E por falar em paixão... E por falar em
amor...
Paixão não se
discute, porque não é da ordem do intelecto. Estar apaixonado é entrar num
campo irracional, quase místico, da esfera do encantamento. Não se explica, ela
arrebata, chega invadindo. A paixão move, mobiliza, faz querer ser melhor, faz
querer lutar pelo objeto amado. É se sentir atraído e não conseguir tirar o
olho, é ter taquicardia e achar bom. Eu posso estar falando de paixão por
futebol, por música, por religião, por poesia, por animais, por política, ou
pelo seu amado ou amada.
A Paixão é de
extremos, num momento se conhece o céu e no outro o inferno, pois a felicidade fica condicionada ao movimento do
objeto amado. Se o meu time perde, fico arrasado, como se fosse eu que tivesse fracassado.
Se meu time ganha, sinto-me vitorioso. No caso de relacionamento, se o outro corresponde,
serei feliz, se o outro não vier, ai de mim.
Diz-se que paixão
tem a mesma raiz de patologia, e que é uma doença. Talvez a doença seja a do
não ver, pois a Paixão está cheia de projeção, que quer dizer - aquilo que não
vejo em mim, vejo em você. Na idolatria,
há uma exaltação do outro, tão apaixonada, como se o outro fosse um deus e não
humano, como se o outro fosse mais do que eu. Então, estar perto dessa pessoa
pode virar uma saia justa, um martírio, pois posso querer tentar ser diferente,
me moldar a ela, posso sentir que nunca estarei em seu patamar, sentindo-me
constrangido e inferior.
Paixão vem do
latim, passionis que significa
“sofrimento”. Por que será? A ilusão da perfeição cai sobre uma pessoa, a
projeção de um ideal é colocada em alguém. E se um dia essa pessoa não se
encaixa mais nessa projeção, ocorre a decepção, o sofrimento. Paixão e ilusão
caminham de mãos dadas. Tem algo de inconsciente nas duas. Na paixão faço uma
imagem do outro sem que eu realmente o conheça. O encantamento é com a imagem
que eu faço do outro e não com o outro como ele realmente é. Então, a desilusão
é muito bem vinda, para se entrar na realidade. Apesar da dor que isso pode
significar, cair na real ainda é mais saudável do que se manter iludido.
A imagem
projetada normalmente é algo que julgo faltar em mim ou pelo menos não consigo
acessar dentro de mim. Então busco fora, no outro e ainda espero que o outro
venha me completar. Essa falta de inteireza vem da falta de auto-conhecimento. A
ânsia por um companheiro é legítima, por alguém que compartilhe a vida,
testemunhe histórias, partilhe alegrias, apoie nas tristezas; a ânsia por tapar
um buraco, por aliviar a carência, por me salvar de algo, não é.
A solidão pode
ser boa quando estamos plenos de amor e alegria. E quando se torna
transbordante, temos para dar. É me amando que consigo amar. É me enxergando que
consigo enxergar, daí fica mais difícil criar ilusões, projetar o tempo todo. Se
a paixão é cega, o amor faz ver que o outro é simplesmente um outro humano, com
o pacote completo do que é ser humano: Virtudes, falhas, dúvidas, medos,
alegrias, incongruências, inteligência, humildade, arrogância, altos e baixos, rigidez ou flexibilidade,
força e vulnerabilidade. E se o amor permanece com esse conhecimento do outro,
é amor mesmo.
Se a paixão
mascara, o amor expõe, sem medo de não ser aceito. Não existe felicidade maior do
que concordar com aquilo que é. Há um relaxamento nisso, uma paz da segurança.
O que não significa falta de atenção. Se a zona de conforto fizer com que a relação se paralize, a relação pode morrer.
Para que haja estabilidade também é preciso de renovação, o que doses da boa
paixão, aquela tensão criativa, podem proporcionar: a surpresa, o sair da
rotina, viajar, curtir as diferenças, encantar-se com sutilezas, celebrar
momentos e vitórias.
A admiração
pode dar um tom mais maduro ao enamoramento, esse amor que vem com o tempo, com
respeito à individualidade e que só tende a crescer, se um oferece espaço e
apoio para que o outro se realize. E ambos se realizem juntos com projetos em
comum.
Feliz dia dos
namorados!
Sílvia Rocha –
silviaayani@gmail.com
www.silviarenatarocha.blogspot.com.br
Silvia, você escreve com leveza e esse texto sobre as paixões está encantador, apaixonante. Parabéns!
ResponderExcluirGratidão Claudia!
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