Por todas as nossas
relações
“Todos os seres do
universo são inter-retro-conectados, formando a comunidade cósmica. Os seres
vivos são todos parentes entre si, pois todos – da bactéria originária aos
seres humanos – possuem, fundamentalmente, o mesmo código genético. Isso nós o
sabemos hoje por causa da ciência.
Os povos originários,
nossos indígenas, o sabiam muito antes da ciência. Sabiam pela intuição e pelo
coração, que os colocam em íntima comunhão com tudo o que existe no universo.
Eles sempre mativeram
o casamento entre o Céu e a Terra, do qual nascem todas as coisas.”
Leonardo Boff
Aho Mitakuye Oyasin é
uma expressão do povo nativo Lakota dos Estados Unidos, que significa “por
todas as nossas relações”. Aponta para uma consciência de interconexão com toda a criação: "estamos
todos ligados". Uma oração de unidade e harmonia com todas as formas de
vida. Consideram o sol como avô, a lua como avó, a Terra é mãe e o céu é o pai.
Assim todas as formas de vida são nossos parentes. Ancestrais não são somente
os parentes que vieram antes, mas toda vida na Terra que coopera para que eu
esteja aqui. O sol aquece a Terra e nos dá a vida, os pássaros ajudam a
fertilizar a terra, a chuva é essencial para a existência da floresta, as
árvores com suas raízes ajudam a fixar o solo que nos dá os frutos, e assim por
diante.
Em termos científicos,
o pensamento sistêmico, segundo Fritjof Capra, “alude ao pensamento em termos de
relacionamentos, padrões e contextos”. O padrão básico de organização de todo e
qualquer sistema vivente é em formato “rede”. Ecossistemas são verdadeiras teias
de alimento e redes de organismos; organismos são redes de células; e células
são redes de moléculas. Rede é um padrão comum a todo tipo de vida. Onde quer
que nos deparemos com vida, constataremos redes. E numa rede, se um ponto sofre
alguma modificação vai influenciar todo o resto do sistema.
Como
na teoria do caos, de Lorenz e sua famosa frase: “O bater das asas de uma
borboleta no Brasil pode causar um tornado no Texas”, essa teoria traz explicações de fenômenos não previsíveis. Portanto, a
Teoria do Caos é um padrão de organização dentro de um fenômeno desorganizado,
ou seja, dentro de uma aparente casualidade.
Uma vez ouvi uma história que ilustra bem o que falamos: “Um casal teve
uma discussão em casa e o marido sai para trabalhar, pega seu carro e no sinal vermelho,
um menino vem vender balas, ao que o homem já estressado, se assusta e empurra
o garoto, que cai perdendo todas as balas que se espalham e são amassadas pelos
carros já em movimento. Mais tarde o
garoto é surrado pelo pai e quase morre, por não ter trazido dinheiro para casa.
No dia seguinte o marido lê no jornal a notícia do pai que quase mata o filho e
comenta com sua esposa: “nossa como o mundo está violento!” Li, desta vez na
internet, uma outra história mais otimista dessas interconexões: “Uma senhora
dirigia seu carro pela estrada com uma forte tempestade e seu pneu fura. Um
carro pára na sua frente e um jovem se oferece para trocar seu pneu. A senhora
oferece dinheiro ao rapaz que nega e diz somente para fazer o bem para a
próxima pessoa que vir. Então a senhora pára numa lanchonete já tarde da noite
e uma garçonete grávida de seus 8 meses a serve. Ao recolher a louça deixada
pela senhora ao sair, a garçonete se surpreende com uma alta gorjeta deixada
pela senhora. Em casa, comenta com o marido que a gorjeta veio em boa hora para
ajudar com a chegada do nenen e pergunta a ele como foi seu dia. Ele responde
que ajudou uma senhora na estrada a trocar o pneu de seu carro.”
Conexões ocultas, são esses fios invisíveis que ligam acontecimentos,
destinos, encontros, a influência de ações. Um simples sorriso pode modificar o
dia de alguém, perder um avião ou ônibus pode fazer você conhecer outras
pessoas que irão influenciar sua vida. O deixar cair de uma ponta de cigarro na
floresta pode causar um incêndio de sete dias causando o sofrimento de animais,
alteração climática e danos para a saúde da população.
Estar atento ou desperto a essas conexões, é algo que os indígenas fazem
por saberem que estão dentro desta teia que é a vida. O que isso pode nos
proporcionar? Um nativo das Philipinas observando o movimento dos animais,
percebeu a vinda do tsunami e tentou em vão avisar a população. Sua tribo se
protegeu em locais mais altos. Mas muitos desavisados, não.
O pensamento complexo de inter-relacionamento e interdependência nos faz
reavaliar todo nosso modos vivendi, a
sair da ilusão de separação. Convida-nos a sair da individualidade, para uma
proposta de vida mais cooperativa, humana e a favor da vida. Na filosofia Ubuntu, do povo nativo da África do Sul,
“eu sou quem eu sou porque nós somos” e “como ser feliz se o outro está
triste?” Essas filosofias sistêmicas trocam o pensamento competitivo, corrupto,
consumista do ganha-perde para a cooperação e confiança do ganha-ganha. Minhas
ações no mundo acabam voltando para mim neste círculo da vida.
Aho!
Sílvia Rocha – Psicóloga Transpessoal Junguiana, consteladora familiar
sistêmica e arteterapeuta.
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