quinta-feira, 12 de junho de 2014

E por falar em paixão... E por falar em amor...


E por falar em paixão...  E por falar em amor...

Paixão não se discute, porque não é da ordem do intelecto. Estar apaixonado é entrar num campo irracional, quase místico, da esfera do encantamento. Não se explica, ela arrebata, chega invadindo. A paixão move, mobiliza, faz querer ser melhor, faz querer lutar pelo objeto amado. É se sentir atraído e não conseguir tirar o olho, é ter taquicardia e achar bom. Eu posso estar falando de paixão por futebol, por música, por religião, por poesia, por animais, por política, ou pelo seu amado ou amada.

A Paixão é de extremos, num momento se conhece o céu e no outro o inferno, pois a  felicidade fica condicionada ao movimento do objeto amado. Se o meu time perde, fico arrasado, como se fosse eu que tivesse fracassado. Se meu time ganha, sinto-me vitorioso. No caso de relacionamento, se o outro corresponde, serei feliz, se o outro não vier, ai de mim.

Diz-se que paixão tem a mesma raiz de patologia, e que é uma doença. Talvez a doença seja a do não ver, pois a Paixão está cheia de projeção, que quer dizer - aquilo que não vejo em mim, vejo em você.  Na idolatria, há uma exaltação do outro, tão apaixonada, como se o outro fosse um deus e não humano, como se o outro fosse mais do que eu. Então, estar perto dessa pessoa pode virar uma saia justa, um martírio, pois posso querer tentar ser diferente, me moldar a ela, posso sentir que nunca estarei em seu patamar, sentindo-me constrangido e inferior.

Paixão vem do latim, passionis que significa “sofrimento”. Por que será? A ilusão da perfeição cai sobre uma pessoa, a projeção de um ideal é colocada em alguém. E se um dia essa pessoa não se encaixa mais nessa projeção, ocorre a decepção, o sofrimento. Paixão e ilusão caminham de mãos dadas. Tem algo de inconsciente nas duas. Na paixão faço uma imagem do outro sem que eu realmente o conheça. O encantamento é com a imagem que eu faço do outro e não com o outro como ele realmente é. Então, a desilusão é muito bem vinda, para se entrar na realidade. Apesar da dor que isso pode significar, cair na real ainda é mais saudável do que se manter iludido.

A imagem projetada normalmente é algo que julgo faltar em mim ou pelo menos não consigo acessar dentro de mim. Então busco fora, no outro e ainda espero que o outro venha me completar. Essa falta de inteireza vem da falta de auto-conhecimento. A ânsia por um companheiro é legítima, por alguém que compartilhe a vida, testemunhe histórias, partilhe alegrias, apoie nas tristezas; a ânsia por tapar um buraco, por aliviar a carência, por me salvar de algo, não é.

A solidão pode ser boa quando estamos plenos de amor e alegria. E quando se torna transbordante, temos para dar. É me amando que consigo amar. É me enxergando que consigo enxergar, daí fica mais difícil criar ilusões, projetar o tempo todo. Se a paixão é cega, o amor faz ver que o outro é simplesmente um outro humano, com o pacote completo do que é ser humano: Virtudes, falhas, dúvidas, medos, alegrias, incongruências, inteligência, humildade, arrogância,  altos e baixos, rigidez ou flexibilidade, força e vulnerabilidade. E se o amor permanece com esse conhecimento do outro, é amor mesmo.

Se a paixão mascara, o amor expõe, sem medo de não ser aceito. Não existe felicidade maior do que concordar com aquilo que é. Há um relaxamento nisso, uma paz da segurança. O que não significa falta de atenção. Se a zona de conforto fizer com que  a relação se paralize, a relação pode morrer. Para que haja estabilidade também é preciso de renovação, o que doses da boa paixão, aquela tensão criativa, podem proporcionar: a surpresa, o sair da rotina, viajar, curtir as diferenças, encantar-se com sutilezas, celebrar momentos e vitórias.

A admiração pode dar um tom mais maduro ao enamoramento, esse amor que vem com o tempo, com respeito à individualidade e que só tende a crescer, se um oferece espaço e apoio para que o outro se realize. E ambos se realizem juntos com projetos em comum.

Feliz dia dos namorados!

Sílvia Rocha – silviaayani@gmail.com

www.silviarenatarocha.blogspot.com.br

2 comentários:

  1. Silvia, você escreve com leveza e esse texto sobre as paixões está encantador, apaixonante. Parabéns!

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