terça-feira, 30 de setembro de 2014

Arquétipo do Visionário


Arquétipo do Visionário

“Se você não dá expressão às suas próprias idéias,

se não dá ouvidos a seu próprio ser, você trai a si mesmo.” Rollo May

 

                Em março deste ano escrevi sobre o arquétipo do guerreiro, presente em todas as culturas, segundo a antropóloga Angeles Ariens. Arquétipos são estruturas inconscientes existentes na psique coletiva da humanidade. Ariens em sua pesquisa transcultural consegue traçar paralelos, enxergar a interface de aspectos que permeiam os primeiros povos de todo planeta e nossa civilização ocidental. Nessa enxurrada de informações, opiniões e notícias que nos assaltam todos os dias, não podemos esquecer de que existe algo que vem de dentro, algo que sabe e algo que vê, uma parte nossa que intui, é instintiva e que pode ter sido ocultada pelos excessos que cometemos.

                No caminho quádruplo, Ariens torna acessível a sabedoria dos povos nativos vinda de um contato maior com a natureza e seus ciclos, contato esse que também temos, mas que encobrimos devido a nosso estilo de vida urbano. Além do guerreiro, os arquétipos do visionário, curador e mestre são presentes em nós, adormecidos ou não. Nossos instintos nos ajudam a viver, trazem a força necessária à sobrevivência. Viver apenas no intelecto ou na emoção não trazem a ação para a  conquista de seu próprio espaço de realização na vida.

                Pelo caminho do Visionário é possível expressar a criatividade trazendo ao mundo uma visão pessoal. Segundo os nativos cada pessoa possui um sagrado ponto de vista. Todos são valorizados desde a criança até os mais velhos. A criança traz a pureza e autenticidade das emoções e os mais velhos a experiência de vida, a sabedoria. Homens e mulheres, jovens e adultos, todos tem suas visões e ideais e quando expressos formam uma visão coletiva da comunidade.

                Numa organização, faz parte do planejamento estratégico encontrar a missão, a visão e os valores que guiarão as pessoas que trabalham nela, balizando comportamentos esperados e condutas almejadas para um fim comum. Missão é aonde a organização quer chegar, um ponto futuro para a qual é desejado que todos dirijam seus esforços. Visão é o que ela vai estar fazendo quando chegar lá e os valores regem o como chegarão lá. Cada pessoa tem sua missão na vida, que precisa descobrir e pode construir uma visão do que seria alcançá-la e de que forma.

                O arquétipo do visionário inspira o sonho ou propósito de vida e a seguir firmemente no caminho da verdade que a autenticidade dos sonhos pedem. Os xamãs toltecas nos contam que as pessoas deveriam seguir quatro compromissos para trilhar um caminho digno, honrado e feliz na vida. Um deles é a impecabilidade com a palavra, dizer sempre a verdade ou aquilo que acredita que é certo. É claro que esta comunicação íntegra precisa avaliar o momento, o contexto e se o receptor está apto a ouvir. Os outros compromisso são: Não leve nada para o pessoal, não tire conclusões e dê sempre o melhor de si. Segundo Don Miguel Ruiz esses compromissos o levam a libertar da ilusão e ser fiel a sua própria verdade.

                Muitas pessoas não fazem contato com seus sonhos ou o colocam nas mãos de outros. Não se dão conta que valores ou compromissos regem suas vidas e muito menos por qual visão estão lutando.

                O que ocorre muitas vezes é uma neblina encobrindo a visão, são padrões de negação e indulgência. Quando vemos as coisas como queremos ver e não como elas realmente são. A sombra do Visionário é a abnegação, que se trata da renúncia a si mesmo por medo de perder o amor de alguém: “Se eu expressar o que eu vejo ele não vai mais gostar de mim”. Para obter aceitação e aprovação: “é melhor fingir ser outra pessoa”. Para manter a paz e o equilíbrio: “Melhor me calar diante das dificuldades.”

                Dizer a verdade sem críticas ou julgamentos, destrói padrões de negação, trazendo o confronto com a situação real e saindo da ilusão. A verdade às vezes pode doer, mas cria uma ponte de confiança e uma aproximação com o outro. Ter a coragem de ser quem somos é caminhar em direção oposta à abnegação. Para isto é importante observar se meu senso de auto-valorização está maior do que minha auto-crítica.

                Para acessar o visionário, sonhar e perceber sua própria verdade podemos lançar mão de alguns meios como: meditar, rezar, contemplar. Ninguém encontra o seu ser mais profundo com uma mente cheia de burburinhos. Respeitamos o visionário que há em nós quando damos voz ao que vemos, sentimos, sonhamos.

                Alguns xamãs fazem uma busca de visão no alto da montanha, onde passam dias sem comer e nem beber até que uma visão de vida apareça.  Uma introspecção profunda é acompanhada de uma revelação. Ás vezes ela vem quando estamos distraídos brincando saudavelmente. A autenticidade e espontaneidade aparecem quando estamos mais relaxados do que quando ansiamos por algo. Para isso basta observar uma criança, nossos pequenos mestres visionários.
Sílvia Rocha

 

 

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