segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Você é livre?



Você é livre?
Diário de Teresópolis, 03 de janeiro de 2014

“Tudo aquilo que não enfrentamos em vida acaba se tornando o nosso destino”.


         O que é a liberdade? Não é somente ausência de submissão ou perda do direito de ir e vir. Apesar da escravidão já ter acabado faz tempo, algumas pessoas vivem encarceradas dentro de suas limitações. Se você não se sente à vontade para agir de acordo com sua natureza, você não é livre. Se você se sente escravo da opinião alheia, de uma mania, de um vício, de uma dor, de uma culpa, de um medo, de uma pessoa, etc, você não é livre.

Ser livre é agir de acordo com seu movimento interno e natural de sua alma, e implica em assumir responsabilidade pelos atos e suas consequências. Algumas pessoas temem a liberdade, pelo fato de não se sentirem seguras para assumirem a responsabilidade. Preferem passar a vida culpando outras pessoas do que assumirem as rédeas de suas próprias vidas. É mais fácil representar o papel de vítima sofredora do que de agente criador de sua realidade . Fácil, porém limitante. O ser humano é um sistema que se auto-renova constantemente, pelo menos tem essa capacidade, e se passar a vida repetindo os mesmos erros e padrões, acaba não usando nem a metade de sua potencialidade criativa.

         Alguns sentimentos impedem essa capacidade criativa e  inata e mantém a pessoa presa ao passado: são as culpas, as mágoas, os apegos, os medos. Da mesma forma que um balão só sobe quando se livra dos pesos, o ser humano só fica livre, leve e solto quando se despede de perturbações do passado. Talvez mais do que se livrar, a palavra correta seja integrar. Pois o que passou, faz parte da vida, da história e pode ser entendido como uma pedra que um dia foi um obstáculo, mas que pode se transformar em um degrau. Disto, vai depender a capacidade de olhar para a sua história de uma forma menos envolvida e sentimental e querer buscar novos significados. Os fatos não podem ser mudados, mas sua percepção, sim!  A chave para abrir essa porta é a palavra: transformação!   Que é uma ação mais interna do que externa. Então, vamos lá:

         Troque as culpas por responsabilidade – Quem se culpa, se oprime e deprime. A culpa é um sentimento que pede punição .  Auto-flagelações são comuns às pessoas que sentem muito culpa. Desde auto-agressividade como se cortar, engordar muito, emagrecer, fumar, se machucar de qualquer forma, até não se permitir ser feliz, passando a vida se boicotando, aceitando menos do que se merece. Vamos entender da onde vem a culpa: A onipotência antecede o sentimento de culpa. Cria-se uma imagem de que se deveria dar conta de tudo, mas como os humanos são falhos, caem nesta armadilha. Uma possível saída para esse cenário, é a humildade de aceitar seus limites e a responsabilidade, que significa  habilidade de responder  por seus atos. Ninguém pode fazer além de suas possibilidades! Perdoar-se é um ato que liberta e traz paz para o coração.

          Curando as mágoas - As “más águas” que poluem internamente e que podem até causar doenças psicossomáticas, precisam ser purificadas. Houve uma expectativa em relação ao outro e esta não foi alcançada e isso pode gerar mágoa, decepção, ressentimento. Receber menos do que se esperava em termos de gratidão, reconhecimento, atenção, amor, amizade, enfim, você se sente prejudicado. E fica o pensamento de que o outro não tratou você à altura do seu merecimento. E nisso tem vaidade sua embutida. Orgulho ferido é uma questão egóica e de auto-referência. O outro sempre age de acordo com suas possibilidades e valores. Perdoar, liberta muito mais a você mesmo do que o outro, pois quem fica carregando o peso das mágoas é você.

         Existem vários tipos de apego, desde a coisas materiais, a relacionamentos, a drogas, status social, dinheiro, até a pensamentos e sentimentos. Sempre que houver ciúmes, tentativas de controle e medos, haverá o apego. Desapegar nos leva a uma libertação. Um bom exercício é limpar gavetas, armários, liberar coisas, doar e  jogar fora é fazer fluir a energia na sua vida. Enquanto você libera coisas que você não usa mais, você vai se livrando internamente também do sentimento de apego. Lembranças do passado que escravizam, vão dando lugar a novas energias mais condizentes com seu presente.  Neste início de ano, é uma boa pedida faxinar por dentro e por fora.

Quanto aos relacionamentos, amar ao invés de se apegar, cuidar para que o outro fique, ao invés de controlar e perseguir. O ciúmes vem, quando o medo de perder toma conta, essa ameaça que corrói por dentro e faz mal. Muito fácil falar, difícil quando se está engendrado nestas situações.

Todos esses sentimentos aparecem quando o ego está no controle. É um trabalho  para sempre, relativizar o ego. É perfeitamente humano sentir tudo isso mas é também humano a capacidade de auto-superação.

         A meditação é uma ótima prática pois ajuda a pessoa a se auto-observar, a sair da mecanicidade de seus impulsos e a entrar na totalidade do Ser. Ficar em silêncio, sozinho, respirando, ouvindo o pulsar do coração, observando os pensamentos e refletindo sobre eles, diminuindo o ritmo dos pensamentos até quem sabe ficar sem pensar, para além do ego, sentir sua presença real e espiritual. Ficar no presente! Coração limpo e aberto, a reatividade desaparece e o equilíbrio permanece. Equilibrar-se e desequilibrar-se é um movimento constante da vida, assim como a expansão e o recolhimento.

Há uma tendência a repetir aquilo que não se aprende, situações semelhantes aparecem para que novamente aquele sentimento ainda não superado se revele para se ter mais uma oportunidade de transcendência. Segundo S. Freud é a compulsão `a repetição. Se não aprender a lição, repete-se de ano! E segundo C. G. Jung:  “Aquilo a que você resiste, persiste.”

Essa repetição de padrão, também é encontrada no clã familiar. Segundo Bert Hellinger, criador das constelações familiares da terapia sistêmica, se uma pessoa não segue o padrão familiar sente-se excluída. Assim um destino vai passando de pai pra filho, inconscientemente, como por exemplo, dificuldade de ter sucesso profissional. Para pertencer a esse clã, todos precisam passar por isso, ou pelo menos, acreditam que precisam. Hellinger propõe que esses padrões uma vez conscientes, sejam trocados por uma outra forma de homenagem. Ao invés de repetir o padrão seguindo o mesmo comportamento, realizar o sucesso em honra ao clã familiar, dedicando sua ação em homenagem aos familiares não tão bem sucedidos.

Limpando o coração, e reconhecendo padrões pessoais e familiares, podemos conquistar a autonomia e a independência de sermos livres. É preciso trabalho, coragem e permissão. Quando não se consegue sozinho, vale um pedido de ajuda para reconquistar a liberdade de amar, de escolher, de viver!

Sílvia Rocha- Psicóloga (crp:05/21756) e Arteterapeuta

e-mail: silviaayani@gmail.com

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