segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Roda de Cura, roda da vida


Roda de cura, roda da vida

A roda roda, o mundo gira...

 

                A Psicologia transpessoal faz associações do que há de mais atual na ciência com o que há de mais antigo na humanidade em termos de tradições de conhecimento. No estudo e prática do Xamanismo, primeiro sistema de cura da Humanidade realizada por Xamãs ( Pajés aqui no Brasil) ao redor de todo o mundo,  encontramos associações com a Psicologia. Alguns dizem, segundo Robin Grass que o Xamanismo “é a mais antiga forma de cura do planeta, datando de aproximadamente 3000 anos. Tem sido encontrada em muitas culturas indígenas na América do norte e do sul, Austrália, Nova Zelândia, Noroeste e sul da Ásia, leste e norte da Europa e África. As técnicas usadas ultrapassaram o teste do tempo e são incrivelmente similares ao redor do mundo, apesar das diferenças culturais e geográficas dentre aqueles que praticam esta modalidade de cura.”

 Um dos exemplos desse encontro de práticas antigas com a psicologia moderna, é o do Mito da Roda de Cura dos povos nativos norte americanos. Para Mircea Eliade, o mito é real, é uma história sagrada portanto, verdadeira pois aponta para realidades. O mito é uma narrativa que concerne a um povo, um grupo cultural e que norteia e transforma a condição humana. Diferente de contos e fábulas que servem para entreter, os mitos ensinam as histórias primordiais e organizam uma sociedade. Os simbolismos contidos no mito nos dão pistas de como enxergar uma saída para desafios da vida.

Na roda de cura, podemos visualizar um “X” separando em 4 quadrantes iguais o círculo. Cada parte deste “X” corresponde a um ponto cardeal. A parte Leste da roda está relacionada a novos começos, o sol nasce no leste e com ele a iluminação de um novo dia. A estação do ano correspondente é a primavera e o simbolismo do florescimento e nascimento. É como se tivéssemos nascendo nessa direção da roda, ainda crianças desvelando o mundo com o olhar da novidade. A cor é a amarela que nos lembra a luz dourada do sol e o fogo criador. Segundo a anciã do Povo Ojibwe Lilian Pitawanakwat, “cada um de nós carrega um fogo dentro. Seja através do conhecimento que temos, ou através de nossas experiências ou associações, somos responsáveis por manter esse fogo aceso. E como uma criança, quando meu pai ou mãe  diriam, no final do dia – minha filha como está queimando seu fogo hoje?   Isso me faz pensar em como passei meu dia – Se fui ofensiva com alguém, ou se alguém me ofendeu. Essa reflexão tem muito a ver em como nutro meu fogo interior. Então somos ensinados desde muito novos em deixar qualquer distração do dia e fazer as pazes conosco, então podemos nutrir e manter nosso fogo.”

Esse fogo também nos lembra de nossa parte espiritual, a centelha divina que somos. O animal correspondente é a águia que voa mais alto e possui visão de cima. Ela nos ensina a nos distanciar das questões para ver de outro ângulo, menos envolvido e emocionado e com mais intuição. Podemos intuir uma visão e missão de vida e traçar um “plano de vôo.”

Na direção sul da roda de cura, encontramos o jovem guerreiro cujo desafio são suas próprias águas de suas emoções. Ter auto-domínio, saber fazer suas escolhas, reconhecer sua identidade e individualidade. Em pleno verão, o sol a pino, o vigor e capacidades do jovem podem ficar obscurecidos se ele não se atentar a equilibrar suas polaridades. O coiote, trapaceiro e brincalhão é o animal desta direção, que vem dar uma rasteira a quem está sério demais. Aprender a rir de si mesmo e de suas quedas é a maior lição. Desenvolver projetos de vida, sustentar os sonhos. A cor dessa direção é a vermelha da realização.

Na direção oeste é a meia idade e seus conflitos, alternando entre maturidade e crise. É o sol se pondo, é a caverna do urso. Em oposição a luz do leste, o oeste nos convida a um mergulho em nosso interior, a uma introvisão. Nessa fase podemos refletir sobre tudo o que realizamos e o que não foi realizado. É possível abraçar as sombras e lamber as feridas. A cor é o preto e o elemento é a terra que nos convida ao silêncio e à meditação. A estação o outono, tempo de liberar as folhas secas, o que está velho e desgastado, de cuidar do corpo.

Na direção norte, encontramos não só a sabedoria da velhice, mas as heranças dos ancestrais.  Em oposição ao sul, o norte nos lembra do coletivo e da importância da comunidade em nossas vidas. O animal é o búfalo, símbolo da abundância e prosperidade.  E a cor é o branco do inverno. É o tempo de nos lembrar das bênçãos e presentes que recebemos ao longo da vida, de contar histórias e compartilhar memórias, ventos e pensamentos. E sobretudo, agradecer.

A roda de cura nos lembra em viver em harmonia com os quatro tempos, os quatro elementos. Importante é pensar em nossas vidas sob os aspectos espiritual, emocional, físico e mental.  Podemos estar em qualquer ponto da roda em qualquer idade. Por mais que estejamos no verão podemos estar na caverna, hibernando como o urso, meditando a espera de um novo momento. Podemos viver as quatro direções num mesmo dia. Pode ser  um guia psicológico útil para nossa jornada na vida.
Sílvia Rocha

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