Você é livre?
Diário de Teresópolis, 03 de janeiro de 2014
Diário de Teresópolis, 03 de janeiro de 2014
“Tudo
aquilo que não enfrentamos em vida acaba se tornando o nosso destino”.
O que é a liberdade? Não é somente ausência de submissão ou
perda do direito de ir e vir. Apesar da escravidão já ter acabado faz tempo,
algumas pessoas vivem encarceradas dentro de suas limitações. Se você não se
sente à vontade para agir de acordo com sua natureza, você não é livre. Se você
se sente escravo da opinião alheia, de uma mania, de um vício, de uma dor, de
uma culpa, de um medo, de uma pessoa, etc, você não é livre.
Ser
livre é agir de acordo com seu movimento interno e natural de sua alma, e
implica em assumir responsabilidade pelos atos e suas consequências. Algumas
pessoas temem a liberdade, pelo fato de não se sentirem seguras para assumirem
a responsabilidade. Preferem passar a vida culpando outras pessoas do que
assumirem as rédeas de suas próprias vidas. É mais fácil representar o papel de
vítima sofredora do que de agente criador de sua realidade . Fácil, porém limitante.
O ser humano é um sistema que se auto-renova constantemente, pelo menos tem
essa capacidade, e se passar a vida repetindo os mesmos erros e padrões, acaba
não usando nem a metade de sua potencialidade criativa.
Alguns sentimentos impedem essa capacidade criativa e inata e mantém a pessoa presa ao passado: são
as culpas, as mágoas, os apegos, os medos. Da mesma forma que um balão só sobe
quando se livra dos pesos, o ser humano só fica livre, leve e solto quando se
despede de perturbações do passado. Talvez mais do que se livrar, a palavra
correta seja integrar. Pois o que passou, faz parte da vida, da história e pode
ser entendido como uma pedra que um dia foi um obstáculo, mas que pode se
transformar em um degrau. Disto, vai depender a capacidade de olhar para a sua
história de uma forma menos envolvida e sentimental e querer buscar novos
significados. Os fatos não podem ser mudados, mas sua percepção, sim! A chave para abrir essa porta é a palavra:
transformação! Que é uma ação mais
interna do que externa. Então, vamos lá:
Troque as culpas por responsabilidade – Quem se culpa, se
oprime e deprime. A culpa é um sentimento que pede punição . Auto-flagelações são comuns às pessoas que
sentem muito culpa. Desde auto-agressividade como se cortar, engordar muito,
emagrecer, fumar, se machucar de qualquer forma, até não se permitir ser feliz,
passando a vida se boicotando, aceitando menos do que se merece. Vamos entender
da onde vem a culpa: A onipotência antecede o sentimento de culpa. Cria-se uma
imagem de que se deveria dar conta de tudo, mas como os humanos são falhos,
caem nesta armadilha. Uma possível saída para esse cenário, é a humildade de
aceitar seus limites e a responsabilidade, que significa habilidade de responder por seus atos. Ninguém pode fazer além de
suas possibilidades! Perdoar-se é um ato que liberta e traz paz para o coração.
Curando as mágoas - As
“más águas” que poluem internamente e que podem até causar doenças
psicossomáticas, precisam ser purificadas. Houve uma expectativa em relação ao
outro e esta não foi alcançada e isso pode gerar mágoa, decepção,
ressentimento. Receber menos do que se esperava em termos de gratidão,
reconhecimento, atenção, amor, amizade, enfim, você se sente prejudicado. E
fica o pensamento de que o outro não tratou você à altura do seu merecimento. E
nisso tem vaidade sua embutida. Orgulho ferido é uma questão egóica e de
auto-referência. O outro sempre age de acordo com suas possibilidades e
valores. Perdoar, liberta muito mais a você mesmo do que o outro, pois quem
fica carregando o peso das mágoas é você.
Existem vários tipos de apego, desde a coisas materiais, a relacionamentos,
a drogas, status social, dinheiro, até a pensamentos e sentimentos. Sempre que
houver ciúmes, tentativas de controle e medos, haverá o apego. Desapegar nos
leva a uma libertação. Um bom exercício é limpar gavetas, armários, liberar
coisas, doar e jogar fora é fazer fluir
a energia na sua vida. Enquanto você libera coisas que você não usa mais, você
vai se livrando internamente também do sentimento de apego. Lembranças do
passado que escravizam, vão dando lugar a novas energias mais condizentes com
seu presente. Neste início de ano, é uma
boa pedida faxinar por dentro e por fora.
Quanto
aos relacionamentos, amar ao invés de se apegar, cuidar para que o outro fique,
ao invés de controlar e perseguir. O ciúmes vem, quando o medo de perder toma
conta, essa ameaça que corrói por dentro e faz mal. Muito fácil falar, difícil
quando se está engendrado nestas situações.
Todos
esses sentimentos aparecem quando o ego está no controle. É um trabalho para sempre, relativizar o ego. É
perfeitamente humano sentir tudo isso mas é também humano a capacidade de
auto-superação.
A meditação é uma ótima prática pois ajuda a pessoa a se
auto-observar, a sair da mecanicidade de seus impulsos e a entrar na totalidade
do Ser. Ficar em silêncio, sozinho, respirando, ouvindo o pulsar do coração,
observando os pensamentos e refletindo sobre eles, diminuindo o ritmo dos
pensamentos até quem sabe ficar sem pensar, para além do ego, sentir sua
presença real e espiritual. Ficar no presente! Coração limpo e aberto, a
reatividade desaparece e o equilíbrio permanece. Equilibrar-se e
desequilibrar-se é um movimento constante da vida, assim como a expansão e o
recolhimento.
Há uma tendência a
repetir aquilo que não se aprende, situações semelhantes aparecem para que
novamente aquele sentimento ainda não superado se revele para se ter mais uma
oportunidade de transcendência. Segundo S. Freud é a compulsão `a repetição. Se
não aprender a lição, repete-se de ano! E segundo C. G. Jung: “Aquilo a que você resiste, persiste.”
Essa
repetição de padrão, também é encontrada no clã familiar. Segundo Bert
Hellinger, criador das constelações familiares da terapia sistêmica, se uma
pessoa não segue o padrão familiar sente-se excluída. Assim um destino vai passando
de pai pra filho, inconscientemente, como por exemplo, dificuldade de ter
sucesso profissional. Para pertencer a esse clã, todos precisam passar por
isso, ou pelo menos, acreditam que precisam. Hellinger propõe que esses padrões
uma vez conscientes, sejam trocados por uma outra forma de homenagem. Ao invés
de repetir o padrão seguindo o mesmo comportamento, realizar o sucesso em honra
ao clã familiar, dedicando sua ação em homenagem aos familiares não tão bem
sucedidos.
Limpando
o coração, e reconhecendo padrões pessoais e familiares, podemos conquistar a
autonomia e a independência de sermos livres. É preciso trabalho, coragem e
permissão. Quando não se consegue sozinho, vale um pedido de ajuda para
reconquistar a liberdade de amar, de escolher, de viver!
Sílvia
Rocha- Psicóloga (crp:05/21756) e
Arteterapeuta
e-mail:
silviaayani@gmail.com
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