Organize-se
Parte II – O Tempo
Jornal: Diário de Teresópolis, 16 de janeiro de 2014
“O tempo pode ser medido com as
batidas de um relógio
ou pode ser medido com as batidas do coração”. Rubem Alves
ou pode ser medido com as batidas do coração”. Rubem Alves
“É tarde, é tarde, é tarde até que arde, ai ai meu Deus, alô
meu Deus, é tarde, é tarde, é tarde...” Já dizia o coelho de Alice no país das
maravilhas, mas poderia ser uma fala de qualquer pessoa hoje nesse mundo
acelerado em que vivemos. Muitos compromissos, horários e agendas nos fazem
correr de um lado para outro, algumas vezes até fazendo nos esquecer para quê.
Alguns convites são deixados de lado porque não se tem tempo para aceitá-los.
Então uma frase comum é: “Não tenho tempo”.
É uma boa meditação avaliar sua qualidade de
vida em relação ao tempo. Formule algumas frases sobre o seu tempo e depois
substitua a palavra tempo por vida. Na frase “Não tenho tempo”,
ficaria, “não tenho vida” ou “o tempo
está curto”por “a vida está curta”. Isso me faz lembrar uma historinha em que
um menino da cidade conversa com um menino indígena, se gabando dos
compromissos que ele tem: “À tarde vou pra escola e de manhã, faço aulas de
inglês e informática.” E o indiozinho pergunta então para o menino: “E que
horas que você vive?”
Os gregos antigos costumavam
diferenciar o tempo entre Chronos e Kairos. Chronos é de natureza
sequencial, linear e quantitativa – o tempo cronológico do relógio e Kairos, é o momento oportuno,
qualitativo e subjetivo. Viver apenas com Chronos,
é viver escravo do relógio. Chronos
devora seus filhos, Kairos traz a
plenitude do momento. É um tempo sem tempo em que o inesperado acontece, a
oportunidade chega, tem uma profundidade e significado.
Conseguir viver Kairos
no Chronos, ou seja, colocarmos
qualidade dentro da quantidade é que é o desafio. Percebemos o tempo de
diversas formas. A criança vive no aqui e agora. O jovem quer tudo para ontem,
e o ancião, já aprendeu a ter paciência e a valorizar cada minuto. A percepção do tempo também difere quando estamos fazendo algo agradável,
como estar com alguém querido e as horas voam, e quando se está fazendo uma
tarefa chata, em que a hora não passa. A percepção do tempo é bem pessoal.
Para vivermos no país das
maravilhas de Alice, precisamos cortar a cabeça como ordena a rainha de copas,
ou seja deixarmos um pouco o intelecto de lado. Para nos deleitarmos com Kairos, precisamos sair da mecanicidade das ações repetitivas e acordar para o tempo
novo que criamos a cada instante.
Gastamos tempo e energia em
assuntos que não nos levam a lugar nenhum, como fofocas e julgamentos. Ocupam a
mente impedindo-a de criarem pensamentos e ações mais construtivas. Por outro
lado, é comum pensar que algumas coisas são perda de tempo, quando na verdade é
um investimento. Eu costumava dar treinamento em multinacionais para
aperfeiçoamento de equipes, algumas pessoas tinham dificuldade de aceitar parar
de trabalhar para investir numa melhoria. Da mesma forma que o músico precisa
parar para afinar o instrumento, os profissionais precisam parar para afinar
seu próprio ser. Podem estar perdendo tempo para solucionar um problema, que
uma outra equipe já solucionou, então dialogar sobre o trabalho pode ser uma
grande economia de tempo.
Para saber se está fazendo o
investimento de tempo, certo na sua vida faça o seguinte exercício: Imagine se
estivesse hoje no seu último dia de vida, e não há mais tempo. O que você teria
deixado de lado? Após essa reflexão, a direção da sua energia pode mudar para o
que realmente importa pra você, então mãos à obra.
Podemos dividir o tempo em 3: tempo de trabalho, de lazer e de investimento.
Existe uma proposta de um sociólogo italiano, Domenico De Masi, que propõe o
Ócio Criativo, onde o lazer pode produzir idéias inovadoras. Quando temos um problema
e ficamos em cima dele, a solução não
vem. Ao nos distrairmos, caminhando
na natureza, assistindo um filme, lendo um livro, nos desligamos do problema e
permitimos nossa mente, criar. Paradoxalmente, quando se relaxa, saimos da
ansiedade opressora e tudo começa a fluir.
De Masi ainda
vai mais além: “O futuro pertence a quem souber libertar-se da idéia
tradicional do trabalho como obrigação ou dever e for capaz de apostar numa
mistura de atividades, onde o trabalho se confundirá com o tempo livre, com o
estudo e com o lazer, enfim com o “ócio criativo”.
Existe um
movimento iniciado na Itália das “cidades lentas” (Città Slow) que teve início com a campanha das Slow food que nasceram em contrapartida dos Fast foods. Esse movimento
se tornou uma categoria e um selo de qualidade. Valores como sustentabilidade
para a natureza e as próximas gerações passam por uma filosofia onde comunidades
tem suas identidades próprias, espaços verdes de convivência, menos trânsito e
barulho e mais saúde pode ser uma ótima inspiração para nossa cidade que já é abençoada
com belíssima natureza e se tornar cada vez mais um excelente lugar para se
passar o tempo.
Sílvia Rocha - Psicóloga, crp: 05/21756 Arteterapeuta
Nenhum comentário:
Postar um comentário