sábado, 2 de maio de 2009

Dar limites

Dar Limites: Função da raiva


O animal vai rosnar se pegam sua comida, mexem com seus filhotes ou ameaçam seu território. Nos seres humanos, a energia da raiva acontece quando ocorrem um sentimento de violação, seja na invasão do seu espaço, do seu tempo, do respeito ou do seu amor-próprio. Ao contrário dos animais temos a opção de pensar e refletir sobre a melhor forma de se posicionar e impor limites.
Caso esta forma não seja encontrada, a raiva reprimida pode vir a se acumular ocasionando uma explosão emocional não adequada, violenta e agressiva. Ou, pode ser expressa pelo corpo através das somatizações: dores de cabeça, úlceras, e até mesmo o câncer (raiva acumulada durante anos - ressentimento), etc.

Dizer não
Quem não sabe dizer não, acaba assumindo uma carga muito pesada para si. Dizer não, é assumir que seu braço alcança até aqui e ir além não dá. É reconhecer a condição humana e respeitá-la.
No trabalho, mais vale um empregado que assume as responsabilidades que ele pode realizar com qualidade e saúde, do que aquele que é cobrado ao extremo, se estressando, adoecendo e o desempenho caindo.
Dizer não, pode ser difícil quando é associado com rejeição. “O outro vai achar que estou de má vontade com ele.” Se for dito com tranquilidade, o outro pode vir a admirar seu profissionalismo e auto-respeito. Isto é um ato de maturidade.

Auto-estima e egoísmo
Egoísmo é quando você só olha para você e danem-se os outros. Amor próprio é quando você se cuida antes de cuidar do outro. Ninguém pode dar o que não tem. Às vezes, cuidar do outro significa se abandonar porque você simplesmente não pode. Quanto mais você se ama, mais você pode amar o outro.

O limite de cada um
Cada pessoa possui um espaço sagrado. É preciso que cada um o conheça e o respeite antes de querer que o outro o faça. Isto se manifesta nos seus gostos, na hora que você escolhe para dormir, na quantidade de trabalho que você se propõe a realizar, no quanto você se dedica a um lazer, no tempo de estudo e na hora de você ficar com você mesmo. Quando você não sabe nada disto, você é levado pelo outro, confundindo o seu querer. É a chamada simbiose. Auto-conhecimento é a saída. Individualidade não é individualismo.
Quando este contorno do espaço sagrado não está muito bem definido, é comum também as pessoas necessitarem de auto-afirmação. “Eu só faço o que eu quero.” Típico da adolescência em que é preciso testar os limites que estão se construindo. Quando a pessoa se tem, pode abrir mão ou adiar uma vontade, sem se sentir lesada.

Quando a raiva é amor
É preciso de muita honestidade emocional para dizer que hoje você quer ficar sozinho, ou que hoje você quer fazer um programa diferente. O ganho disto é uma relação verdadeira e de confiança, em que o outro sabe que você está do lado porque quer e não porque se sente obrigado. Toda vez que você faz algo contrariado, a raiva vem porque você está passando do seu limite.
A pessoa que não expressa raiva, geralmente é uma pessoa apática ou deprimida – que volta a raiva contra si própria. Ela precisa de ajuda para se amar e se posicionar no mundo.
As crianças necessitam de limites, tal qual o rio precisa de duas margens para poder fluir. Limite dá direção. Demais, reprime. Escasso, a criança se perde.
Quando duas pessoas inteiras se encontram, não há preocupações de querer agradar. Negociações acontecem de forma inteligente, sem manipulações.
A partir dos limites, podemos ser livres pois reconhecemos nossos espaços.
Usando a raiva de forma consciente e inteligente, dizemos não ao que não é bom, como a violência. Desta forma, será possível abrir espaço no mundo para semear um clima de mais respeito, compaixão e paz.
Sílvia Rocha (outubro de 2002)

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