sábado, 2 de maio de 2009

Carências e carícias

Carências e carícias

“Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas. E é tão bonito quando agente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá. É tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pensa estar.” – Gonzaguinha

O conceito de carícia vem da Análise Transacional, e significa qualquer estímulo social dirigido de uma pessoa a outra, havendo com isso um reconhecimento pelo primeiro da existência do segundo. Todos os seres humanos possuem esta necessidade de modo que quem dá a carícia também a recebe, assim como é impossível abraçar sem ser abraçado.
Segundo pesquisas, bebês nos primeiros anos de vida, dificilmente sobrevivem se não receberem um mínimo de estimulação física afetiva. Desta forma, as carícias estão para o corpo emocional assim como os alimentos estão para o corpo físico.
Nas tribos do norte da Africa do Sul, a saudação mais comum, que corresponde ao nosso olá, é uma expressão que significa “Te vejo”. A retribuição a esta saudação é “estou aqui”. A troca é importante, porque até você me ver eu não existia antes. É como se você ao me ver me fizesse existir.
As carícias ou estímulos podem ser: físicos, como um toque, um abraço, um beijo; verbais, como os elogios e frases de encorajamento ou escritas. Podem ser positivos, trazendo bem-estar e conforto, ou negativos - quando dói ou causa desconforto. É preferível recebermos carícias de qualquer tipo, até mesmo negativas; o pior é a ausência de reconhecimento, como no velho ditado: “Falem mal mas falem de mim” ou no comportamento de uma criança que faz bagunça para levar uma bronca.
Carência é exatamente aquilo que se sente quando a pessoa não recebe o que necessita, ficando um vazio interior a ser preenchido. O problema começa quando há a tentativa de preencher o vazio com algum vício, seja bebida, drogas, comida, sexo, trabalho excessivo, etc.
Segundo Steiner, tivemos uma educação emocional antagônica ao que necessitaríamos para a nossa nutrição emocional. Ele chamou de leis de economia de estímulos ao conjunto de mensagens que recebemos ao longo da vida e que impedem de trocar estímulos.
1. Não dê carícias
Existe uma crença de que se eu expressar que gosto daquela pessoa ou se dou um elogio, os outros vão pensar que tem algo de interesse meu por trás, então é melhor ficar calado.
2. Não receba carícias
É muito comum ao receber um elogio, uma pessoa dizer “São seus olhos”, ou “foi baratinho” à roupa que o outro está elogiando. Assim, não se recebe a carícia que o outro está oferecendo. Muita gente hoje está carente porque está incapacitada de recebê-las.
3. Não peça carícias
A crença é de que o outro tem que adivinhar o que eu quero, senão perde a graça. Ou, se eu pedir os outros vão achar que eu estou carente.
4. Não dê carícias a si mesmo Nossa cultura não permite muito estas paradinhas para auto-abastecimento, gerando uma culpa em quem se dá carícias.
5. Não recuse carícias negativas
.Por que é melhor do que não receber nada, então engulo sapos.

Para reverter este quadro de escassez de carícias é só cortar os “nãos” de cada frase acima e passar a dar, receber e pedir aquilo que se está precisando. Em umas pessoas mais do que em outras estas leis interferem na qualidade do contato humano. Começar a fazer elogios ou estimular alguém que antes você só reclamava ou ignorava é um bom começo. O mais importante é ser sincero. Se for algo forçado, vai ficar incongruente e a pessoa que receber, vai ficar confusa com a dupla mensagem. Confiar que um ser humano é capaz é a maior força que você pode dar a ele da mesma forma que você gostaria que fizessem a você. É bem viável optar pela abundância de afetividade e espalhar amor e carinho por onde quer que você vá.
Sílvia Rocha ( setembro de 2003)

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