sábado, 16 de agosto de 2014

Resiliência Psicológica


Resiliência Psicológica

“Nossa habilidade em reagir ao Presente consiste em encontrar a beleza em cada momento do dia, usando nossos dons, talentos e capacidades para incrementar o bem comum.” – Jamie Sams

                Resiliência é a capacidade de um sistema voltar ao seu estado de equilíbrio após uma perturbação. Este conceito pode ser empregado na Física, na Biologia e na Psicologia. Na Física, significa a propriedade de um corpo se recuperar de um choque ou deformação. Na biologia, relaciona-se à adaptabilidade e a capacidade de manutenção da vida. Em termos psicológicos nos remete a possibilidade que temos de vencer obstáculos, de tomar decisões sob pressão, de resistir sem desistir, de superar desafios, de manter equilíbrio emocional quando a situação não se desenrola como esperado, de se recuperar após um susto. Para isso é necessário uma força interna que promova a recomposição após um momento de perda, de abalo, de insegurança ou incerteza. Uma força que pode ser sutil e não física, mais psicológica e espiritual do que material.

                Tal qual um bambu se curva para depois voltar a seu estado reto, é preciso flexibilidade para contornar situações adversas. Em inglês, resilience significa elasticidade. Como um rio que flui se desviando das pedras, essa maleabilidade acontece quando abandonamos estruturas de pensamento rígidas, comportamentos delimitados, ações fixas e burocráticas, às vezes significa abrir mão de orgulho, apegos, certezas, regras obsoletas.

A resiliência pode ser compreendida como uma capacidade de elaborar uma perda. Daí a importância do luto, um tempo de refletir, sentir como será a vida após determinado acontecimento. Esse tempo é interno, silencioso, pede quietude, diminuição das atividades cotidianas, dos estímulos externos. Um trauma, é exatamente o contrário disto, é a incapacidade de integrar o evento, é a resistência, como não aceitação do ocorrido.

A importância da vivência de frustrações ao longo da vida desde criança torna o adulto mais forte e capaz de lidar com as adversidades da vida e superá-las. Um adulto que teve todas suas necessidades atendidas quando criança, vai ser mais frágil ao lidar com situações contrárias e ter mais dificuldade de recuperação. É a super-proteção que desprotege fazendo a pessoa ficar  exposta ao stress, à ansiedade, à medos e angústias. A frustração ao longo da vida vai construindo uma proteção onde situações difíceis não desestabilizam tanto e é possível manter o centramento em qualquer situação. É necessário que a criança tenha pais afetivos e cuidadores, que deem suporte para seu desenvolvimento saudável, favoreçam um ambiente seguro e transmitam confiança, equilíbrio e auto-controle.

Algumas pessoas precisam adoecer depois de um evento traumático. Ficar doente implica em parar, tomar um tempo para recuperação do ocorrido, isso poderia ser contornado se a pessoa se pemitisse um luto, que é justamente esse tempo de repouso para recuperar uma energia que se perdeu, após a perda de um ente querido por exemplo, ou de um resultado não esperado. Uma pessoa resiliente tem um sistema imunológico mais forte e não adoece facilmente, pois não se abate facilmente também.

Resiliência também é a capacidade de se reorganizar perante o stress, mantendo o domínio da situação ao invés de ser tomado por ele. Implica numa sabedoria, na capacidade de relaxar e confiar e não aumentar mais ainda o problema. Quem possui um sentido para sua vida tem maiores chances de ressignificar os eventos cotidianos e de buscar novos significados à vida. Isso envolve o julgamento que fazemos das situações. Nem sempre uma situação ruim é o que parece ser. Mas nem sempre conseguimos compreender isso no momento.

Uma boa metáfora do ser resiliente é o arquétipo do herói, que encara a escuridão, desce aos infernos e depois retorna fortalecido à luz. Podemos ver no Japão, um povo altamente resiliente, após guerras e após tsunami, sua capacidade de reconstrução é surpreendente e parece estar ligada às filosofias que regem seus pensamentos.  A meditação, a compaixão, a não resistência aos eventos faz com que a capacidade de adaptação e transformação impulsionem para frente. Lutar nesses casos parece levar a um desgaste de energia. O que não pode ser mudado necessita de uma nova abordagem, reconfigurando a visão para continuar seguindo em frente.

Medos e desejos atrapalham esse processo de estar em comunhão com o universo. Apenas seguir um fluxo de bem aventurança, como nos diz Campbell, prestando atenção ao chamado da alma ou como nos diz os povos nativos, um caminho que tem coração. A gratidão nos coloca sempre neste estado de Bem aventurança, onde bênçãos são reconhecidas e por isso recebidas e ainda multiplicadas. O grande desafio de transformar momentos difíceis em belos parece ser uma habilidade dos mestres e das pessoas resilientes.

 

Sílvia Rocha –psicóloga – silviaayani@gmail.com


·        Dedico esse artigo a minha avó: Alice Martins Rocha que fez a passagem para o mundo espiritual nesta segunda-feira, dia 21 de julho. Com seus 96 anos, essa guerreira muito me ensinou sobre resiliência, fé e amor pela vida, sou muita grata pelas suas bênçãos! 

 

 

 

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