quarta-feira, 1 de abril de 2015

Meus pais se separaram, e agora?

Meus pais se separaram, e agora?
Por mais que se saiba que quando um casal com filhos se separa, continua sendo pais, não é assim que os filhos ou os próprios pais podem sentir. O assunto é vasto e cada caso é único, mas vale tecer algumas considerações diante das dificuldades encontradas pelos pais, que tenho observado em minha prática clínica.
O foco aqui é na saúde mental da criança, que pode viver essa passagem da vida de forma saudável ou traumática. E isso tem muito a ver em como os pais conduzem a separação e como se comunicam com os filhos a respeito dela. É uma bobagem achar que uma criança por mais nova que ela seja não perceba o que está acontecendo. Inclusive quanto mais nova, ainda bebê, ela ainda não tem um ego estruturado e pode captar muito mais inconscientemente. Por isso autores como a psicanalista Francoise Dolto, insistem na comunicação oral desde cedo.
Na barriga da mãe, o nenen ouve as vozes daqueles que esperam sua chegada. Principalmente a voz do pai, e é a partir daí, que esse lugar do pai fica marcado em sua psique. Mais ainda se a mãe se refere a ele afetivamente. Até um ano de idade o nenen está muito amparado pela mãe, a amamentação é um dos fatores que colabora para isso. Tão melhor se chega até 2 anos de idade. Para o pai entrar, é preciso uma permissão da mãe. Há mães que querem o nenen só pra si, alienando o pai ou outros familiares. É muito importante pra criança que os vínculos sejam feitos desde cedo. Patologias podem se dar, devido a essa simbiose doentia com a mãe.
Esses vínculos com os filhos também não dependem do casal estar junto. Os pais estão juntos no interior da criança. Por isso que falar mal de um, é magoar e enfraquecer a própria criança. É lamentável observar como os pais usam os filhos para manipular o outro, causando mais mal no filho do que em qualquer outra pessoa.
Não é preciso estar separada para uma mãe fazer uma alienação parental. E vice versa. Um cônjuge falar mal do outro para o filho já é o bastante para fazer um estrago. Porque um filho é feito da união de pai e mãe. Ele é metade pai e metade mãe. E dessa união ele vai fazer algo único e original, vai ser ele mesmo.
As crianças devem ser preservadas dos problemas de adultos, mas devem ser informadas de uma decisão como a separação. Esse assunto concerne a ela também, saber que um dos pais irá sair de casa, que a rotina irá mudar. Rotina dá segurança à criança. Por isso é normal que sentimentos de insegurança apareçam até que a nova configuração se estabeleça. E é na escola que os sintomas costumam aparecer.
Uma união é tão legítima como uma separação., mas a separação parece não ser tão aceita quanto a união. Já foi mais tabu, hoje mais corriqueira, mas ainda não tão bem elaborada. E daí ocorrem os não ditos, as desonestidades para com o cônjuge ou os filhos. Melhor seria se a verdade transparecesse, pois podemos lidar melhor com o que está claro. E o que torna um assunto difícil são os sentimentos de culpa, a negação, a ilusão, o não querer admitir um fracasso que pode estar associado com uma falta de humildade.
O silêncio em torno da separação torna o assunto algo “sujo” ou sombrio para a criança. O falar sobre e permitir que sentimentos sejam expressos é o caminho mais saudável. Se esse espaço não existe, a criança tende a fantasiar e achar que tudo é sua culpa. Até seis ou sete anos a criança é egocêntrica e tende a achar que tudo é por sua causa.
Assumir a humanidade diante dos filhos é muito aconselhável. Falar de suas dificuldades sem fazer uma catarse, o que viria a despejar um peso muito grande em cima dele. Normalmente os filhos já estão percebendo os desentendimentos, as brigas ou o distanciamento e o silêncio entre os seus pais. Só que é difícil assumir, tanto os próprios pais quanto o filho que o casamento acabou.
Os pais confusos e cheios de sentimentos reprimidos precisam buscar uma ajuda de uma outra pessoa, seja amigo, terapeuta, parente. Só poderão compartilhar com os filhos da separação, quando esta já está mais elaborada e integrada dentro de pelo menos um dos cônjuges. Separar-se sem avisar nada aos filhos, é o que pode trazer mais trauma para a criança. É como se ela não fizesse parte, é como se ela não fosse considerada. É preciso dar espaço para todo e qualquer sentimento e suas expressões.
Tentar evitar que os filhos sofram é compreensível, pois a dor dos filhos dói muito mais nos pais. Mas também dar oportunidade de viver a dor é fazê-la passar e não se transformar em sofrimento, como toda dor vivida, passa. O casal também pode escolher viver junto mesmo que já não haja um relacionamento de casal. Mas é isso que vão ensinar aos filhos. Crianças aprendem muito mais por modelos. Se eles testemunham a verdade, o amor, a honestidade é isso que vão aprender. O melhor que os pais podem dar aos seus filhos é eles próprios serem felizes.
Uma separação honesta pode dar aos filhos condições de se estruturarem e aprenderem a serem fortes diante das perdas e das mudanças da vida. Toda mudança implica em perdas mas também em novos ganhos. Crescimento e maturidade leva tempo e vivência para ser adquirida e o fruto colhido só pode ser o da felicidade.
Sílvia Rocha – Psicóloga Transpessoal Junguiana, crp:05/21756
Arteterapeuta e consteladora familiar sistêmica

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