quarta-feira, 20 de maio de 2015

Símbolos e Passagens


Símbolos e Passagens

“Nossa alienação moderna em relação ao mito não tem precedentes. No mundo pré-moderno, a mitologia era indispensável. Ela ajudava as pessoas a encontrar sentido em suas vidas, além de revelar regiões da mente humana que de outro modo permaneceriam inacessíveis. Era uma forma inicial de psicologia. As histórias de deuses e heróis que descem às profundezas da  terra, lutando contra  monstros e atravessando labirintos, trouxeram à luz os mecanismos misteriosos da psique, mostrando às pessoas como lidar com suas crises íntimas.” (...)“A mitologia foi, portanto, criada para nos auxiliar a lidar com as dificuldades humanas mais problemáticas. Ela ajudou as pessoas a encontrarem seu lugar no mundo e sua verdadeira orientação.” (ARMSTRONG, K)

                A Páscoa para os judeus (Pessach em hebraico - passar além) representa a passagem da escravidão dos hebreus no Egito para a conquista da liberdade e o retorno à uma vida digna. Liderado por Moisés atravessam o Mar Vermelho e o deserto. Esse momento coincidiu com o início da primavera, no hemisfério norte, então a renovação da natureza ficou sendo celebrada  junto com o renascimento de Israel.

                Já para os católicos, a ressurreição de Cristo marca a passagem para um novo tempo de mais esperança: Sexta-feira a morte de Cristo, sábado de aleluia e domingo de ressurreição compõem a Semana Santa. Não pode haver renascimento sem antes ter havido uma morte. A vida e a morte de Jesus é para a Psicologia Junguiana o símbolo do processo de individuação a qual todos podemos passar. Jesus é o homem divino, como todos nós em algum momento de nossas vidas podemos despertar para a dividade, não sem antes passarmos por alguma morte simbólica de personalidades falsas a que nos submetemos. A morte de uma vida guiada pelo ego, e o renascimento de uma vida guiada pelo Self, ou Totalidade.

                Em cada cultura, existem rituais e mitos que dão sentido às passagens da vida, repleto de símbolos que ajudam a passar de um estado a outro. Aqui a palavra mito não tem a ver com algo que não existe, como quando falamos: “Ah isso é mito’! Ou como se fosse uma mentira ou uma pessoa famosa que vira um ícone, dizemos que virou um mito. Os mitos vivem em nós e nos animam. Usamos aqui a palavra mito como a estória dos antigos, expressão da fantasia humana e ao mesmo tempo um evento que ocorreu e que continua acontecendo. Não é história, pois é atemporal. O mito é fictício e ao mesmo tempo real, na medida que continua nos influenciando e nos preenchendo de significados e dando um sentido a nossa vidas.

                Alguns símbolos da Páscoa que vivenciamos muito fortemente perderam seu significado mais uma vez para o consumismo. Os ovos de chocolate trazidos pelo coelhinho hoje carregados de embalagens coloridas e super heróis ou princesas com brinquedinho dentro, tornou-se o maior objetivo da Páscoa.

                Os ovos significam o começo da vida, o coelho, a fertilidade, a possibilidade de muitos nascimentos. E porque eles vieram representar a Páscoa? Conta um mito nórdico que os Deuses antigamente viviam na Terra e entre eles Ostara, uma linda jovem cheia de vida. Era a própria representação da donzela que por onde passa faz tudo florescer. Um dia, com saudades da lua, ela volta para sua antiga morada deixando tudo na Terra sem vida. Ela adorava a natureza e os animais, e quem mais sentia sua falta era uma lebre que aprendeu a uivar como os lobos para suplicar que Ostara  voltasse. Ostara quando viu o esforço que a lebre fazia, ficou comovida e voltou a Terra fazendo tudo florir novamente. Tornou a lebre, a guardiã e distribuidora dos ovos do nascimento que garantiam a continuidade da vida. E concedeu um dom a ela, de se transformar em pássaro para ir chamá-la na lua quando fosse a hora de voltar. Diz-se que quando a Deusa vai pra lua é outono e quando volta é a primavera.

                No hemisfério norte a Páscoa se dá na primavera, aqui repetimos o sincretismo criado pelo Rei Constantino que fusionou alguns símbolos pagãos aos rituais cristãos.

                E você? Que passagem gostaria de atravessar? Para uma vida mais livre e digna como os hebreus? Renascer para uma vida mais espiritual como Cristo? Qual parte de sua vida gostaria de fertilizar como a lebre de Ostara? Reflexões de passagens, aproveitando os ritos já estabelecidos!  No desejo e esperança que junto com os kilos a mais dos chocolates, também venham conquistas em direção aos anseios de sua alma. Feliz Páscoa!

Sílvia Rocha – Psicóloga Transpessoal junguiana (crp: 05/21756), Arteterapeuta, Consteladora familiar sistêmica

Contato: silviaayani@gmail.com e blog: www.silviarenatarocha.blogspot.com.br

 

               

           

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