sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Emoções:o que eu faço com o que eu sinto


Emoções: O que eu faço com o que eu sinto?

“Amor divino é nossa real natureza” – Amma

“Nenhuma teoria ou ciência do mundo
ajuda tanto uma pessoa quanto um outro ser humano
que não tem medo de abrir o coração para o seu semelhante.”
Elizabeth Kubler Ross

 

Não faz parte em nenhuma grade curricular, uma disciplina que nos ensine a lidar com as emoções. E é de pequeno que aprendemos ou não a expressá-las. É na infância que modelamos como vamos lidar com o mundo, através das interações que temos, a como respondem ao que queremos. Uma criança fica à mercê de como um adulto responde a suas expressões. Na cultura machista, um menino é reprimido a chorar desde pequeno: “homem não chora”! E às meninas não devem expressar raiva: “Nossa que horror, parece um menino!” Essas repressões causam um mal-estar, pois toda emoção precisa ser expressa. Meninas “boazinhas” e delicadas acabam por “engolir muito sapo” e meninos machões por sofrerem calados.

As emoções básicas de raiva, medo, tristeza e alegria são reações instintivas de sobrevivência ao estado essencial do ser humano que é o amor. Quando eu sinto o meu amor invadido eu tenho raiva, quando eu sinto o meu amor ameaçado eu sinto medo, quando eu perco o meu amor eu me entristeço e quando eu compartilho o meu amor eu me alegro. A educação emocional começa quando eu consigo saber o que eu estou sentindo e dou nome à emoção. O próximo passo é procurar a melhor forma de expressá-la. Eu paro e penso a melhor forma de agir. Isto é inteligência emocional.

Para a educação de crianças é bom aproveitar o momento em que a criança está sentindo e reconhecer uma boa oportunidade de aproximação. Dar espaço para que ela se expresse e legitimar confirmando seus sentimentos: “Isto que você está sentindo é raiva”. “Você pode socar uma almofada ou chutar uma bola, mas não pode bater no seu colega.” A raiva é uma emoção forte que impulsiona pra frente, para conquistas e defesa do território. Não precisa ser manifesta em forma de violência ou agressão. Se reprimida pode causar doenças e se alimentada também. Uma vez expressa de forma adequada, ela tende a ir embora.

Segundo C. Steiner, existem seis níveis de consciência das emoções:

1. Insensibilidade – Opera na negação da emoção e na primazia da razão. Julgar é mais fácil do que sentir. 2. Experiência Primitiva –Várias emoções ao mesmo tempo acometem o indivíduo, que despreparado se perde e se angustia com este estado confuso.
3. Somatização – O corpo sofre através de mal estares e doenças o que a mente não conseguiu elaborar (e que não houve expressão). Assim, uma tristeza sai em forma de resfriado, uma raiva por uma dor de estômago e um medo por um torcicolo, por exemplo.
4. Diferenciação – Já é possível nomear as sensações e saber o que fazer com elas. Aos poucos, as diferentes nuances emocionais podem ser expressas em concordância com sua intensidade e repertório de possibilidades de ação.
5. Empatia – Porque conhece e compreende suas emoções, a pessoa pode sentir junto o que o outro está sentindo, facilitando a comunicação, a compreensão e a compaixão.
6. Interatividade emocional – Além de sentir junto, saber o que fazer com a emoção do outro, respeitando a si próprio e apoiando o outro com amor e inteligência.

Uma raiva bem canalizada chama-se assertividade: saber dizer não na hora certa, dar limites, proteger seu espaço e tempo. Funcionários que não conseguem dizer não, sobrecarregam-se de serviço e se  prejudicam, além de ter a qualidade de seu trabalho comprometida.

Se uma tristeza é ignorada e a pessoa resolve ir a uma festa, no dia seguinte é muito provável que ela esteja gripada. O corpo compensa, pois na tristeza uma energia foi perdida, o aquietar-se serve para repor a energia perdida, o chamado luto que precisamos respeitar o tempo de recolhimento para chorar a dor.

Já o medo tem a função de proteger, ninguém que queira preservar sua vida, vai atravessar uma rua sem olhar se vem carro. Medos fantasiosos ou mal resolvidos de traumas é que se vão se arrastando podem gerar uma síndrome do pânico.

Até mesmo a alegria se não expressa de forma adequada pode trazer algum mal estar. É que o exagero da euforia desequilibra. Celebrar na medida certa é bem aconselhado e voltar para o estado de equilíbrio do amor.

A honestidade emocional tornar-se importante para a saúde emocional, o querer parecer sempre bem pode prejudicar.

A consciência das emoções varia o tempo todo. Em determinada situação pode-se estar insensível e em outro interativo. Existe uma capacidade auto-regulatória de nosso organismo emocional que se assemelha ao físico. Da mesma forma que quando não suportamos a dor, desmaiamos, quando não estamos prontos a sentir, sublimamos ou ficamos insensíveis. É uma sabedoria corporal inconsciente. O que é bom é atentar ao que precisa ser atualizado: Se você sempre é insensível ou se vive somatizando, é hora de se oferecer espaço e permissão para sua evolução. Da mesma forma que água parada dá mosquito, energia parada no nosso corpo causa dores, neuroses e doenças. A razão pertence ao nosso estado adulto assim como as emoções pertencem ao nosso estado criança. Respirar com consciência é um bom exercício para contactar as emoções de nossa criança interior. Chorar quando se está triste, dar limites quando sente raiva, proteger-se quando
sente medo. Ao liberar-se de quaisquer emoções que estejam apertando seu corpo, ele se expande e relaxa para viver a alegria que é estar pleno e confiante no fluxo do amor.

Sílvia Rocha – Psicóloga formada pela Uerj, especialista em Psicologia Junguiana, Arteterapeuta, Terapeuta familiar sistêmica