sexta-feira, 1 de maio de 2009

Quando coração e razão estão na contra-mão

Quando coração e razão
estão na contra-mão

“Eu me contradizo porque sou vasto”- Fernando Pessoa

Não raro ocorrem situações onde o coração e razão realmente não se entendem. Frente a esta encruzilhada, é comum as pessoas vacilarem, paralizarem ou enlouquecerem. O que fazer? Dar ouvidos a um e ignorar a presença do outro? É possível conciliar?
Estes conflitos são fáceis de encontrar nesta cultura que separa a mente do corpo. Não se aprende a reconhecer emoções e o que fazer com elas. Pensamentos quase sempre são fruto de crenças pré-estabelecidas sobre o que é certo, ao invés de uma reflexão individual com uma tomada de consciência.
E ainda, quando algo sai fora do esperado ou pretendido, a auto-cobrança invade em diferentes níveis de auto-julgamento. Paradoxos e ambiguidades são totalmente avaliados como insanos. Já não bastasse a existência do conflito, cultiva-se também a auto-acusação de estar vivendo uma contradição.
É possível mudar esta paisagem através da compreensão. Em cada ser humano existe tantos lados, fruto de estórias e visões diferentes de mundo apreendidas, que é fácil encontrar contra-sensos. E mais além: Se pensarmos cartesianamente, o conflito torna-se uma dualidade, onde só existe uma resposta certa. Sistêmicamente, um conflito pode se traduzir numa terceira forma, vindas da criatividade humana.
Contra vidas muito burocráticas, um momento conflituoso, que faz gerar adrenalina, faz qualquer um se sentir vivo. A confusão pode parecer muito atraente, no sentido da vitalidade e da permissão dada a bagunçar o que já estava enrijecido. Um pouco de loucura não faz mal a ninguém. O que se torna patológico é ter que buscar confusão para se sentir vivo. Não é preciso chegar ao nível insuportável de stress para despertar.
A inteligência está em saber valorizar a função de cada lado e como trabalharem em cooperação. Para isto, é bem vindo entrar no personagem do observador, aquele que não julga ou se envolve, apenas vê um filme passando à sua frente.
O racional pode estar teimando numa direção e a emoção pode abrir um mundo novo de sensações. Por outro lado, as emoções podem estar sendo mal administradas, causando sofrimento, a razão vem colocar os limites e as medidas.
Agora atenção: Muitas vezes achamos que estamos sendo guiados pelo coração, e estamos sendo arrebatados pela paixão cega. Todos temos a capacidade de mudar este estado. A consulta honesta e profunda ao coração, como numa meditação resgata o amor como estado de integração e plenitude. Esta fonte abundante de auto-preservação pode orquestrar sentimentos confusos, tanto chamando a razão para dar o limite, quanto ampliar pontos de vistas.
O corpo pode revelar o real desejo da alma. Basta perguntar às sensações físicas, fazendo uma leitura passo a passo neste processo.
Espaços dados à razão e à emoção, coordenados pelo corpo/alma fazem alinhar os desejos. Isto é possível com um treinamento disciplinado de auto-consciência e auto-controle. O comportamento assertivo e satisfatório não tarda a aparecer e com eles a segurança da ação correta.
Sílvia Rocha (maio de 2003)

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