Diálogos
A verdadeira democracia
“Se eu puder ver com os seus
olhos e você com os meus, cada um de nós verá algo que talvez não tivéssemos
visto sozinhos” – Peter Senge
A comunicação é um componente fundamental
para que haja um bom relacionamento. Pessoas com dificuldades de comunicação
geralmente tem dificuldades de relacionamento. Seja entre casal, pais e filhos,
amigos ou colegas de trabalho, comunicar bem é a chave do bom relacionamento.
Ações efetivas podem transcorrer após um bom diálogo. Comunicação é um dom, um
talento, uma arte que pode ser aprendida.
A começar pelo diálogo. Muita
gente acha que está dialogando quando na realidade está discutindo. E qual a
diferença? Podemos ter até vários estilos de conversação variando do debate
rude, passando por uma discussão polida, hábil até o diálogo produtivo. Na
discussão, alguém está querendo ganhar, impor seu pensamento ou convencer o
outro de que sua idéia é melhor. No diálogo, há um ganha-ganha, uma construção
coletiva de significado, as duas ou mais partes expõem suas visões e tentam
chegar num consenso.
Em grego, dia-logos, dia
significa através e logos, palavra. Através da palavra um
fluxo de significado transcorre. Pode ocorrer entre qualquer número de pessoas,
inclusive é possível se ter a impressão de estar tendo um diálogo consigo
mesmo, um diálogo interno. O espírito do diálogo acontece quando há um
acolhimento de todas as idéias e pontos de vista, sem defesas. A escuta é
necessária para que haja este estado de receptividade.
O que acontece na maioria das vezes numa discussão, é que as pessoas
não se escutam. Quando uma está falando, a outra já está se preparando para o
que vai dizer em seguida, pensando nas palavras que vai usar, então perde o que
outro está dizendo. Isto gera um clima de ansiedade e atropelo, um padrão muito
comum em nossa sociedade. Quantas reuniões de trabalho se tornaram improdutivas
justamente por este padrão. As pessoas mais tímidas e menos competitivas acabam
deixando de falar suas idéias para não terem que entrar na luta, deixando de
dar suas contribuições.
Quando as pessoas começam a trabalhar seus egos e passam a pensar
coletivamente, deixam de se importar com quem tem razão para priorizarem qual
ideia é a mais produtiva. Várias visões sobre o mesmo tema são bem vindas com a
finalidade de enriquecer compreensões. O diálogo visa abrir questões,
estabelecer relações, compartilhar idéias, aprender visões novas através da
diversidade e pluralidade. A partir desta escuta é possível se chegar a novas
compreensões e criar soluções antes não pensadas.
Opiniões são idéias vindas de experiências e de percepções. Há quem se
agarre nas opiniões como portos seguros e não se permita refletir sobre novas
possibilidades. Percepções da realidade são limitadas e precisam ser
desafiadas. Podemos ver apenas de um só ângulo e se confrontarmos com outras
opiniões poderemos sair enriquecidos. Se tivermos flexibilidade podemos ampliar
percepções ouvindo a experiência alheia.
Uma discussão é válida quando o objetivo é demarcar posições, quando é
necessário descartar idéias para encontrar a melhor saída. Acontece que estamos
muito acostumados a somente discutir e não aproveitamos a riqueza do diálogo.
David Bohm, físico americano, criou uma metodologia chamada grupos de
diálogo, em que as pessoas sentam em circulo e exploram várias facetas de um
mesmo tema. O círculo é uma geometria que favorece a união e o sentimento de pertencimento.
Simboliza a totalidade em que cada um é parte essencial deste todo. A ideia do diálogo não é chegar a um consenso.
No consenso parece haver uma acomodação escolhendo a ideia que contemple melhor
para todos, então algumas pessoas abrem
mão de algum ponto para se ajustarem à maioria. Um grupo de diálogo visa uma
compreensão mais rica sobre determinado tema não precisando ter que chegar a
nenhum lugar específico. Como David Bohm nos conta, um antropólogo que viveu numa
tribo indígena observou o padrão de comunicação existente: todos se sentavam num grande grupo com cerca
de 20 a 40 pessoas, para exporem suas idéias, desde os mais velhos até os mais
jovens, homens e mulheres. Neste grupo ninguém tomava decisão alguma sobre o
que fazer, apenas alargavam seus horizontes sobre determinado assunto. Após
terem esgotado o conteúdo, sentavam-se em pequenos grupos com mais firmeza do
que deveriam fazer, sem ninguém ter que ordenar. A consciência era a motriz
fundamental de suas ações.
Em grupos de diálogo que facilitei, pude perceber quando se chega a uma
nova e transcendente compreensão, que um silêncio se irrompe. Um silêncio pleno
e cheio de significado onde nenhuma palavra mais é necessária para qualquer
entendimento.
Sílvia Rocha – Psicóloga – silviaayani@gmail.com
www.silvia.renata.rocha.blogspot.com.br
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