Espírito de Natal
“A medida do amor é
amar sem medida”- Santo Agostinho
“Amai uns aos
outros.”- João 15:17
“Onde estiver o vosso
tesouro, aí estará também o vosso coração.” Lucas 12:34
A
palavra Natal significa nascimento, assim como falamos cidade-natal, para
identificar onde uma pessoa nasceu. Natal passou a ser a celebração do
nascimento de Jesus, este grande mestre do amor, que surgiu numa época em que
matanças eram bastante comuns e a barbaridade tomava conta dos seres
humanos. Católicos ou não, hoje celebram
esta data confraternizando com familiares, ceias, presentes. Algumas vezes
pessoas que não se veem o ano todo acabam se encontrando para celebrar a união
da família. Presentes são comprados para mostrar status. Pessoas se endividam para
dar o que não podem a seus filhos. Consumismo, falsidade e arrogância podem
tomar conta. Nem em todos os lares, mas pode acontecer em maior ou menor grau
que esse espírito natalino seja confundido e situações contraditórias
aconteçam.
Vivemos
numa sociedade ocidental cristã. Celebramos o nascimento de Jesus e com ele o
renascimento de valores e para isso cabe relembrar o que ele veio nos trazer:
Sempre
humilde, Jesus chegava sem pompa e transmitia sabedoria. Sabedoria e humildade
são irmãs. Aquele que fala muito e diz saber, é para se desconfiar. Porque quanto
mais sabemos, mais sabemos que não sabemos. Arrogância traz uma falsa sensação
de poder, e encobre na verdade uma insegurança. Como diz Leonardo Da Vinci: “A
simplicidade é o último grau de sofisticação.” Eleva o espírito e nos
desembaraça das complicações.
Jesus
sabia escutar e por isso conseguia compreender e ser próximo de qualquer um.
Sabia se relacionar e construir pontes entre as pessoas. A cura começa quando
uma pessoa se sente compreendida em suas dores. E ela começa a melhorar só de
ser ouvida, pois se sente amparada. Vencer uma discussão, querer estar sempre
certo, pode nos custar relacionamentos. Alcançar o outro significa
compreendê-lo, abrir mão de suas próprias convicções para sentir o que o outro
sente. É um exercício de empatia, despojar-se de si para deixar o outro entrar.
Orgulho e egoísmo só distanciam.
Servir
ao outro é uma capacidade dos humildes e elevados de espírito. Segundo Mark
Baker em seu livro: “Jesus o maior psicólogo que já existiu”: “a humildade é a
força sob controle”. Não devemos confundir humildade com humilhação. Pois
humilhação é se sentir por baixo, ser pisado, ser desconsiderado ou maltratado.
Servir alguém é estar disponível para fazer um bem ao outro. Ajudar naquilo que
o outro não pode fazer. Servir vem de
dentro, se for imposto já não é tão serviço assim.
Jesus veio
para nos lembrar de uma conexão com Deus. Ele era a ponte que fazia esta
ligação com Deus. O que as religiões deveriam fazer, pois a palavra religião
significa “religare”. Até chegarmos
ao ponto de sermos essa própria ligação com Deus. Pois não precisamos de nada
entre nós e Deus. Essa conexão está aí em cada um, só precisamos nos lembrar
disso. O papel das religiões é de facilitar essa conexão através de valores,
ensinamentos, rituais. É um caminho e não a meta a ser alcançada. Quando regras
e dogmas passam a ser mais importantes que as pessoas, esse caminho deixa de
fazer sentido. Segundo Baker, “A imagem de Deus em nós é a nossa capacidade de
nos relacionarmos.” Em outras palavras, a capacidade de nos amarmos tanto a si
mesmos quanto aos outros. A moralidade só entra quando nos falta o amor. Só
precisamos de regras quando não temos o amor para nos guiar, ele nos conduz à
paz, à saúde, à bem aventurança.
Jesus também
nos mostrou que para crescermos precisamos mudar crenças, pontos de vistas,
abrir para novos pensamentos. Estamos sempre evoluindo. E para isso podemos
aprender com o passado para não precisar repetí-lo. O arrependimento nada mais é
do que uma mudança de idéia, um cair em si, uma ampliação da consciência. Desenvolvimento
requer coragem e mesmo com medo podemos seguir de mãos dadas com ele, pois ele
quando não fantasioso, nos cuida. Jesus também nos ensinou que precisamos de
outras pessoas para alcançar uma conexão com Deus. O outro sempre nos revela
coisas sobre nós mesmos que não conseguimos ver sozinhos.
“Pecado é
afastar-se de Deus e dos outros”, segundo Baker. Existe a culpa boa e a culpa ruim. A boa
culpa nos motiva a reparar danos tanto em nós quanto nos relacionamentos e a
má, a buscarmos auto-flagelação, quando vivemos nos boicotando por não nos
acharmos merecedores. Precisamos perdoar, mas também aprender a nos perdoar.
Isso nos engrandece e nos torna mais dignos. Talvez seja a ação mais difícil,
porém muito necessária ao desenvolvimento espiritual e a paz de espírito. Não
perdoar é uma cruz muito pesada para se carregar na vida.
Jesus veio
antes de mais nada, nos ensinar a nos abrir ao amor. Esse é o verdadeiro canal que nos liga a Deus
e a todos os seres humanos. Uma vez escutei de um monge budista que religião é
comunidade. Ou seja, é relacionamento, é saber viver junto. E o sentimento que
nos une verdadeiramente é o amor.
Que possamos
nos lembrar o ano todo deste espírito natalino. A criança divina está em cada
um de nós e ela pode renascer sempre! Feliz Natal!
Sílvia Rocha –
Psicóloga Transpessoal junguiana (crp: 05/21756), Arteterapeuta, consteladora
familiar sistêmica
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