Arquétipo do Curador
“Este caminho tem um
coração?
Se tiver o caminho é
bom, se não tiver não presta.”
Carlos Castaneda
“Curar é aprender a
confiar na vida.”- Jeanne Achterberg
“Se existe na vida
uma panacéia, a cura para tudo, só pode ser a auto-estima.”
Paul Solomon
O
arquétipo que faltava para completar o Caminho Quádruplo, da antropóloga
Angeles Arien, o arquétipo do curador, é uma estrutura inconsciente que todos
os seres humanos têm dentro de si. Uns mais outros menos, uns fazem dele uma
profissão, outros utilizam para si próprios e para suas relações. Porque falar
de cura é falar de amor. Quando estamos bem, com saúde e equilíbrio, estamos
num estado de amor. Quando este estado nos falta, aparecem as doenças físicas
ou mentais que vem para tentar resolver um conflito interno, somatizando
emoções que não tiveram um canal de expressão.
“Prestar
atenção ao que tem coração e significado”, é o que as culturas indígenas,
segundo Arien apoiam como princípio. É
bom sempre examinar como anda nosso coração: Em algumas situações vivenciamos o
coração pela metade, quando isso se dá recebemos e doamos apenas pela metade,
quando não há inteireza significa que estamos desconfiados, magoados ou que já
não existe mais motivação. A solução é resolver o conflito dessa situação ou
sair dela. Não podemos amar pela metade, assim como não existe confiança pela
metade. O coração fechado significa que você está na defensiva em relação a
alguém ou a alguma situação. Essa resistência vem por uma mágoa que causa a
resistência. É tempo de atualizar a situação sabendo que o que foi passado não
tem que se repetir no presente. Mágoas se curam chorando a dor e perdoando, só
assim é possível reabrir o coração. Um coração confuso e cheio de dúvidas pede
uma parada para esperar pela clareza. Agir com um coração assim só vai trazer
ambivalência e pode causar dor. Purificar
o coração requer tempo e um processo de deixar o amor e a fé tomarem conta
novamente. Quando o coração não está forte significa que nos falta coragem.
Coragem de ser autêntico, de dizer a sua verdade. Um coração pleno, aberto,
puro e forte é a fonte da saúde física, emocional e espiritual.
Cura
também pode ser entendida como inteireza, e nesse sentido levamos uma vida
inteira para nos sentir inteiros, integrados e realizados. Para a terapia
sistêmica a cura vem quando restauramos vínculos, possibilitando que o amor
volte a fluir. Curar é criar o novo, ao invés de repetir padrões neuróticos.
Curar é expressar sua plenitude, é ser quem você realmente é. Nas palavras de
C. G. Jung é “o caminho da individuação”. Caminho, pois se pararmos estamos
mortos. Parar é enrijecer. Caminhar significa viver, é estar sempre em busca.
Neste sentido, a incompletude nos move para frente numa busca pela completude.
O
curador na nossa cultura, seja ele médico, psicólogo, terapeuta,
fisioterapeuta, etc. é aquele que promove a cura, o restabelecimento, a
reconexão da pessoa com sua própria força de cura e de vida. Ninguém cura
ninguém. Sendo assim, o curador é aquele que consegue despertar o curador
interno de seu cliente. Numa organização podemos encontrar o curador naquelas
figuras que promovem o bem estar e um bom relacionamento entre as pessoas. Onde
existe amor e alegria é ali que está a cura. Cantar, dançar, contar histórias e
silenciar tem sido bálsamos de cura em diversas sociedade. Diz-se até que as
sociedades que dançam tem sido as mais saudáveis. O ritmo é a alma da vida,
segundo Arrien, e quando saímos dele, é que surgem os problemas.
Sentir-se
pertencendo e reconhecido também traz saúde. O reconhecimento traz uma sensação
de estar no lugar certo, do que eu faço tem valor para a comunidade. Sinto-me
respeitado e digno de pertencer. A solidão e o isolamento é uma das causas da
depressão. A capacidade de vincular-se, de dar e receber reciprocamente é o
caminho de volta à saúde.
A sombra do
arquétipo do curador é cuidar de todos e não cuidar de sua própria saúde e bem
estar. Lembra a figura de um mártir
sofredor que entra num padrão de negação da vida e abre as portas para a
doença. É o Quíron, na mitologia grega, o curador ferido. E porque se fere pode
ter compaixão e desenvolver cada vez mais formas de cura e de ajuda. Também
podemos perceber quando o desejo de ajudar se torna nocivo. Aquele que ajuda,
torna-se superior, mais forte, poderoso. É preciso sempre sondar a sombra do
poder, pois o poder é oposto ao amor e sem amor, não existe mais cura. O
curador que tem a coragem de mergulhar em sua própria dor, doença, dificuldade
vai ser aquele que vai poder facilitar o terreno para que o outro também se
cure. Sombras sempre haverão porque somos feitos de luz e sombra. Não é
extingui-las, mas sim tomar conhecimento delas para não sermos assaltados por
elas.
O trabalho de
auto-conhecimento do curador é imperativo, pois ele só pode levar o outro até
onde ele mesmo chegou. Um curador para entrar num estado de amor, precisa antes
de mais nada, reconhecer seu próprio valor através de sua auto-estima e amor
próprios. E saber agradecer pelas dádivas que recebe ao facilitar uma cura.
Sílvia Rocha –
psicóloga transpessoal junguiana (crp:05/21756), arteterapeuta e consteladora
familiar sistêmica
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