quinta-feira, 3 de julho de 2014

Diálogo - A verdadeira democracia


Diálogos

A verdadeira democracia

“Se eu puder ver com os seus olhos e você com os meus, cada um de nós verá algo que talvez não tivéssemos visto sozinhos” – Peter Senge

                A comunicação é um componente fundamental para que haja um bom relacionamento. Pessoas com dificuldades de comunicação geralmente tem dificuldades de relacionamento. Seja entre casal, pais e filhos, amigos ou colegas de trabalho, comunicar bem é a chave do bom relacionamento. Ações efetivas podem transcorrer após um bom diálogo. Comunicação é um dom, um talento, uma arte que pode ser aprendida.

                A começar pelo diálogo. Muita gente acha que está dialogando quando na realidade está discutindo. E qual a diferença? Podemos ter até vários estilos de conversação variando do debate rude, passando por uma discussão polida, hábil até o diálogo produtivo. Na discussão, alguém está querendo ganhar, impor seu pensamento ou convencer o outro de que sua idéia é melhor. No diálogo, há um ganha-ganha, uma construção coletiva de significado, as duas ou mais partes expõem suas visões e tentam chegar num consenso.

                Em grego, dia-logos, dia significa através e logos, palavra. Através da palavra um fluxo de significado transcorre. Pode ocorrer entre qualquer número de pessoas, inclusive é possível se ter a impressão de estar tendo um diálogo consigo mesmo, um diálogo interno. O espírito do diálogo acontece quando há um acolhimento de todas as idéias e pontos de vista, sem defesas. A escuta é necessária para que haja este estado de receptividade.

O que acontece na maioria das vezes numa discussão, é que as pessoas não se escutam. Quando uma está falando, a outra já está se preparando para o que vai dizer em seguida, pensando nas palavras que vai usar, então perde o que outro está dizendo. Isto gera um clima de ansiedade e atropelo, um padrão muito comum em nossa sociedade. Quantas reuniões de trabalho se tornaram improdutivas justamente por este padrão. As pessoas mais tímidas e menos competitivas acabam deixando de falar suas idéias para não terem que entrar na luta, deixando de dar suas contribuições.

Quando as pessoas começam a trabalhar seus egos e passam a pensar coletivamente, deixam de se importar com quem tem razão para priorizarem qual ideia é a mais produtiva. Várias visões sobre o mesmo tema são bem vindas com a finalidade de enriquecer compreensões. O diálogo visa abrir questões, estabelecer relações, compartilhar idéias, aprender visões novas através da diversidade e pluralidade. A partir desta escuta é possível se chegar a novas compreensões e criar soluções antes não pensadas.

Opiniões são idéias vindas de experiências e de percepções. Há quem se agarre nas opiniões como portos seguros e não se permita refletir sobre novas possibilidades. Percepções da realidade são limitadas e precisam ser desafiadas. Podemos ver apenas de um só ângulo e se confrontarmos com outras opiniões poderemos sair enriquecidos. Se tivermos flexibilidade podemos ampliar percepções ouvindo a experiência alheia.

Uma discussão é válida quando o objetivo é demarcar posições, quando é necessário descartar idéias para encontrar a melhor saída. Acontece que estamos muito acostumados a somente discutir e não aproveitamos a riqueza do diálogo.

David Bohm, físico americano, criou uma metodologia chamada grupos de diálogo, em que as pessoas sentam em circulo e exploram várias facetas de um mesmo tema. O círculo é uma geometria que favorece a união e o sentimento de pertencimento. Simboliza a totalidade em que cada um é parte essencial deste todo.  A ideia do diálogo não é chegar a um consenso. No consenso parece haver uma acomodação escolhendo a ideia que contemple melhor para  todos, então algumas pessoas abrem mão de algum ponto para se ajustarem à maioria. Um grupo de diálogo visa uma compreensão mais rica sobre determinado tema não precisando ter que chegar a nenhum lugar específico. Como David Bohm nos conta, um antropólogo que viveu numa tribo indígena observou o padrão de comunicação existente:  todos se sentavam num grande grupo com cerca de 20 a 40 pessoas, para exporem suas idéias, desde os mais velhos até os mais jovens, homens e mulheres. Neste grupo ninguém tomava decisão alguma sobre o que fazer, apenas alargavam seus horizontes sobre determinado assunto. Após terem esgotado o conteúdo, sentavam-se em pequenos grupos com mais firmeza do que deveriam fazer, sem ninguém ter que ordenar. A consciência era a motriz fundamental de suas ações.

Em grupos de diálogo que facilitei, pude perceber quando se chega a uma nova e transcendente compreensão, que um silêncio se irrompe. Um silêncio pleno e cheio de significado onde nenhuma palavra mais é necessária para qualquer entendimento.

Sílvia Rocha – Psicóloga – silviaayani@gmail.com

                www.silvia.renata.rocha.blogspot.com.br

 

 

 

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