Dar e Receber
Parte I – Pais e
filhos
Diário de Teresópolis, 13 de fevereiro de 2014
O amor é o alimento psicológico que todos
precisam para ter saúde mental. Dar e receber demanda vínculo, e este se
constrói com a presença qualitativa e tendo constância e quantidade ainda
melhor. O equilíbrio desta troca é que é o desafio. Segundo o terapeuta familiar sistêmico, Bert
Hellinger, existem as ordens e desordens familiares que podem trazer saúde ou doença.
Pais
dão aos seus filhos, sem pedir nada em troca, pois é uma relação assimétrica. O
filho só recebe e vai passar adiante o que recebeu quando ele tiver seus
próprios filhos e assim o amor vai fluindo de geração em geração. É claro que
os filhos amam seus pais e vão cuidar deles quando estes estiverem idosos ou
doentes mas na condição de filho, nunca se colocando numa posição acima dos
pais. Acontece muitas vezes uma inversão de papéis, onde os filhos cuidam dos
pais, e tem grandes responsabilidades desde novos, sobrecarregando-os. A
responsabilidade de uma criança deve se resumir à escola, deixando todo o resto
com os pais. Ajudar em casa pode ser um bom treinamento para o futuro, dentro
de uma medida que a criança possa cumprir.
A
criança precisa receber atenção, ser ouvida em suas necessidades, mesmo que
estas não sejam audíveis, ou seja ela manifesta através de sinais em seu
comportamento, ficando calada demais, fazendo bagunça demais, chorando ou
irritada demais. É costume falar que a criança está manhosa quando está
chorando demais. Essa manha é sinal que algo não está bem. Ignorá-la não vai
fazer com que o assunto se resolva. Conversar sobre as emoções que se sente ou
desenhar se for mais fácil. A criança fala e se expressa com muito mais
facilidade que o adulto quando recebe o estímulo e o acolhimento para isso.
A
atenção à criança deve passar pela alimentação, é uma boa hora de estar junto
para que ela receba não só alimento físico, mas o emocional também. Brincar
junto, envolvendo-se em seu universo, conversar como foi o seu dia na escola,
olhá-la nos olhos e tocá-la. Abraço, beijo, massagens, colo vai dando contorno
à sua personalidade que é construída nesta fase.
Só
conseguimos dar o que recebemos. Se uma criança é muito agressiva e até
violenta, está manifestando no mínimo que ela não foi atendida em suas
necessidades e no máximo que um dos pais está colocando sua própria vida em
risco, ou que ela recebe mesmo maus tratos. Ela estará reproduzindo um padrão
vivido, é um pedido de socorro. A raiz da violência vem da incapacidade de amar
e as crianças aprendem a amar na família. Outras pessoas podem entrar para
criar vínculos amorosos neste caso ajudando a criança a sair do padrão familiar
doentio: professores, psicólogos, assistentes sociais, médicos, pais de amigos,
parentes mais distantes são bem vindos para mostrar outras possibilidades de
amor e cuidado.
De zero a dois
anos, a criança precisa receber colo, toque, estar em contato físico. A
amamentação deve ser estimulada não só pelos inúmeros benefícios que trazem à
saúde da criança e da mãe, como pelo contato seguro com sua mãe. Olhos nos
olhos fortalece o vínculo e a confiança.
Nesta fase, o pai deve dar suporte à mãe, criando condições para um
ambiente protegido e calmo para maternar seu filho. Quando isso não acontece a
criança pode ficar com um registro de abandono.
De dois a
quatro anos, o ambiente da criança é a casa, que deve ser um lugar seguro para
explorações e brincadeiras. A fantasia é um elemento estruturante. Receber seus
presentes como desenhos, flor colhida no jardim, é confirmar seus movimentos de
amor. Uma interrupção nessa hora do tipo
“agora não, que estou ocupada” pode criar um sentimento de rejeição e gerar uma
dificuldade de expressão dos sentimentos no futuro.
De quatro a
seis anos, o território da escola é muito importante. A socialização, o
estímulo, a exploração do meio, quando não vivenciadas podem gerar um registro
de incapacidade. As artes são muito recomendadas nesta fase.
Para os pais
de adultos, os filhos serão sempre crianças. Alguns pais têm dificuldades de
atualizar que o filho não tem mais cinco anos. Quem não consegue enxergar o
crescimento do filho, chega a infantilizá-lo, querendo resolver tudo para ele
como se ele não soubesse ou fosse incapaz de realizar. Isso gera um
desequilíbrio na relação. O ideal é que os pais passem a confiança aos filhos e
que agora é com eles, do jeito deles. Tudo já foi dado, mas se eles precisarem
de ajuda, estarão disponíveis se for preciso e solicitado.
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