Encontro terapêutico
“O
encontro de duas personalidades se assemelha
ao
contato de duas substâncias químicas:
se
houver reação, ambas são transformadas.”
Carl Gustav Jung
“A
ciência moderna ainda não produziu um medicamento tranquilizador
tão eficaz como são umas poucas boas
palavras.” S. Freud
Quando
uma pessoa busca uma psicoterapia, ela está precisando de ajuda para conduzir
sua vida. Está querendo livrar-se de um sofrimento, seja na vida conjugal, no
trabalho, um estado depressivo, doenças psicossomáticas, questões de
identidade, financeira, dificuldades de relacionamento, angústia com os filhos,
saúde frágil, etc. No modelo médico, é costume o paciente chegar com uma dor ou
doença e o médico receitar remédios que curem ou amenizem aquele sofrimento. O
diagnóstico e o tratamento são ditados pelo médico que estudou e tem um
diploma. É colocado o poder da cura no médico.
Relacionar um
sintoma com uma passagem difícil da vida, uma gripe com tristeza, uma úlcera
com uma raiva reprimida, um infarto com um coração partido, uma doença ou um
acidente que chegam para trazer uma nova percepção da vida, não é costume da
maioria. Cuidados médicos são necessários, mas se a pessoa não refletir sobre
suas enfermidades e desequilíbrios, vai continuar as criando.
Numa
psicoterapia, o paciente também pode chegar esperando que o psicoterapeuta
“tire” dele seus sintomas, cure sua dor, dê uma solução ao seu problema.
Estamos vivendo a cultura do “Rivotril”. Este ansiolítico que é o remédio mais
vendido do Brasil, é o símbolo da inconsciência, da anestesia dos nossos
tempos. “Toma um remedinho que passa”. Passa provisoriamente, mas não cura,
então não passa. E a pessoa vai continuar dependende a vida toda do remédio, se
não tratar de arregassar as mangas e trabalhar em seu auto-conhecimento para
reconhecer suas próprias forças. Ansiedade
é produzida pelo nosso modo de vida, assim como irritação, depressão, insônia.
Essa sociedade competitiva, que exclui, de relações descartáveis, que carecem
de sentido de vida e existência, produz uma série de desequilíbrios. Vivemos
numa sociedade doente.
O que cura é o amor e todo o
pacote que vem com ele: segurança, a confiança e o relaxamento. O amor vincula,
faz aparecer o melhor de cada um. É disso que nossa sociedade está carente: de
relações verdadeiras e não de relações utilitárias. No início de uma terapia,
um paciente chega depositando no psicólogo um poder de cura, como se ele fosse
um salvador, um deus ou deusa, um ser sobre-humano que será capaz de libertá-lo
de seu sofrimento.
Muito tentador para um terapeuta não treinado e inexperiente entrar nesse papel
egóico de poder.
O que o psicoterapeuta faz é
servir de espelho e de guia para que o paciente descubra sua própria dinâmica e
soluções. Ele possui técnicas, uma abordagem que estudou e vivenciou através de
sua própria análise e treinamento. Mas antes de tudo _ como diz C. G. Jung: “Conheça
todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja
apenas outra alma humana.”_ ele possui a
si mesmo como ferramenta de trabalho. Sua própria humanidade, suas emoções, seu
caminho de vida percorrido. Ele pode compreender o outro porque também sente,
porque já sofreu, porque já superou questões, porque se conhece e continua
sempre seu trabalho de auto-conhecimento. Daí a importância tão grande de um
terapeuta ter feito ou estar fazendo sua própria terapia.
Nesse processo, é imprescindível
que se reconheça as emoções como aliadas no processo de crescimento. Elas são
tidas geralmente num pensamento racional como desnecessárias e que precisam ser
eliminadas. Daí o uso abusivo de medicamentos. As emoções são nosso mecanismo
de defesa e de sobrevivência. Sendo assim se alguém sente medo de andar perto
de um precipício, vai se afastar, assim como se tiver entrando num
relacionamento difícil, vai recuar. O medo protege, tornando-se patológico
quando vira um pânico devido a excesso de fantasias que podem ser tratadas.
Até a ansiedade tem sua função,
sendo oposta à apatia, ela prepara o organismo para uma luta, para uma ação,
antevendo que algo vai acontecer. Se é comum estar sempre produzindo este
estado, é porque a pessoa está criando uma imagem do mundo e da vida como um
lugar ameaçador. Remédios fazem relaxar, mas outros métodos que não viciam também,
como exercícios físicos, relaxamentos conduzidos, mudanças de pensamentos e
tratamentos psicológicos.
Num encontro terapêutico
atualizamos as demandas da vida, temos um espaço para reflexão. O julgamento de
certo e errado fica de fora, e as expressões humanas são acolhidas. Suporte e
apoio são criados na relação terapêutica onde cada encontro é único. E é nessa
relação afetiva-existencial e ao mesmo tempo profissional, que o amor próprio e
o poder criativo podem ser recuperados, criando um ambiente de confiança para
que diversas transformações internas aconteçam.
*Dedico este artigo a todos os
psicólogos pelo dia do Psicólogo, (dia 27 de agosto) com desejos de força, saúde e fé para
continuarmos a tocar a alma humana.
Sílvia Rocha – psicóloga – crp:
05/21756, arteterapeuta, consteladora familiar sistêmica
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