No meio tempo
“No meio do caminho
tinha uma pedra,
No meio da pedra, um
caminho.”
A
crise da meia idade é um momento que todos chegam, mas nem todos aproveitam. É
um momento de olhar o passado e a
história criada, de perceber o caminho que fora trilhado, os ganhos as perdas,
as conquistas e o que ainda não fora realizado. E também de olhar pro futuro e
pra finitude da vida. É um momento mais psicológico do que cronológico. Não
existe data certa para acontecer. Pode ser incitado por uma crise real, uma
doença, uma perda, uma separação, uma depressão.
Os
motivos podem ser diferentes, mas todos eles despertam a consciência para o
sentido maior da existência, onde não cabem mais desculpas para adiamento de
coisas importantes ou justificativas para problemas que se repetem. Encarar a
vida como um eterno problema criado por outros ou se fazer de vítima não cabe
mais naqueles que já se interiorizaram e assumiram a responsabilidade pessoal
de suas vidas.
Papéis
são assumidos, defesas são construídas desde a mais tenra infância pela
aprendizagem destes através da observação dos pais. Como eles lidam com a vida
vai moldar estratégias na criança desde cedo. Uma mãe muito ansiosa com a vida,
vai ensinar que a vida precisa ser temida e controlada. Mesmo que a filha desta
mãe, tenha uma vida calma e tranquila, já adulta vai sentir a ansiedade que
aprendera em sua infância. Uma mulher frustrada em seus relacionamentos íntimos
com homens, pode ter sentido na infância uma indisponibilidade do pai para com
que ela, fazendo-a acreditar que não é merecedora de atenção. Feridas não
curadas são determinantes para construir uma personalidade adulta pouco
espontânea ou madura.
O
sofrimento vivido na infância vai forjar a personalidade adulta defendida, um
reflexo dos traumas. Na meia idade essa
falsa personalidade construída a partir de dores e mazelas vai ser colocada em
cheque. A verdadeira essência, Self ou Si Mesmo quer aparecer, cansada de estar
encoberta por máscaras que foram necessárias por um tempo, mas que pedem por
atualização. Será mesmo que é preciso continuar se defendendo? Será mesmo
necessário continuar atuando em papéis que não condizem com seu real Ser?
Essa
crise da meia idade vem provocar a pessoa para ela se descobrir, quem ela
realmente é além de sua história, além dos papéis interpretados?
Um adulto que
quando criança tomou uma decisão de agradar seus pais seguindo seus caminhos,
pode ter tido o alto custo de perder sua própria alma. Um filho que lutou a
vida toda para preservar os negócios do pai, sacrificando sua alma de artista,
pode deprimir diante da falta de sentido de sua vida para ele mesmo.
Questões
evitadas, colocadas em baixo do tapete, mantidas inconscientes, numa crise de
meia idade vem com força total. O tema da identidade se apresenta forte e
importante, quem sou eu e para onde vou? O que foi feito até agora e o que
deixei de fazer?
Pessoas que
construíram uma carreira, tiveram o foco em bens materiais, investiram sua
energia em se estruturar financeiramente, depois da meia idade passam a se
interessar por questões filosófica e espirituais. Já quem tenha se dedicado a
um caminho espiritual, pode sentir falta de construir agora na matéria, a sua
evolução. Aqueles que se desenvolveram intelectualmente graduando-se cada ano
mais, pode querer desenvolver seu lado mais emocional, expandindo sua relações
afetivas. Quem se dedicou ao coletivo, pode sentir falta de estar mais em
família e quem teve cedo sua própria família pode querer expandir seu
território afetivo para questões mais sociais e coletivas.
Esse momento
como toda crise pode vir acompanhado de sintomas, e cabe a cada um poder
entender o que cada sintoma está querendo dizer. Aqueles que já costumam
refletir e meditar talvez nem precisem fazer sintomas para provocar uma parada
em sua vida. A sinceridade consigo mesmo é o mais recomendado, e isso pode
significar ir contra todo um ambiente já consolidado e esperado. O sistema pede
coisas que vai contra a verdadeira essência. Questionar sem pressa de
responder, esperar que os sinais apareçam do mais íntimo de seu ser, é
maturidade. Talvez nessa fase, algumas coisas precisem morrer, para que outras
mais verdadeiras possam nascer. Se uma crise vem carregada de anseios, dúvidas
e dificuldades, passar por ela, pode ser a salvação para uma vida mais digna.
Porque é nas próprias dificuldades que estão as respostas. É preciso coragem
para se entregar a esse processo que não é fácil mas pode significar
renascimento para uma vida mais iluminada. E daí a crise passa a ser bem vinda
e abençoada
Sílvia Rocha
Disse muito!
ResponderExcluirNão sei de quem é a frase que você citou no início...
Um abraço
Oi Luiza, é minha mesmo!
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