quinta-feira, 6 de março de 2014

Somos todas Deusas ... Homenagem às mulheres


Somos todas Deusas

Homenagem às Mulheres
 
Diário de Teresópolis, 06 de março de 2014

Que mulher nunca sonhou ingenuamente com seu príncipe? Nunca maternou o filho, uma amiga aflita ou um parente adoentado? Que mulher nunca esbravejou e lutou por uma meta, ou não se deixou de lado para apoiar seu companheiro num momento difícil ou de vitória?  Que mulher nunca discutiu por justiça e igualdade ou silenciou para evitar um conflito e buscou dentro de si uma palavra sábia, apaziguadora? Que mulher nunca se cuidou num banho de espuma ou de salão e se entregou sem reservas a uma paixão?

Cuidar dos filhos, da casa, estudar, trabalhar, viajar, cozinhar, ter amigas, se cuidar, namorar e ainda se espiritualizar. Só deusas mesmo e elas existem povoando nossa psique. O arquétipo da Grande Mãe é melhor compreendido através das figuras personificadas em deusas, que ganham coloridos diferentes de cultura pra cultura. O panteão grego parece inspirar  bem as mulheres ocidentais.

Conta o mito que Atena nasce da cabeça de seu pai Zeus, que depois de engolir seus filhos - pois foi profetizado que um filho seu o destronaria - sentiu uma dor de cabeça e pediu para abrí-la. Atena nasce adulta armada e com armadura e torna-se aliada de seu pai. Mulheres –Atena são intelectuais, gostam de estudar e lutam por justiça, civilização e cultura. A palavra é sua espada e seu corpo a sua sombra. Com sua armadura-couraça, têm dificuldades de sentir.  Necessitam integrar mais seu emocional.

Deméter é a deusa-mãe que nos abençoa na gravidez, na criação dos filhos, no cuidado com a terra, a colheita, nos ciclos do corpo, das emoções, da natureza. Com ela nos engajamos na proteção ao planeta. Cuidamos do que é pequeno, do que cresce e necessita de cuidado. Mulheres muito identificadas com ela ficam sem rumo quando os filhos casam, viajam, ficam adultos. Com o ninho vazio tendem a deprimir e precisam arrumar outras motivações.

Perséfone,  filha de Deméter, casa-se com Hades, o rei do submundo que a sequestra tornando-a rainha. Deméter negocia com Hades para ficar seis meses (primavera-verão) com ela, devolvendo-a a ele na outra metade do ano(outono-inverno). Esse mito nos revela dois momentos do feminino: a ingênua filha, frágil e inexperiente, dependente da mãe, e a rainha do submundo, intuitiva  e conectada. Perséfone  aparece nas meninas e visita as mulheres maduras, que mergulham no inconsciente, as terapeutas que ligam os mundos. Podem ser mulheres que custam a crescer, saem da proteção da mãe para o marido e desconhecem seu poder pessoal.

Ártemis caçadora mira firme seu alvo na mata. Guerreira que usa seus instintos, nos ajuda reconectar com nossa natureza selvagem. Sobrevivência, espaço  vital, objetividade é ela quem nos auxilia a alcançar. Apolo, seu irmão é seu único companheiro, pois relacionamento amoroso não lhe atrai. Traz-nos fraternidade e coragem de ficar sozinha. Não é ela que precisamos quando queremos nos relacionar.

Afrodite é a deusa do amor e da beleza. Sabe se cuidar, se amar, se envolver e se entregar. Musa inspiradora de vários artistas, traz criatividade e arte. Exala sensualidade e nos prepara para viver um amor. Mas não necessariamente duradouro. Ela sabe sair de onde não existe amor e beleza. Ela nos ensina a auto-preservação, ajudando mulheres que sofrem de violência ou abuso. Mulheres-Afrodite  têm auto-estima, sabem conquistar e também se respeitar.

Hera é a deusa-esposa, casada com o todo poderoso Zeus, é a primeira dama que organiza a vida do marido. Acompanha-o em eventos sociais. Parceira fiel de seu companheiro não necessariamente fiel, é dedicada ao casamento que se torna sua razão de existir. Uma mulher necessita dessa energia para sustentar um relacionamento mesmo em momentos de crise.  Ciumenta, controla seu marido e se vinga de outras mulheres. Uma mulher-Hera que se separa pode ter uma crise de identidade, então prefere ficar infeliz, do que só.

Héstia é a Deusa-anciã, monástica. Muito honrada na antiga Grécia, aquecia os lares através do fogo sagrado central. Silenciosa e sábia, não está buscando um lugar no mundo, mas sim dentro dela. Ela aparece em mulheres mais velhas ou naqueles momentos de solidão e meditação. Pode nos ensinar muito quando paramos para escutá-la.

Temos um pouco de cada ou somos tomadas por uma, em um momento ou pela vida toda? Estão em conflito em nós ou se ajudam umas às outras? As deusas habitam a psicologia feminina. E os homens? Também as vivenciam, projetadas nas mulheres que se relacionam, seja mulher, amiga, amante, mãe, irmã ou avó. Vivemos os mitos ou os mitos vivem em nós? Dificíl responder. Mas, uma certeza temos, os mitos femininos podem ajudar a mulher a reverenciar sua própria sacralidade e de suas ancestrais.

Sílvia Rocha – Psicóloga

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