terça-feira, 6 de maio de 2014

Humanização nos Atendimentos


Humanização nos atendimentos

porque pessoas não são coisas.
Diário de Teresópolis, 24 de abril de 2014. 

“A falta de amor é a pior de todas as pobrezas.” - Madre Tereza de Calcutá

Na semana passada escrevi sobre atendimento, enfocando mais os comerciais. Essas demandas por mais cuidado e humanização perpassam a todas as relações de atendimento principalmente nas áreas de saúde. Apesar do próprio sistema público não oferecer as condições  adequadas para os profissionais trabalharem, isso não pode justificar a falta de cuidado nas relações. Sim às vezes parece muito difícil pois o ser humano costuma tratar o outro da mesma forma como foi ou é tratado. Em algum momento alguém tem que quebrar o ciclo vicioso. Ou melhor, pode, se quiser.

O que vivemos hoje, é que ao ficarmos doentes o hospital contribui ainda mais para esse adoecimento.  Falta de profissionais, muita demora ou má vontade, seja no público ou no privado, com ou sem plano de saúde. Mas não são todos. Ouvi de uma recepcionista do hospital São José: “se as pessoas já chegam com mal estar ou para visitar um parente doente, o melhor que podemos dar a elas é um sorriso e não uma cara feia”. Alguns profissionais de CTI por exemplo precisam ter cuidado pois por lidarem cotidianamente com a morte, o sofrimento e a doença podem se tornar insensíveis, até como forma de defesa.  

Um momento difícil requer acolhimento, amor, humanidade. E para isso não importa classe social ou dinheiro. Encontramos tratamentos humanos mas nem sempre. Pesquisa divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo mostra que uma em cada quatro mulheres já sofreram alguma violência no parto, física ou verbal. Pesquisa divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo mostra que uma em cada quatro mulheres já sofreram alguma violência no parto, física ou verbal. Humilhações verbais, também são violências, como no caso de adolescentes grávidas ouvirem na hora da dor do parto: “É na hora de fazer você gostou.” Uma denúncia pode ser feita no Ministério Público ou em delegacias e o profissional ter sua devida sanção. Marcação de uma cesária sem necessidade e contra a vontade da mulher, exames de toques contínuos para acelerar a dilatação, proibição de acompanhante ou de massagens, terror psicológico induzindo a mulher à cesária, dentre outros procedimentos também são violência obstétrica. A mulher tem o direito de escolher e merece todo o respeito e apoio nesse momento. Ela precisa estar muito empoderada e conhecendo seus direitos para lutar numa hora dessas contra a corrente de um sistema que não quer respeitar o tempo natural de seu corpo.

É importante também reconhecer e divulgar quando o oposto ocorre, e tratamentos mais dignos se dão. Geralmente são profissionais que não tratam pessoas como coisas, escutam, são guiados por um código de ética. Possuem valores intrínsecos que escolheram para suas vidas e além disso também fizeram um juramento profissional de honrar um compromisso para com outro ser humano.

Alguns profissionais de relações de ajuda como médicos e psicólogos podem cair numa armadilha que é a ilusão do poder devido a seu conhecimento. Arrogância médica distancia médico do paciente e parece que a cura está com o médico e seus remédios preescritos. A começar pela confiança e transferência de poder que o paciente deposita no médico, é tentador cair nesse lugar egóico de detenção do saber e do poder. Aprendi com os indígenas nas aldeias que cada um tem sua força de cura e deve aprender a se curar, tornando-se seu próprio médico interior.  Quando necessitamos de ajuda é para resgatar esse próprio poder interno. O outro, serve de estímulo, de guia, nos devolvendo a confiança e a fé.  O remédio vai sanar sintomas mas é a imunidade que vai manter o corpo sadio. E esta pode ser fortalecida com relaxamento, amor e confiança. Daí a importância da relação. Uma fala médica pode potencializar a saúde ou trazer mais doença ainda, pode enfraquecer ou suavizar uma tensão.  Uma pessoa que está doente fica mais vulnerável mas ainda sim pode ter a força de sua dignidade para exigir um tratamento mais humano. 

Sílvia Rocha – Psicóloga


silviaayani@gmail.com

 

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