Roda de cura, roda da
vida
A roda roda, o mundo
gira...
A
Psicologia transpessoal faz associações do que há de mais atual na ciência com
o que há de mais antigo na humanidade em termos de tradições de conhecimento.
No estudo e prática do Xamanismo, primeiro sistema de cura da Humanidade
realizada por Xamãs ( Pajés aqui no Brasil) ao redor de todo o mundo, encontramos associações com a Psicologia. Alguns dizem, segundo Robin Grass que o Xamanismo
“é a mais antiga forma de cura do planeta, datando de aproximadamente 3000
anos. Tem sido encontrada em muitas culturas indígenas na América do norte e do
sul, Austrália, Nova Zelândia, Noroeste e sul da Ásia, leste e norte da Europa
e África. As técnicas usadas ultrapassaram o teste do tempo e são incrivelmente
similares ao redor do mundo, apesar das diferenças culturais e geográficas
dentre aqueles que praticam esta modalidade de cura.”
Um dos exemplos desse encontro de
práticas antigas com a psicologia moderna, é o do Mito da Roda de Cura dos
povos nativos norte americanos. Para
Mircea Eliade, o mito é real, é uma história sagrada portanto, verdadeira pois
aponta para realidades. O mito é uma narrativa que concerne a um povo, um grupo
cultural e que norteia e transforma a condição humana. Diferente de contos e
fábulas que servem para entreter, os mitos ensinam as histórias primordiais e
organizam uma sociedade. Os simbolismos contidos no mito nos dão pistas de como
enxergar uma saída para desafios da vida.
Na roda de cura, podemos visualizar um “X”
separando em 4 quadrantes iguais o círculo. Cada parte deste “X” corresponde a
um ponto cardeal. A parte Leste da roda está relacionada a novos começos, o sol
nasce no leste e com ele a iluminação de um novo dia. A estação do ano
correspondente é a primavera e o simbolismo do florescimento e nascimento. É
como se tivéssemos nascendo nessa direção da roda, ainda crianças desvelando o
mundo com o olhar da novidade. A cor é a amarela que nos lembra a luz dourada
do sol e o fogo criador. Segundo a anciã do Povo Ojibwe Lilian Pitawanakwat, “cada
um de nós carrega um fogo dentro. Seja através do conhecimento que temos, ou
através de nossas experiências ou associações, somos responsáveis por manter
esse fogo aceso. E como uma criança, quando meu pai ou mãe diriam, no final do dia – minha filha como
está queimando seu fogo hoje? Isso me faz pensar em como passei meu dia – Se fui ofensiva com alguém,
ou se alguém me ofendeu. Essa reflexão tem muito a ver em como nutro meu fogo
interior. Então somos ensinados desde muito novos em deixar qualquer distração do
dia e fazer as pazes conosco, então podemos nutrir e manter nosso fogo.”
Esse fogo também nos lembra de nossa parte
espiritual, a centelha divina que somos. O animal correspondente é a águia que
voa mais alto e possui visão de cima. Ela nos ensina a nos distanciar das
questões para ver de outro ângulo, menos envolvido e emocionado e com mais
intuição. Podemos intuir uma visão e missão de vida e traçar um “plano de vôo.”
Na direção sul da roda de cura, encontramos
o jovem guerreiro cujo desafio são suas próprias águas de suas emoções. Ter
auto-domínio, saber fazer suas escolhas, reconhecer sua identidade e
individualidade. Em pleno verão, o sol a pino, o vigor e capacidades do jovem
podem ficar obscurecidos se ele não se atentar a equilibrar suas polaridades. O
coiote, trapaceiro e brincalhão é o animal desta direção, que vem dar uma
rasteira a quem está sério demais. Aprender a rir de si mesmo e de suas quedas
é a maior lição. Desenvolver projetos de vida, sustentar os sonhos. A cor dessa
direção é a vermelha da realização.
Na direção oeste é a meia idade e seus
conflitos, alternando entre maturidade e crise. É o sol se pondo, é a caverna
do urso. Em oposição a luz do leste, o oeste nos convida a um mergulho em nosso
interior, a uma introvisão. Nessa fase podemos refletir sobre tudo o que
realizamos e o que não foi realizado. É possível abraçar as sombras e lamber as
feridas. A cor é o preto e o elemento é a terra que nos convida ao silêncio e à
meditação. A estação o outono, tempo de liberar as folhas secas, o que está
velho e desgastado, de cuidar do corpo.
Na direção norte, encontramos não só a
sabedoria da velhice, mas as heranças dos ancestrais. Em oposição ao sul, o norte nos lembra do
coletivo e da importância da comunidade em nossas vidas. O animal é o búfalo,
símbolo da abundância e prosperidade. E
a cor é o branco do inverno. É o tempo de nos lembrar das bênçãos e presentes
que recebemos ao longo da vida, de contar histórias e compartilhar memórias,
ventos e pensamentos. E sobretudo, agradecer.
A roda de cura nos lembra em viver em
harmonia com os quatro tempos, os quatro elementos. Importante é pensar em
nossas vidas sob os aspectos espiritual, emocional, físico e mental. Podemos estar em qualquer ponto da roda em
qualquer idade. Por mais que estejamos no verão podemos estar na caverna,
hibernando como o urso, meditando a espera de um novo momento. Podemos viver as
quatro direções num mesmo dia. Pode ser um guia psicológico útil para nossa jornada na
vida.
Sílvia Rocha
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