Os Quatro estágios da Terapia
“Não se curem além da conta.
Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes
fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais
profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas.” Nise da Silveira
Em
geral, quando uma pessoa busca uma terapia, é porque tem algo em sua vida que a
pertuba. São poucas as pessoas que vem em busca de auto-conhecimento. É comum
chegarem com um acontecimento trágico ou uma angústia bem grande. Esse primeiro momento mais parece um
confissionário, um extravazamento de emoções, expressões pouco conscientes, talvez
mecanizadas, defendidas ou racionalizadas. Quando começam a contar sua história
e seus problemas, estes se apresentam com percepções reduzidas de sua
realidade. Algumas sabem como estão e onde querem chegar, mas não sabem como
fazer para chegarem lá. Pensamentos e falas que se repetem, percepções baseadas
em crenças distorcidas sobre si mesmo, são bastante comuns.
Os mais
emotivos tem facilidade para deixarem fluir as emoções e alguma dificuldade
para organizar estes sentimentos que podem estar confusos. Os mais racionais,
já sabem de cór seus porquês com dificuldades de entrar em contato com a
emoção. Essa chegada precisa ser apoiada, pois muitas vezes quem procura uma
terapia, já passou por uma barreira que é a de procurar ajuda. Nem sempre é
fácil, admitir que se precisa de ajuda, passar por cima do orgulho e talvez de
algumas crenças do tipo: “terapia é coisa de maluco!”
Aí entramos no
conceito do que é ser normal e do que é patológico. O que parece no senso comum,
é como se tivesse algo certo e algo errado com as pessoas e a terapia fosse
para consertar quem está errado. Como um carro que chega no mecânico para
trocar uma peça. Dentro da Psicologia, não existe este julgamento sobre as
pessoas e eventos. Cada um tem sua forma única, original e peculiar de ser, e
encontra sua forma de expressar aquilo que é, levando à realização de seu ser
no mundo. Então o psicólogo não vai dizer o que a pessoa precisa fazer ou
mudar. Uma crise ou doença pode aparecer com um intuito de trazer a força de
cura e de superação para alguém. O psicólogo apenas acompanha, dando
devoluções, espelha para o outro se ver melhor, procura ampliar percepções,
mostrar outros lados, algumas vezes orienta. O relacionamento do terapeuta com
o cliente vai ser um dos aspectos mais importantes nesse processo. É dessa
interação entre dois seres humanos, duas personalidades que vai surgir algo
novo. A confiança, a empatia, a afetividade criam um campo para um mergulho que
não é só do cliente, mas do terapeuta também.
O segundo
estágio da terapia é o da elucidação, onde aspectos que estavam inconscientes
vem à tona. O cliente pode trazer sonhos para a terapia, que trazem mensagens
do inconsciente, símbolos que guiam para além da mente consciente e
racional. O terapeuta pode introduzir também
um trabalho com arte, onde é possível facilitar a vinda de imagens do
inconsciente. A arteterapia possibilita a criação de imagens e símbolos que fazem
a ligação entre o consciente e o inconsciente. Desenho, pintura, escultura,
corte e colagem, escrita, dentre outras são ferramentas que tornam conteúdos
antes não acessíveis, manifestos e palpáveis. Quando conseguimos nomear ou
trazer forma, continente, cor, som, para nossas questões e conviver com elas
dessa forma lúdica, podem vir soluções criativas antes não vislumbradas.
No terceiro
estágio da terapia, ocorre uma certa forma de educação. Compreender as
expressões, o processo e as passagens da vida trazem lições aprendidas,
insights sobre sua forma de ser e viver, levam a uma possibilidade de
reeducação. Mudanças de padrões começam aí, com um tanto de conhecimento
sentido e integrado. A união do que se
pensa com o que se sente, cria uma força de mudança mais efetiva. O curador
interno do cliente é desperto e ele passa a depender cada vez menos do
terapeuta para encontrar saídas.
O quarto
estágio é o da transformação, onde é possível tornar-se aquilo que se é. Um
reencontro consigo mesmo, onde o ciclo se completa. Para aqueles que pensam que
terapia não tem fim, aqui vai o fechamento: quando o cliente é capaz de seguir
sozinho com seu processo de individuação, que é o processo de se tornar
inteiro. Maturidade, segurança, confiança, amor próprio, centramento e relaxamento
são alguns méritos dessa conquista. Esse trabalho requer tempo, esforço,
comprometimento, continuidade e algum
sacrifício.
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