Resiliência
Psicológica
“Nossa habilidade em
reagir ao Presente consiste em encontrar a beleza em cada momento do dia,
usando nossos dons, talentos e capacidades para incrementar o bem comum.” –
Jamie Sams
Resiliência
é a capacidade de um sistema voltar ao seu estado de equilíbrio após uma
perturbação. Este conceito pode ser empregado na Física, na Biologia e na
Psicologia. Na Física, significa a propriedade de um corpo se recuperar de um
choque ou deformação. Na biologia, relaciona-se à adaptabilidade e a capacidade
de manutenção da vida. Em termos psicológicos nos remete a possibilidade que
temos de vencer obstáculos, de tomar decisões sob pressão, de resistir sem
desistir, de superar desafios, de manter equilíbrio emocional quando a situação
não se desenrola como esperado, de se recuperar após um susto. Para isso é
necessário uma força interna que promova a recomposição após um momento de perda,
de abalo, de insegurança ou incerteza. Uma força que pode ser sutil e não
física, mais psicológica e espiritual do que material.
Tal
qual um bambu se curva para depois voltar a seu estado reto, é preciso
flexibilidade para contornar situações adversas. Em inglês, resilience significa elasticidade. Como
um rio que flui se desviando das pedras, essa maleabilidade acontece quando
abandonamos estruturas de pensamento rígidas, comportamentos delimitados, ações
fixas e burocráticas, às vezes significa abrir mão de orgulho, apegos,
certezas, regras obsoletas.
A resiliência
pode ser compreendida como uma capacidade de elaborar uma perda. Daí a
importância do luto, um tempo de refletir, sentir como será a vida após
determinado acontecimento. Esse tempo é interno, silencioso, pede quietude,
diminuição das atividades cotidianas, dos estímulos externos. Um trauma, é
exatamente o contrário disto, é a incapacidade de integrar o evento, é a resistência,
como não aceitação do ocorrido.
A importância
da vivência de frustrações ao longo da vida desde criança torna o adulto mais
forte e capaz de lidar com as adversidades da vida e superá-las. Um adulto que
teve todas suas necessidades atendidas quando criança, vai ser mais frágil ao
lidar com situações contrárias e ter mais dificuldade de recuperação. É a
super-proteção que desprotege fazendo a pessoa ficar exposta ao stress, à ansiedade, à medos e
angústias. A frustração ao longo da vida vai construindo uma proteção onde
situações difíceis não desestabilizam tanto e é possível manter o centramento
em qualquer situação. É necessário que a criança tenha pais afetivos e cuidadores,
que deem suporte para seu desenvolvimento saudável, favoreçam um ambiente
seguro e transmitam confiança, equilíbrio e auto-controle.
Algumas
pessoas precisam adoecer depois de um evento traumático. Ficar doente implica
em parar, tomar um tempo para recuperação do ocorrido, isso poderia ser
contornado se a pessoa se pemitisse um luto, que é justamente esse tempo de
repouso para recuperar uma energia que se perdeu, após a perda de um ente
querido por exemplo, ou de um resultado não esperado. Uma pessoa resiliente tem
um sistema imunológico mais forte e não adoece facilmente, pois não se abate
facilmente também.
Resiliência
também é a capacidade de se reorganizar perante o stress, mantendo o domínio da
situação ao invés de ser tomado por ele. Implica numa sabedoria, na capacidade
de relaxar e confiar e não aumentar mais ainda o problema. Quem possui um
sentido para sua vida tem maiores chances de ressignificar os eventos cotidianos
e de buscar novos significados à vida. Isso envolve o julgamento que fazemos
das situações. Nem sempre uma situação ruim é o que parece ser. Mas nem sempre
conseguimos compreender isso no momento.
Uma boa
metáfora do ser resiliente é o arquétipo do herói, que encara a escuridão,
desce aos infernos e depois retorna fortalecido à luz. Podemos ver no Japão, um
povo altamente resiliente, após guerras e após tsunami, sua capacidade de
reconstrução é surpreendente e parece estar ligada às filosofias que regem seus
pensamentos. A meditação, a compaixão, a
não resistência aos eventos faz com que a capacidade de adaptação e
transformação impulsionem para frente. Lutar nesses casos parece levar a um
desgaste de energia. O que não pode ser mudado necessita de uma nova abordagem,
reconfigurando a visão para continuar seguindo em frente.
Medos e
desejos atrapalham esse processo de estar em comunhão com o universo. Apenas
seguir um fluxo de bem aventurança, como nos diz Campbell, prestando atenção ao
chamado da alma ou como nos diz os povos nativos, um caminho que tem coração. A
gratidão nos coloca sempre neste estado de Bem aventurança, onde bênçãos são
reconhecidas e por isso recebidas e ainda multiplicadas. O grande desafio de
transformar momentos difíceis em belos parece ser uma habilidade dos mestres e
das pessoas resilientes.
Sílvia Rocha
–psicóloga – silviaayani@gmail.com
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Dedico esse artigo a minha avó: Alice Martins
Rocha que fez a passagem para o mundo espiritual nesta segunda-feira, dia 21 de julho. Com seus
96 anos, essa guerreira muito me ensinou sobre resiliência, fé e amor pela
vida, sou muita grata pelas suas bênçãos!
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