Modelos Mentais
Pensando dentro e
fora das caixinhas
“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho
original.”
Pessoas
veem o mundo de maneiras diferentes segundo seus filtros de percepção. Então às
vezes parece que estamos falando da mesma coisa quando temos concepções
diferentes a respeito. Para saber do que estamos falando, podemos fazer um
exercício, é só pedir para que duas pessoas ou mais escrevam dez palavras que
relacionam com a palavra “Amor”, por exemplo. Checando as listas poderemos
contar quantas palavras iguais. Ficaremos surpresos, com as diferenças.
Palavras nomeiam coisas, estados, sentimentos, encerram significados que nem
sempre são iguais, principalmente quando nos remetem a assuntos subjetivos.
Pensamos
através de modelos mentais, que são equivalentes a caixinhas ou pré-conceitos
sobre determinada coisa. Chimamanda Ditchie contadora de histórias e
palestrante nigeriana nos conta como foi estudar na América e receber
preconceitos a respeito de seu país. A começar que as pessoas não distiguiam
países africanos do continente africano. Como se África fosse sinônimo apenas
de fome, miséria, deserto. O mesmo acontece no Brasil e em vários outros
lugares e com pessoas também.
Olhar as
pessoas como elas realmente são e não através de julgamentos pré-concebidos é
uma coisa rara. Algumas pessoas sentem pena de outras só do que julgam pela
aparência. Julgamentos por classe
social, por religião, por atitude, por uma conversa, pela cor da pele ou pela
cor do cabelo é o que mais encontramos. Criamos modelos e tentamos encaixar o
que vemos nas caixinhas.
Segundo
Hutchens, “Modelos Mentais são as crenças, imagens e pressupostos profundamente
arraigados que temos sobre nós mesmos, nosso mundo, nossas organizações e como
nos encaixamos neles”. Porque como nos conta o escritor inglês Somerset Maugham
no livro “O Fio da Navalha, “... os homens não são somente eles; são também a
região onde nasceram, a fazenda ou o apartamento da cidade onde aprenderam a
andar, os brinquedos que brincaram quando em crianças, as lendas que ouviram
dos mais velhos, a comida de que se alimentaram, as escolas que frequentaram,
os esportes em que se exercitaram, os poetas que leram e o Deus em que
acreditaram.”
O mito da
caverna de Platão, é uma bela metáfora de como um modelo mental pode ser limitante
mostrando apenas parte da percepção da realidade. No mito, um grupo de pessoas
habita o interior de uma caverna e estão acorrentadas de costas para a entrada,
sendo que só podem ver as sombras projetadas na parede do mundo que acontece lá
fora. Como estão na caverna desde que nasceram, as sombras para elas, são tudo
que existe. Se uma pessoa consegue se libertar das correntes e questionar a
realidade que consegue ver de dentro, são consideradas ameaças. E se essa
pessoa consegue sair, pode se encantar com a grandeza que seus olhos podem ver
agora. O difícil é voltar pra caverna pra contar pros outros o que viu, pois a
segurança e acomodação das pessoas de dentro as fazem resistir. Em nossa
história podemos ver isso acontecer com cientistas ou artistas que foram
considerados loucos, serem homenageados somente após suas mortes. Pessoas à
frente de seu tempo costumam sofrer por terem modelos mentais bem amplos da
realidade, além do que a maioria possa compreender.
Realidade é
aquilo que podemos perceber e não estamos conscientes das limitações criadas
pelos modelos mentais. Todos possuímos modelos mentais, eles não são bons ou
ruins, apenas ordenam a complexidade do mundo em nossas cabeças. O problema
ocorre quando tentamos encaixar tudo dentro dessas caixinhas sem questionar se elas
ainda têm utilidade. É preciso reciclar pontos de vista, modelos de
pensamentos, assim como a ciência já renovou através de mudanças de paradigmas.
Já fomos do cartesiano ao newtoniano e agora o modelo quântico tem ajudado a
interpretar o mundo. Interpretar, esse é o verbo, não podemos esquecer de que
paradigmas e modelos mentais não são verdades absolutas. São apenas mapas que
representam um território.
Um diagnóstico
é um modelo mental, e pode ser considerado como Hellinger da terapia sistêmica
diz, “um mau pensamento”. Pois ele encerra um indivíduo numa doença e passamos
a reduzir aquele ser humano num rótulo.
Ser humano é vasto e criativo e com um enorme potencial para a saúde. Um
modelo mental determina como e o que se vê, reduzindo a realidade, guiando a
forma de agir e pensar.
Por isso o
mais indicado é sempre refletir sobre a forma de pensar. Questionar
preconceitos que todos temos, pois uma vez identificados fica mais fácil de
dissolvê-los. Assim na África como no Brasil, existe uma diversidade cultural, uma
riqueza natural, uma beleza que olhos contaminados não poderão enxergar. Numa
pessoa também, à parte do que ela sempre ouviu sobre ela mesma desde criança,
críticas ou estímulos, sempre se pode descobrir um campo fértil para muitas
possibilidades. Basta ter a coragem de pensar fora da caixinha.
Sílvia Rocha -
Psicóloga