sexta-feira, 16 de maio de 2014

Homenagem às Mães

Homenagem às Mães
Diário de Teresópolis, 16 de maio de 2014

O Dia das Mães passou e inundou as redes sociais com homenagens afetivas, cada um a seu modo, com fotos e dedicatórias, emocionante de ver. Falar de mãe mexe com uma experiência primordial de vida. É com ela que aprendemos a amar, é o primeiro amor. Desta primeira experiência de vida é que vai depender o sucesso nas relações, no profissional e financeiro, pois é com ela que aprendemos a receber. E para receber precisamos estar pequenos, humildes diante da grandeza da Mãe.

No início somos simbióticos com ela, na barriga, já fomos Um só, pulsando, sentindo suas emoções. No parto, a dor não é só da mãe, mas do bebê que se separa daquele lugar seguro e confortável. Aí vem o colo, a nutrição, o toque, os cuidados, o amparo necessário à sobrevivência. Até um ano é uma gestação externa até o bebê estar preparado para andar. A criança agora explora “o mundo” de sua casa sob os olhares atentos de sua incansável mãe.

Mãe é tida como uma super humana que ultrapassa seus limites. Que deixa de lado suas vontades, que não pensa mais em si para dar tudo para seu filho. Quantas mães reconhecem seus limites? É esperado que ao se tornar mãe, vire uma santa. E como isso é impossível, as que reclamam de noites mal dormidas, da amamentação, da sobrecarga que é o acúmulo de tarefas são, às vezes julgadas. A mulher passa pela maternidade neste mundo patriarcal não sem se ressentir com tamanha cobrança.

Se possuem maridos maduros, vão ser apoiadas, massageadas, e por vezes rendidas para que tenham um descanso. Se o marido for imaturo, ele vai se magoar com tanta doação que ela dedica ao nenén, com a perda de atenção que antes era exclusivamente dele e vai desampará-la no momento que ela mais precisa. É hora de recorrer à sua própria mãe, uma aliada experiente e a todo círculo de mulheres que puder dar suporte: Sogra, irmãs, tias, amigas. Quando um casal vai ter um filho é organicamente desigual. A mulher vai ter seu corpo, sua saúde e sua vida investida na gestação, parto e amamentação. O que o marido pode fazer para equilibrar é dar todo apoio que puder para sua mulher.

É um momento belo, delicado e complexo. Tudo muda: corpo, psique, as relações. Uma crise pode se dar até que com o tempo tudo se ajuste. Algumas mães até deprimem e precisam de mais suporte ainda. Comparações feitas machucam. Se querem um momento para si, ficam culpadas. Isso tudo se atenua quando as mães olham para suas crias e o amor que elas sentem é tão grande que gera força para superação. Há relatos de mães que se sentem enganadas: “Ninguém me contou que era esse trabalho todo.”

Antes de ser mãe, a mulher pode se igualar aos homens no mercado de trabalho, depois que é mãe, não tem mais toda disponibilidade, a menos que deixe seu filho. Por isso uma experiência grandiosa que é dar a vida vem acompanhada muitas vezes de um sentimento de menos valia. Desses sentimentos contraditórios, nasce a mãe, que pode herdar por sua vez sentimentos de sua própria mãe. Cuidar de uma vida deveria ser o trabalho mais valorizado, mas em nossa sociedade não é.

Segundo a escritora Bethany Webster, em seu artigo: "A ferida da mãe", esta dor pode ser passada de geração a geração até que alguém ganhe consciência e possa convidar à cura. Uma filha pode internalizar uma crença da mãe de não ser boa o suficiente, fazendo com que ela própria não queira inconscientemente se realizar na vida para não magoar sua mãe e ganhar o seu amor e apreciação, ao invés de sua inveja. É uma felicidade que traz solidão por isso a filha se boicota para não ser mais do que a mãe conseguiu ser. O que ela precisa enxergar é que essa lealdade é à sua ferida, e não à sua mãe.

É preciso dar espaço e suporte para as mães expressarem suas raivas, tristezas, medos e perdas. Muitas vezes esses sentimentos estão guardados na sombra, mas uma hora vem à tona. Apenas ouvir sem julgar, com presença e apoio já é uma cura e tanto, pois uma vez expresso, qualquer sentimento se despotencializa e se esgota. Esta liberação possibilita viver o lado mais belo da maternidade com mais segurança e compreensão.

É preciso antes de mais nada, romper com esse tabu de que as mães são só doação, beleza e santidade. A mãe humana é forte, dedica-se, ama, supera mas também sofre e requer cuidados. Talvez integrados esses aspectos não tão belos, possamos reverenciar o feminino divino em cada mulher e honrar a mãe em toda sua plenitude.

Que as mães sejam homenageadas por todo ano!

*Dedico esse artigo à minha Mãe Ana Maria que sempre me apoiou. Gratidão pela vida. Eu nunca vou poder retribuir tudo o que você me deu. Homenageio você na minha maternidade, por toda a minha vida."

Sílvia Rocha

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