segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Organize-se Parte II - O tempo


Organize-se
Parte II – O Tempo
Jornal: Diário de Teresópolis, 16 de janeiro de 2014

 “O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio
ou pode ser medido com as batidas do coração”. Rubem Alves


“É tarde, é tarde, é tarde até que arde, ai ai meu Deus, alô meu Deus, é tarde, é tarde, é tarde...” Já dizia o coelho de Alice no país das maravilhas, mas poderia ser uma fala de qualquer pessoa hoje nesse mundo acelerado em que vivemos. Muitos compromissos, horários e agendas nos fazem correr de um lado para outro, algumas vezes até fazendo nos esquecer para quê. Alguns convites são deixados de lado porque não se tem tempo para aceitá-los. Então uma frase comum é: “Não tenho tempo”.

 É uma boa meditação avaliar sua qualidade de vida em relação ao tempo. Formule algumas frases sobre o seu tempo e depois substitua a palavra tempo por vida. Na frase “Não tenho tempo”, ficaria, “não tenho vida” ou  “o tempo está curto”por “a vida está curta”. Isso me faz lembrar uma historinha em que um menino da cidade conversa com um menino indígena, se gabando dos compromissos que ele tem: “À tarde vou pra escola e de manhã, faço aulas de inglês e informática.” E o indiozinho pergunta então para o menino: “E que horas que você vive?” 

Os gregos antigos costumavam diferenciar o tempo entre Chronos e Kairos. Chronos  é de natureza sequencial, linear e quantitativa – o tempo cronológico do relógio e Kairos, é o momento oportuno, qualitativo e subjetivo. Viver apenas com Chronos, é viver escravo do relógio. Chronos devora seus filhos, Kairos traz a plenitude do momento. É um tempo sem tempo em que o inesperado acontece, a oportunidade chega, tem uma profundidade e significado.

Conseguir  viver Kairos no Chronos, ou seja, colocarmos qualidade dentro da quantidade é que é o desafio. Percebemos o tempo de diversas formas. A criança vive no aqui e agora. O jovem quer tudo para ontem, e o ancião, já aprendeu a ter paciência e a valorizar cada minuto.  A percepção do tempo também  difere quando estamos fazendo algo agradável, como estar com alguém querido e as horas voam, e quando se está fazendo uma tarefa chata, em que a hora não passa. A percepção do tempo é bem pessoal.

Para vivermos no país das maravilhas de Alice, precisamos cortar a cabeça como ordena a rainha de copas, ou seja deixarmos um pouco o intelecto de lado. Para nos deleitarmos com Kairos, precisamos sair da mecanicidade  das ações repetitivas e acordar para o tempo novo que criamos a cada instante.

Gastamos tempo e energia em assuntos que não nos levam a lugar nenhum, como fofocas e julgamentos. Ocupam a mente impedindo-a de criarem pensamentos e ações mais construtivas. Por outro lado, é comum pensar que algumas coisas são perda de tempo, quando na verdade é um investimento. Eu costumava dar treinamento em multinacionais para aperfeiçoamento de equipes, algumas pessoas tinham dificuldade de aceitar parar de trabalhar para investir numa melhoria. Da mesma forma que o músico precisa parar para afinar o instrumento, os profissionais precisam parar para afinar seu próprio ser. Podem estar perdendo tempo para solucionar um problema, que uma outra equipe já solucionou, então dialogar sobre o trabalho pode ser uma grande economia de tempo.

Para saber se está fazendo o investimento de tempo, certo na sua vida faça o seguinte exercício: Imagine se estivesse hoje no seu último dia de vida, e não há mais tempo. O que você teria deixado de lado? Após essa reflexão, a direção da sua energia pode mudar para o que realmente importa pra você, então mãos à obra.

Podemos dividir o tempo em 3:  tempo de trabalho, de lazer e de investimento. Existe uma proposta de um sociólogo italiano, Domenico De Masi, que propõe o Ócio Criativo, onde o lazer pode produzir idéias inovadoras. Quando temos um problema e  ficamos em cima dele, a solução não vem. Ao nos distrairmos, caminhando na natureza, assistindo um filme, lendo um livro, nos desligamos do problema e permitimos nossa mente, criar. Paradoxalmente, quando se relaxa, saimos da ansiedade opressora e tudo começa a fluir.

De Masi ainda vai mais além: “O futuro pertence a quem souber libertar-se da idéia tradicional do trabalho como obrigação ou dever e for capaz de apostar numa mistura de atividades, onde o trabalho se confundirá com o tempo livre, com o estudo e com o lazer, enfim com o “ócio criativo”. 

Existe um movimento iniciado na Itália das “cidades lentas” (Città Slow) que teve início com a campanha das Slow food que nasceram em contrapartida dos Fast foods.  Esse movimento se tornou uma categoria e um selo de qualidade. Valores como sustentabilidade para a natureza e as próximas gerações passam por uma filosofia onde comunidades tem suas identidades próprias, espaços verdes de convivência, menos trânsito e barulho e mais saúde pode ser uma ótima inspiração para nossa cidade que já é abençoada com belíssima natureza e se tornar cada vez mais um excelente lugar para se passar o tempo.
Sílvia Rocha - Psicóloga, crp: 05/21756 Arteterapeuta
 

 

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