ser fortalecida com relaxamento, amor e confiança. Daí a importância da relação. Uma fala médica pode potencializar a saúde ou trazer mais doença ainda, pode enfraquecer ou suavizar uma tensão.  Uma pessoa que está doente fica mais vulnerável mas ainda sim pode ter a força de sua dignidade para exigir um tratamento mais humano. 

Sílvia Rocha – Psicóloga


silviaayani@gmail.com