Arte, saúde, terapia
e transcendência
“O que determina se
um homem é doente ou sadio não é a intensidade da sua fantasia, mas sua habilidade
ou inabilidade para transformá-la em realidade.” – Erich Neumann
“Existe uma
vitalidade, uma força de vida, uma energia, um despertar, que é traduzido em
ação através de você, e porque só existe um de você em todos os tempos, essa
expressão é única.”
- Martha Graham
“A
arte pode elevar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser
íntegro, total.” – Ernst Fischer
Pintura, escultura, desenho,
dança, teatro, fotografia, filmagem, escrita, poesia, música, construção com
sucatas, dentre outras são formas de expressar e fazer arte. A arte é uma criação não prevista pois é
autêntica. O artista quando cria está aberto ao novo. É uma expressão que
comunica algo de dentro para o mundo. Neste
sentido a arte religa o que era antes individual a um coletivo. Ela comunica
independente de cultura ou época. Um sentimento expresso, um drama, um
protesto, uma paixão, uma esperança quando revelada numa arte, sensibiliza
porque provoca questões e reverbera condições humanas. A criação deriva de uma
experiência de realidade e toma forma. A obra de arte ecoa dentro de cada um de
uma forma diferente, e porque é essencialmente humana, da criança ao idoso
todos podem criar.
No momento da criação, o racional
fica de lado e o caos se instala, uma indefinição ou confusão tomam conta. Se
existe uma impregnação de conceitos e introjeção de valores ou metas a
alcançar, como criar a sua própria obra original? A criação nasce de um
sentimento ou intuição, um canal mais instintivo. Às vezes é necessária uma
tensão interna para mobilizar uma energia de criação, outras vezes apenas flui.
Em contato com o material plástico, o que antes era subjetivo e invisível toma
forma e se materializa. É um nascimento de algo que antes não existia ou
existia apenas na fantasia ou era inconsciente.
Cada arte é uma linguagem, formas
de arte são uma forma de comunicação e é também uma comunicação consigo mesmo
pois permite transbordar, extravazar o ser. Ela liberta, fazendo a energia
antes represada fluir. Plasmar a imagem na arte, despotencializa a carga energética.
Pode compensar a realidade ou colocar
uma “lente de aumento” para ver melhor. A pessoa se vê em sua obra, encontra-se
no seu fazer, dando forma ao contorno, limite ao que antes era subjetivo. O que
tem limite é melhor percebido, pois permite a existência das formas que trazem
estruturas, ordenação. Por isso a arte diminui os surtos psicóticos em
psicóticos. E em alguns casos evitam somatizações de doenças. Se algo já foi
expresso pela arte não precisa encontrar no corpo o canal de expressão.
Um artista
por profissão possui o ofício mais saudável, pois a arte é orgânica, respeita
os ritmos do corpo e da alma. É natural e não força a barra. Há uma renovação
que é uma constante atualização de si mesmo. É recomendado então que cada
trabalho mesmo que não artístico, seja feito com arte, com alma. A arte é extensão da existência, fazer com criatividade
é colocar mais vida no que você faz.
A arte cura pois é terapêutica
pelo simples fazer. A criação flui do
inconsciente para o consciente tornando visíveis imagens internas. E essa
capacidade de criar está intimamente ligada à nossa criança interior que é
responsável pela nossa saúde mental. Quando um adulto começa a criar possui
muitas críticas e julgamentos pois está preso nos conceitos de certo e errado.
O que há são expressões e como tais estão todas adequadas e bem vindas. Adultos
foram condicionados, adaptados e até reprimidos. Quando perdemos nossa
capacidade de criar, perdemos também a capacidade de encontrar soluções, ser
flexíveis e saudáveis.
Usamos as quatro funções
psicológicas para criar: a intuição traz a inspiração, o sentimento mobiliza a
energia, a sensação do contato com o material permite o fazer e o pensamento
ajuda a elaborar o que foi feito. É por isso que a arte é um instrumental forte
na terapia. O terapeuta tem a função de mediar esse encontro da pessoa com seu
inconsciente para que ela mesma encontre seu caminho, suas respostas. Na
arteterapia, o terapeuta facilita esse processo criativo de construção e
reencontro com o si mesmo. É possível resgatar partes negligenciadas de si
mesmo como traumas e também talentos. Tornando visível o oculto, facilita o
lidar e o transcender.
Uma vez que a pessoa
encontra seu canal próprio de expressão
e transformação, ela pode seguir criativamente pela vida. Criando sua própria
história será um artista de sua própria vida, seu próprio guia, em uma conexão
divina. E porque aprendeu a se transformar, pode vir a transformar o mundo.
Sílvia Rocha – psicóloga
crp:05/21756 Arteterapeuta e consteladora familiar sistêmica
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