Dar
e receber
Parte
II – Casal
Diário de Teresópolis, 20 de fevereiro de 2014
Também existem
ordens e desordens no amor entre um casal, segundo a teoria sistêmica. Assim
como a relação de pais e filhos deve ser assimétrica, os pais dão e os filhos
recebem, a de casal deve ser simétrica, ou seja, ambos dão e recebem. Pelo
menos assim se espera. Se um parceiro na relação se mantém num estado infantil,
vai querer receber mais do que dar. E o outro vai assumir uma atitude
maternal/paternal, o que pode levar ao insucesso da relação. Ficar na posição
de filho, numa relação amorosa, é querer receber do companheiro aquilo que se recebe
dos pais. Tudo bem dar um apoio, de vez em quando, mas amparar a relação nesta
condição não é maduro. Um adulto deve se manter firme sobre seus próprios pés,
sendo capaz de viver sozinho antes de se tornar um casal.
Quando
não existe essa maturidade, existem as manipulações que são manobras de
comportamento para se ganhar o que quer. Como quando a criança fica doente para
chamar atenção. Entrar na vítima, deixando o outro culpado, comprando o outro
com presentes ou facilitando sua vida. A
vítima pode ser muito perversa, quase se confundindo com o papel de tirano.
Fazer o outro se sentir mal é manter um estado de dependência. Como se o outro
fosse o responsável por você e seu estado. As manipulações geralmente são
inconscientes e necessitam de trabalho para a pessoa despertar. Assumir
responsabilidade é crescer, ficar independente e ganhar respeito. A relação
entre duas pessoas maduras é muito mais satisfatória.
Segundo
Caroline Myss, o arquétipo da vítima traz lições como atentar para os limites
pessoais, controle e poder sobre os outros e provoca a desenvolver a
auto-estima e poder pessoal. Toda a vez que esse papel de vítima aparecer, resgatar
a força da integridade. Quem tem auto-conhecimento, se fortalece e sabe de suas
reais possibilidades e limitações.
Em relações de
dependência, um não pode agir sem pensar no efeito sobre o outro, inibindo a
expressão dos dois. A saída para isso é cada um buscar seu espaço individual,
seu próprio continente que está no momento jogando sobre o outro. Ter a coragem
e a honestidade de refletir sobre si mesmo e ganhar um espaço vital único e
separado do outro para depois então, no encontro se reunir como dois seres
únicos.
Outro arquétipo
de manipulação que Myss traz, é o da prostituta. Geralmente associamos esta
palavra com venda do corpo, mas simbolicamente ela pode representar o que se
pode vender em troca de segurança. Quantas pessoas sustentam um relacionamento mesmo
sem amor, porque não querem ficar sozinhas, porque temem não se sustentar, não
querem ir à luta. Isso serve também para quem se mantém num emprego por causa
de segurança financeira, às custas da saúde e da felicidade. Até quem tem
valores éticos em nome da sobrevivência, acaba ferindo sua própria dignidade
porque não tem coragem de seguir outro caminho. A fé nesses casos se faz
necessária para impulsionar uma nova direção. O preço a pagar pode ser no final
das contas muito mais alto.
Para um casal,
é legal ter um contrato que se estabelece entre o dar e receber. Não só nas
questões práticas do dia a dia, do quem faz o quê, como também em termos de
concessões. Se um quer sair sozinho, viajar ou jogar futebol, enquanto o outro
cuida dos filhos e da casa, é necessário uma compensação depois. Negociação,
até que os dois se sintam atendidos.
Até entre
amigos, quando um ajuda o outro, o que foi ajudado fica geralmente com raiva,
pois se sente em dívida. E é chamado de ingrato. Essa dinâmica ocorre porque
quem prestou ajuda fica no lugar de superior e quem foi ajudado fica no lugar
de inferior. É preciso criar oportunidade para uma retribuição para assim sanar
este sentimento. Não é que precise medir e pagar na mesma moeda, às vezes um
reconhecimento e uma disponibilidade para ofertar algo em troca é uma boa
atitude, que equilibra a situação.
Quem quer
muito ajudar, fica na posição de poder. Para aceitar receber, precisa entrar na
humildade. Mas dificilmente se percebe isso e o bom moço doador vai se sentir
injustiçado quando não reconhecido. Quem quer a todos ajudar, está querendo
reconhecimento, se sentir valorizado. Uma parcela de caridade em nossas vidas é
muito bem vinda, faz o bem circular. Ajudar a quem não quer ser ajudado, ou não
pediu ajuda é que é a questão.
Olhar nos
olhos dissolve muita coisa. Descobrir como o outro se sente amado é tão
importante quanto amar. E dialogar, dialogar, dialogar, até silenciar...
Sílvia Rocha –
psicóloga crp:05/21756, Arteterapeuta
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigada! Muito bom ler seus textos! Sempre me fazem acordar! Beijos, Cinthia
ResponderExcluirObrigada pelo comentário Cínthia e que bom ajudam! beijos
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