Humanização nos atendimentos
porque pessoas não
são coisas.
Diário de Teresópolis, 24 de abril de 2014.
“A falta de amor é a
pior de todas as pobrezas.” - Madre Tereza de Calcutá
Na semana
passada escrevi sobre atendimento, enfocando mais os comerciais. Essas demandas
por mais cuidado e humanização perpassam a todas as relações de atendimento principalmente
nas áreas de saúde. Apesar do próprio sistema público não oferecer as
condições adequadas para os
profissionais trabalharem, isso não pode justificar a falta de cuidado nas
relações. Sim às vezes parece muito difícil pois o ser humano costuma tratar o
outro da mesma forma como foi ou é tratado. Em algum momento alguém tem que
quebrar o ciclo vicioso. Ou melhor, pode, se quiser.
O que vivemos
hoje, é que ao ficarmos doentes o hospital contribui ainda mais para esse
adoecimento. Falta de profissionais,
muita demora ou má vontade, seja no público ou no privado, com ou sem plano de
saúde. Mas não são todos. Ouvi de uma recepcionista do hospital São José: “se
as pessoas já chegam com mal estar ou para visitar um parente doente, o melhor
que podemos dar a elas é um sorriso e não uma cara feia”. Alguns profissionais
de CTI por exemplo precisam ter cuidado pois por lidarem cotidianamente com a
morte, o sofrimento e a doença podem se tornar insensíveis, até como forma de
defesa.
Um momento
difícil requer acolhimento, amor, humanidade. E para isso não importa classe
social ou dinheiro. Encontramos tratamentos humanos mas nem sempre. Pesquisa
divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo mostra que uma em cada quatro
mulheres já sofreram alguma violência no parto, física ou verbal. Pesquisa
divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo mostra que uma em cada quatro
mulheres já sofreram alguma violência no parto, física ou verbal. Humilhações verbais, também são
violências, como no caso de adolescentes grávidas ouvirem na hora da dor do
parto: “É na hora de fazer você gostou.” Uma denúncia pode ser feita no
Ministério Público ou em delegacias e o profissional ter sua devida sanção. Marcação
de uma cesária sem necessidade e contra a vontade da mulher, exames de toques
contínuos para acelerar a dilatação, proibição de acompanhante ou de massagens,
terror psicológico induzindo a mulher à cesária, dentre outros procedimentos
também são violência obstétrica. A mulher tem o direito de escolher e merece
todo o respeito e apoio nesse momento. Ela precisa estar muito empoderada e
conhecendo seus direitos para lutar numa hora dessas contra a corrente de um
sistema que não quer respeitar o tempo natural de seu corpo.
É importante
também reconhecer e divulgar quando o oposto ocorre, e tratamentos mais dignos
se dão. Geralmente são profissionais que não tratam pessoas como coisas,
escutam, são guiados por um código de ética. Possuem valores intrínsecos que
escolheram para suas vidas e além disso também fizeram um juramento
profissional de honrar um compromisso para com outro ser humano.
Alguns
profissionais de relações de ajuda como médicos e psicólogos podem cair numa
armadilha que é a ilusão do poder devido a seu conhecimento. Arrogância médica distancia
médico do paciente e parece que a cura está com o médico e seus remédios
preescritos. A começar pela confiança e transferência de poder que o paciente
deposita no médico, é tentador cair nesse lugar egóico de detenção do saber e
do poder. Aprendi com os indígenas nas aldeias que cada um tem sua força de
cura e deve aprender a se curar, tornando-se seu próprio médico interior. Quando necessitamos de ajuda é para resgatar
esse próprio poder interno. O outro, serve de estímulo, de guia, nos devolvendo
a confiança e a fé. O remédio vai sanar
sintomas mas é a imunidade que vai manter o corpo sadio. E esta pode ser
fortalecida com relaxamento, amor e confiança. Daí a importância da relação. Uma
fala médica pode potencializar a saúde ou trazer mais doença ainda, pode
enfraquecer ou suavizar uma tensão. Uma
pessoa que está doente fica mais vulnerável mas ainda sim pode ter a força de
sua dignidade para exigir um tratamento mais humano.
Sílvia Rocha –
Psicóloga
silviaayani@gmail.com
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