quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Poder das Vítimas




O Poder das Vítimas

Diário de Teresópolis, 22 de maio de 2014



“Onde reina o amor, não há vontade de poder, e onde domina o poder, falta o amor.



Um é a sombra do outro.”
Carl Gustav Jung



Aqui eu me refiro ao papel de vítima. Não necessariamente são vítimas, as pessoas que entram nestes papéis. Mas de tanto acreditarem no papel encenado acabam se sentindo como uma. Isso normalmente se desenrola inconscientemente e serve como uma forma de manipulação para atrair a atenção do outro para si, para receber ajuda, para ser poupado de trabalho, para ser perdoado de algum comportamento. O problema é que o papel de vítima pode acabar realmente atraindo tragédias, pois quem se vitimiza acaba encontrando um tirano ou uma situação perigosa.



“Coitadinho de mim” também poderia ser outro nome para esse papel. Como num teatro a pessoa atua até que o outro sinta pena dela. Normalmente são pessoas que estão sempre reclamando, contando dramas, choramingando, pedindo ajuda e se justificando como se elas não fossem capazes. O outro acaba por se sentir mal em não ajudar, culpado de não aliviar seu sofrimento. “As vítimas” são mestres em manipular pela culpa, pois o outro se sente tão mal que acaba cedendo para não se sentir culpado. Ninguém quer ser tirano então melhor ajudar a vítima coitadinha. Mas o que precisamos perceber é que essa máscara de vítima está encobrindo um verdadeiro tirano e o suposto tirano acaba por ser a vítima por cair na manipulação. Os papéis são trocados e se alternam. A vítima fica tão poderosa de conseguir o que quer, às custas do outro fazer o que não quer, que quando o outro a encontra, se puder, troca de calçada na rua para não ter que encará-la. A pessoa que se vitimiza o tempo todo, acaba por se tornar desagradável.



As “vítimas” possuem “mantras” que gostam de repetir. Mantras são como orações e em sânscrito quer dizer, controle da mente. São usados mais no oriente para concentração e gerar um estado desejado. Os mantras das vítimas são geralmente: “Estou tão sem dinheiro”, “São tantos problemas”, “Eu não tenho sorte”, “Estou passando mal”, “ninguém me ajuda”, etc. Sentem-se mal e parecem querer continuar sentindo.



“Vítimas”, “tiranos” também atraem “o salvador”, um terceiro papel nesta novela, e a triangulação está formada. Tem sempre aquele que quer salvar, ajudar, sem saber que estará dando mais força ainda para o coitadinho continuar coitadinho. Porque quando você ajuda quem não precisa, na verdade você estará colaborando para o não desenvolvimento do outro. “Vítimas” se boicotam e estão sempre aquém de sua real capacidade. Precisam amadurecer, deixar de ser “café com leite”, como as crianças pequenas em jogos. Assumir responsabilidade é a chave para sair desse papel e reconhecer seu próprio potencial e capacidade.



As “vítimas” acreditaram em determinado momento, que não receberam o suficiente de seus pais, foram injustiçadas pela vida, ou que o mundo os deve alguma coisa. Estão na falta e escassez e cultivam uma auto-piedade que os impede de ver o outro lado: o da abundância. Porque quando recursos externos faltam, os recursos internos podem ser ativados. A criatividade é uma habilidade humana que transforma a passividade em ação e as pessoas se tornam mais autoras de suas vidas e circunstâncias.



Esses papéis manipulativos não estão muito longe, eles estão dentro de casa, nas famílias, nos casais, nos pais, nos amigos ou colegas de trabalho, estão dentro de nós. E não importa a idade, se eles acontecem, é hora de crescer. Só não dá para querer mudar o outro. O único trabalho possível é mergulhar em si mesmo e encontrar sua própria “vítima” interior e cuidar dela. O que no fundo se quer alcançar, é o amor. Ser olhado, amado, bem recebido. As “vítimas” percorrem um caminho tortuoso já que o resultado de suas atuações tem curta duração, e podem gerar um efeito oposto do esperado: a rejeição.



Tragédias acontecem, mas que elas não sejam atraídas e criadas por carência e dramas de controle. O que precisa ser compreendido é que para se conseguir atenção, pessoas inteligentes, capazes, criativas e amorosas são muito mais atraentes do que as controladoras. Se você se centrar, conseguirá entrar numa conexão amorosa e sem esforço começará a se sentir melhor. Comportamentos são aprendidos, modelados e transformados desde que haja um trabalho consciente. A começar pelos mantras, qual deles você quer passar a entoar?



Amor e Luz para todos!

Sílvia Rocha

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