terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Dar e receber - Parte I - Pais e filhos


Dar e Receber

Parte I – Pais e filhos
Diário de Teresópolis, 13 de fevereiro de 2014

                 O amor é o alimento psicológico que todos precisam para ter saúde mental. Dar e receber demanda vínculo, e este se constrói com a presença qualitativa e tendo constância e quantidade ainda melhor. O equilíbrio desta troca é que é o desafio.  Segundo o terapeuta familiar sistêmico, Bert Hellinger, existem as ordens e desordens  familiares que podem trazer saúde ou doença.

                Pais dão aos seus filhos, sem pedir nada em troca, pois é uma relação assimétrica. O filho só recebe e vai passar adiante o que recebeu quando ele tiver seus próprios filhos e assim o amor vai fluindo de geração em geração. É claro que os filhos amam seus pais e vão cuidar deles quando estes estiverem idosos ou doentes mas na condição de filho, nunca se colocando numa posição acima dos pais. Acontece muitas vezes uma inversão de papéis, onde os filhos cuidam dos pais, e tem grandes responsabilidades desde novos, sobrecarregando-os. A responsabilidade de uma criança deve se resumir à escola, deixando todo o resto com os pais. Ajudar em casa pode ser um bom treinamento para o futuro, dentro de uma medida que a criança possa cumprir.

                A criança precisa receber atenção, ser ouvida em suas necessidades, mesmo que estas não sejam audíveis, ou seja ela manifesta através de sinais em seu comportamento, ficando calada demais, fazendo bagunça demais, chorando ou irritada demais. É costume falar que a criança está manhosa quando está chorando demais. Essa manha é sinal que algo não está bem. Ignorá-la não vai fazer com que o assunto se resolva. Conversar sobre as emoções que se sente ou desenhar se for mais fácil. A criança fala e se expressa com muito mais facilidade que o adulto quando recebe o estímulo e o acolhimento  para isso.

                A atenção à criança deve passar pela alimentação, é uma boa hora de estar junto para que ela receba não só alimento físico, mas o emocional também. Brincar junto, envolvendo-se em seu universo, conversar como foi o seu dia na escola, olhá-la nos olhos e tocá-la. Abraço, beijo, massagens, colo vai dando contorno à sua personalidade que é construída nesta fase.

                Só conseguimos dar o que recebemos. Se uma criança é muito agressiva e até violenta, está manifestando no mínimo que ela não foi atendida em suas necessidades e no máximo que um dos pais está colocando sua própria vida em risco, ou que ela recebe mesmo maus tratos. Ela estará reproduzindo um padrão vivido, é um pedido de socorro. A raiz da violência vem da incapacidade de amar e as crianças aprendem a amar na família. Outras pessoas podem entrar para criar vínculos amorosos neste caso ajudando a criança a sair do padrão familiar doentio: professores, psicólogos, assistentes sociais, médicos, pais de amigos, parentes mais distantes são bem vindos para mostrar outras possibilidades de amor e cuidado.

De zero a dois anos, a criança precisa receber colo, toque, estar em contato físico. A amamentação deve ser estimulada não só pelos inúmeros benefícios que trazem à saúde da criança e da mãe, como pelo contato seguro com sua mãe. Olhos nos olhos fortalece o vínculo e a confiança.  Nesta fase, o pai deve dar suporte à mãe, criando condições para um ambiente protegido e calmo para maternar seu filho. Quando isso não acontece a criança pode ficar com um registro de abandono.

De dois a quatro anos, o ambiente da criança é a casa, que deve ser um lugar seguro para explorações e brincadeiras. A fantasia é um elemento estruturante. Receber seus presentes como desenhos, flor colhida no jardim, é confirmar seus movimentos de amor.  Uma interrupção nessa hora do tipo “agora não, que estou ocupada” pode criar um sentimento de rejeição e gerar uma dificuldade de expressão dos sentimentos no futuro.

De quatro a seis anos, o território da escola é muito importante. A socialização, o estímulo, a exploração do meio, quando não vivenciadas podem gerar um registro de incapacidade. As artes são muito recomendadas nesta fase.

Para os pais de adultos, os filhos serão sempre crianças. Alguns pais têm dificuldades de atualizar que o filho não tem mais cinco anos. Quem não consegue enxergar o crescimento do filho, chega a infantilizá-lo, querendo resolver tudo para ele como se ele não soubesse ou fosse incapaz de realizar. Isso gera um desequilíbrio na relação. O ideal é que os pais passem a confiança aos filhos e que agora é com eles, do jeito deles. Tudo já foi dado, mas se eles precisarem de ajuda, estarão disponíveis se for preciso e solicitado.

 

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