Arquétipo do
Guerreiro
Diário de Teresópolis, 27 de março de 2014
“Honrar é a capacidade que temos de conferir
respeito ao outro. Tornamo-nos dignos de honra quando nossa capacidade de
respeitar é expressa e fortalecida”. Sobunfu Somé – povo Dagara
Parece haver em todas as culturas nativas, quatro arquétipos (estruturas
inconscientes) vividos em comunidade: Arquétipo do guerreiro, do visionário, do
mestre e do curador, segundo a antropóloga Angeles Arien que percebeu esses
arquétipos como mantenedores do coletivo. Podemos relacionar em nossa sociedade, o arquétipo do guerreiro
como equivalente ao da liderança.
Segundo os ensinamentos de Arien, o líder opta pelo poder da presença,
mostrando-se na prontidão, respondendo à demandas, assumindo seu lugar. Sabe
que seus atos devem acompanhar suas palavras para que tenha o poder da
confiança. Não necessariamente um líder por cargo é um líder nato. Mas pode-se
aprender a ser um líder quando a vontade de servir e representar uma comunidade
ou grupo está presente.
A comunicação do líder deve ser
criteriosa: saber dizer não quando encontra um limite e saber dizer sim quando
tem verdadeiramente disponibilidade para fazer algo. Promessas não cumpridas o
fazem cair na descrença e na desconfiança. A responsabilidade não é apenas a capacidade
de responder, mas de sustentar ações e responder com integridade pelo que é
feito ou deixado de fazer. Isso mantém o
poder do líder no tamanho de seu respeito e de sua honra.
Um líder deve ter disciplina, que significa ser discípulo de si mesmo,
honrando o próprio ritmo, realizando tarefas passo a passo até que a missão
seja cumprida.
O desafio maior de todo guerreiro e líder é o uso correto do poder.
Alguns povos nativos usam a palavra poder e remédio ou medicina como sinônimos.
Quando queremos dar plena expressão ao que somos, dizemos que estamos cheios de
força, e que expressamos nossa medicina. Existe o poder sobre outro, que é um
poder impositivo e autoritário onde uns mandam e outros obedecem e o poder
compartilhado que acolhe a sabedoria de cada um. O diálogo centrado no ouvir
para aprender e para coletar diversos pontos de vista é a mais indicada
metodologia de um sistema cooperativo. A liderança é posta a serviço de um bem
maior e isso demanda humildade. Quanto maior, menor - na lógica de uma liderança
servidora. “Um bom líder é aquele que cria um ambiente onde todos querem
pertencer”, segundo R. Dilts, porque são potencializados em suas medicinas,
acrescentaria.
Segundo Arien existem 3 tipos de poder universal: Poder da presença: As
inteligências física, mental, emocional e espiritual estão alinhadas e presentes.
Carisma e magnetismo vem de sua verdade
interior que contagia e sua força vem de seu instinto. Estar presente
fisicamente não significa que as outras partes estejam. Também é uma decisão, estar livre de passado e
de futuro. Preencher o momento é
empoderar-se. Poder da comunicação: A comunicação que nos fortalece e inspira é
aquela que é liberada no tempo e lugar apropriados, para que as pessoas
envolvidas possam ouvir e receber. Existe um acordo entre timming, conteúdo e contexto. A comunicação efetiva é estar atento
a como o outro escuta, por isso o emissor pede um retorno do que foi compreendido. Poder
do posicionamento: Expressar uma tomada de decisão firme é situar o outro do
que ele pode esperar. As decepções são causadas por expectativas criadas e não
cumpridas.
Todo arquétipo tem sua luz e sua
sombra. A sombra do guerreiro consiste em uma dificuldade com a autoridade,
seja por abuso de poder, falta de ética, competição ou por um padrão de
invisibilidade - escondem-se por falta de competência podendo até mesmo
inverter os papéis e se colocarem como vítimas, mas agindo por debaixo dos
panos.
Acontece que se tem uma
liderança na sombra, existem também liderados na sombra, com sua permissividade,
falta de consciência ou força de reação. Uma indesejada cumplicidade por
inoperância. Os desgovernos de sistemas
corruptos, que testemunhamos numa conduta passiva, agora são denunciados por
manifestações, expressões indignadas porém mais acordadas e portanto na luz.
Se um líder por cargo não confere a honra de um guerreiro, que os
liderados embuídos de suas maestrias pessoais se tornem um. Não retornando na
mesma moeda, rebelião também é tirania, mas sim se responsabilizando e honrando
seus direitos e deveres. Os fins não justificam os meios, mas que os meios sejam
exatamente o fim que queremos. O caminho do guerreiro requer coragem: força,
direção e coração. Segundo os nativos, o tempo dos guerreiros da luz chegou!
Sílvia Rocha